Cultura

Estrela da música africana foi a atracção do Kriol Jazz Festival

O Kriol Jazz Festival (KJF) encerrou ontem com a actuação da principal estrela maliana Salif Keita. Considerada a estrela maior da música africana da actualidade, volta a actuar hoje, na cidade do Mindelo, terra natal de Cesária Évora, com quem gravou o sucesso mundial "Yamore".

06/04/2024  Última atualização 12H35
Jorge Pedro (flautista), Armando Orbón e Soren Araújo músicos que representam o ecletismo e hibridismo do festival © Fotografia por: DR

"Esta é a minha segunda viagem a Cabo Verde, a primeira foi no âmbito da minha colaboração musical com a minha `irmã´ Cesária (desejo- lhe paz), e tenho muito boas recordações disso. Desta vez, venho para dois espectáculos. Há muito tempo que ansiava estar em palco no Festival Kriol Jazz. Este país tem um lugar especial no meu coração”, disse o artista à imprensa cabo-verdiana.

O artista tem a malograda Cesária Évora como a maior referência da música de Cabo Verde. Em 2002, os artistas gravaram o single "Yamore”, que conta actualmente com mais de seis milhões de visualizações no YouTube.

"Cesária Évora tinha muita sensibilidade, achei muito familiarizada com a música africana. Ela não ficou surpresa comigo, mas eu fiquei surpreso com o seu talento, porque ela era genial”, reforçou o artista. Salif Keita gravou o seu último disco, "Un Autre Blanc”, em 2018, e aos 74 anos ainda continua activo na música a realizar concertos. "Para mim, a música é um medicamento, e se não fosse ela não estaria aqui”, afirmou.

A actuação de Salif Keita foi uma das mais aguardadas da 13ª edição do Kriol Jazz e aconteceu no final da noite de ontem, na Praça Luís Camões. Hoje, o maliano vai actuar no Mansa Marina Hotel, em Mindelo, e vai partilhar o palco com a cabo-verdiana Ceuzany.

Um dos mais aclamados cantores do mundo, Salif Keita está em Cabo Verde desde o dia 4 de Abril, tendo enaltecido à imprensa local o talento da diva Cesária Évora.

Do elenco de ontem, constam o brasileiro Hermeto Pascoal, o norte-americano Steve Coleman, o ghanense Santrofi, a banda cubana Afro Cuban Jazz, e de Cabo Verde, Tibau Tavares com Munganga Band da Áustria e Kriolatino projecto com músicos cubanos. Realizado na cidade da Praia, em Cabo Verde, o festival abriu na noite de quinta-feira com a homenagem ao músico cabo-verdiano Ney Fernandes.

Esta foi a 13ª edição do Kriol Jazz Festival, um evento produzido pela produtora Harmonia, em parceria com a Câmara Municipal da Praia, sendo o palco ideal para as sonoridades de inspiração crioula, originárias de Cabo Verde, das Caraíbas, do Oceano Índico e de África, que interagem com tradições dos EUA e da Europa numa fusão de jazz crioulo.

Fundado em 2009, o KJF oferece uma programação musical de excelência, aberta a todos os continentes, cuja riqueza e qualidade lhe garantiu a nomeação, em 2017, pela revista americana Songlines como um dos 20 melhores festivais do mundo.

Homenagem a Ney Fernandes

Ney Fernandes é um dos renomados artistas da música tradicional de Cabo Verde, foi o grande homenageado da 13ª edição do festival. A organização produziu um espectáculo no qual amigos, colegas e parentes  prestam depoimentos agradecendo-lhe pelo contributo para a cultura daquele país.

Em declarações à imprensa cabo-verdiana, Ney Fernandes afirmou que a iniciativa o faz sentir reconhecido pelo trabalho que vem desenvolvendo na área musical.

"Sinto-me valorizado pelo trabalho que tenho vindo a fazer nos últimos anos, principalmente num contexto em que percebo que as produções musicais têm estado em declínio. É necessário contribuir criando obras de qualidade capazes de influenciar, principalmente a camada jovem, a abraçar a nossa cultura musical”, revelou o cantor.

Além de compositor, militar de formação na Jugoslávia, um dos fundadores, voz e baixista do grupo Voz di FARP, que mais tarde viria a dar origem aos Djarama e ainda e Cimbodiana. Ney Fernandes toca praticamente todos os instrumentos de corda, em particular o violão.

 "Pisei o palco de Kriol Jazz na primeira edição com Mário Lúcio que é meu mentor e ainda era uma coisa bem menor e hoje estou a participar com meu próprio nome”, realçou.

Kláudio Hoshai leva cultura angolana a Cabo Verde

O encerramento da 10ª edição da feira de música Atlantic Music Expo (AME), na noite de quinta-feira, contou com as actuações do cantor angolano Kláudio Hoshai, do congolês Jocelyn Balu et Borumba e dos jovens cabo-verdianos  Elly Paris e Gerson Spencer. Estes quatro artistas africanos actuaram antes das cantoras cabo-verdianas Maura e Kátia Semedo.

Aberto na segunda-feira, o cantor e compositor angolano Kláudio Hoshai, filho de mãe cabo-verdiana, natural da Ilha do Fogo, e de pai angolano, subiu ao palco trajado a rigor, acompanhado pela banda cabo-verdiana Cartel, contagiando o público com uma performance que conquistou muitos aplausos.

O artista angolano, que reside entre Portugal e França, revelou que esta é a sua primeira vez em Cabo Verde, mas sente como se estivesse em casa devido à forma como foi acolhido desde a sua chegada.

Após o show, em declarações à imprensa, Kláudio Hoshai afirmou que estava com receio se tudo iria correr bem, mas a sua actuação correspondeu às expectativas com a ajuda da banda Cartel. Acrescentou que o sentimento foi de alegria e que esta experiência vai ser um marco na sua carreira profissional.

 "É África, não tem como ser diferente, nós nascemos com energia, está no nosso DNA. Resolvi trazer a cultura angolana para o palco do AME, porque a juventude africana de hoje está um pouco perdida. Agora, há uma tendência da música urbana ser descartável, mas mesmo assim a nossa identidade cultural continua consistente e queria que a minha actuação fosse um equilíbrio entre as músicas mais antigas e as mais modernas para preservar a nossa tradição”, sustentou o cantor.

Após a actuação do angolano, foi a vez do cantor, compositor e produtor Jocelyn Balu et Borumba inaugurar o palco da Pracinha da Escola Grande. O cantor de origem congolesa trouxe para o palco do AME muita energia, dança e música tradicional, o que levou o público a dançar ao ritmo das suas músicas. Na sequência houve ainda a actuação da cantora mindelense Elly Paris, que subiu ao palco com a música "Snap Boy”, lançada em 2019. Para encerrar o show da 10ª edição do AME, subiu ao palco o jovem músico ghanense Gerson Spencer, que surpreendeu o público com as misturas de ritmos.

Emdeclarações à imprensa depois do encerramento do AME, o director-geral, Augusto Veiga "Gugas’, avançou que se sente orgulhoso de fazer parte desta história durante estas 10 edições, mas ressaltou que esta foi a edição mais difícil de se fazer.

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