Cultura

Estratégias de Njinga Mbande contadas por escritor John Bella

Manuel Albano |

Jornalista

O livro intitulado “Os Passos Decisivos da Rainha Njinga” da autoria do escritor John Bella é lançado no próximo dia 3 de Fevereiro, às 15h00, em cerimónia a decorrer no espaço “Pôr-do-sol”, no distrito urbano do Benfica, município de Talatona, em Luanda.

30/01/2023  Última atualização 09H57
Autor lança no próximo dia 3 de Fevereiro, em Luanda, um livro sobre a rainha Njinga Mbande © Fotografia por: DR
Em declarações, ontem, ao Jornal de Angola, o autor do livro disse que aborda, exactamente, a visão estratégica e diplomática da soberana da Matamba que conseguiu o apoio dos holandeses alguns anos mais tarde, para se defender das ofensivas dos portugueses e os seus aliados, quando estes desejavam ocupar o seu território.

John Bella explica que apresenta no romance a história de resistência e as estratégicas utilizadas pela rainha Njinga Mbande, no sentido de contrapor as ofensivas dos portugueses que se uniram aos adversários de Njinga. No entanto, ressalta, a rainha, que sucedeu o irmão no trono, conseguiu estabelecer outras alianças, na qual conseguiu a aquisição de armamentos sofisticados para enfrentar o poder exército colonial português.

Do género romance, o livro vai ser apresentado pelo poeta e professor de história, Bendinho Freitas. Foi impresso pela Editora das Letras e a União dos Escritores Angolanos (UEA), e foi prefaciada pela escritora e historiadora brasileira Mariana Bracks Fonseca.

Com 504 páginas, numa edição comemorativa ao centenário do poeta, Agostinho Neto, o livro tem a ilustração da capa do artista plástico Nelo Tumbula.

O coordenador editorial da "Editora das Letras”, Trindade dos Santos, sublinhou que dos mais de 208 títulos publicados pela editora, é a primeira vez que um livro atinge o número de páginas, o que trata-se de uma edição muito significativa.

Explicou que este é o terceiro livro de John Bella sobre a soberana do Ndongo e da Matamba, depois de ter brindado os leitores com os livros "Primeiros Passos da Rainha Njinga” editado em 2011, e o "Regresso da Rainha Njinga”, no ano a seguir, tendo este último sido agraciado com o "Diploma de Personalidade de Importância Cultural”, pela União Baiana de Escritores (UBESC), no Brasil, em 2014, em cerimónia decorrida na "Casa de Angola”, na Bahia.

O acto de lançamento, disse, conta com apoio da Administração Municipal de Talatona e visa saudar o 4 de Fevereiro, data do início da Luta Armada de Libertação no país, uma vez que a Rainha Njinga a Mbande é considerada a precursora das lutas de resistência à ocupação colonial.

A actividade, frisou, está a ser promovida pela Direcção de Turismo e Cultura de Talatona com o objectivo de promover o gosto pelo livro e hábitos de leitura entre os munícipes.

 

Fonte inesgotável de inspiração

Prefaciado pela escritora e historiadora brasileira Ma- riana Bracks Fonseca, o livro "Os Passos Decisivos da Rainha Njinga”, na sua perspectiva, a soberana Njinga é "uma fonte inesgotável de inspiração". A Rainha Njinga, como é chamada na diáspora, aparece de múltiplas formas nas manifestações culturais produzidas pelos povos de Angola que atravessaram o Atlântico: na capoeira, nos congados, no candomblé, no samba...Em Angola, sua história continua motivando o povo a lutar por sua real libertação, a vencer as demandas e manter-se erguido frente às dificuldades”.

De acordo com a historiadora: "a saga da rainha guerreira é contada de forma magistral por John Bella. Neste terceiro livro que compõem a epopeia, que compreende os anos de 1630 a 1641, da conquista de Matamba à tomada de Luanda pelos holandeses, Bella apresenta as acirradas batalhas, os acordos, as estratégias de guerra e paz, a sapiência e inteligência desta mulher inigualável na História da Humanidade.” Sublinha que o "talentoso escritor deu vida aos personagens históricos, transformando a densidade da documentação em falas bem articuladas e em uma narrativa leve e envolvente. Os diálogos revelam os contrastes entre culturas europeias e africanas e nos conduzem às intensas transformações sociais pelas quais o país atravessou.”

Ao ler este romance, disse, os leitores são transportados para o século XVII, onde "sentem na pele a emoção das guerras, a ameaça da escravidão, percebemos o jogo de poder, vibramos juntos a cada avanço, torcemos pela rainha destemida e, principalmente, nos sentimos contagiados pela força e sagacidade desta mulher ímpar.”

Mariana Bracks Fonseca conta que é maravilhoso ver a história de Njinga ser escrita por um angolano, um "filho da terra”, que entende como ninguém os princípios cosmológicos, as organizações sociais e morais dos povos de Angola e presenteia os leitores com informações sobre clima, fauna, arquitectura e epistemologias angolanas. " O universo cultural angolano entremeiam a narrativa, que valoriza a língua quimbundo e os topónimos da terra e assim colabora para a descolonização da História”, destaca.

John Bella explicou que procurou os detentores das tradições orais, bebeu nas fontes do conhecimento popular, traduziu o imaginário colectivo acerca da famosa rainha, sabendo articular muito bem os saberes locais à pesquisa documental historiográfica, recorrendo aos arquivos e bibliografias de forma plena.  "Com sua escrita inteligente, o escritor nos faz reflectir sobre como a história da África foi construída a partir dos interesses europeus e instiga os leitores a transformar as interpretações, a questionar as interpretações e repensar os factos”.

A docente disse que o resultado é um livro cheio de emoção, em que a rainha é apresentada em toda dimensão humana e heróica, que revela contradições e singularidades. Em "Os Passos Decisivos da Rainha Njinga”, ressalta, o autor do livro coloca os leitores "ao encontro com a grande líder, aquela que sabe como agir, anima seu povo, sabiamente articula a resistência, pensa com estratégia, calcula, enfrenta os desafios e vence.” Sublinha que o livro de John Bella em muito contribui para o entendimento do legado de Njinga, dentro e fora de Angola, sendo especialmente, importante para os afrodescendentes na diáspora. "Que a Ngola continue inspirando gerações, que sua trajectória guerreira continue a motivar lutas incessantes pela liberdade”.

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