A ministra das Finanças chefiou uma delegação angolana que participou, desde segunda-feira passada até domingo, em Washington, nas reuniões de Primeira do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista à Rádio Nacional e ao Jornal de Angola, Vera Daves de Sousa fez um balanço positivo das reuniões – oitenta, no total –, sendo que, numa delas, desafiou a Cooperação Financeira Internacional (IFC) a ser mais agressiva e ousada na sua actuação no mercado angolano. O vice-presidente da IFC respondeu prontamente ao desafio, dizendo que até está a contar ter um representante somente focado em Angola e não mais a partilhar atenção com outros países vizinhos na condução local do escritório do IFC. Siga a entrevista.
Kaissara é um poço de revelações quase inesgotável, como a seguir verão ao longo desta conversa, em que aponta os caminhos para um futuro mais consequente da modalidade; avalia o presente das políticas adoptadas sobre a massificação e formação. Mostra-se convicto de que o país pode, sim, continuar a ser a maior potência africana do Hóquei em Patins
Mais de 10,6 milhões de pessoas no mundo estão infectadas pela doença de tuberculose. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) está a trabalhar, de forma urgente, para produzir e entregar aos países-membros novas vacinas contra a doença, com o objectivo de se limitar o risco de desenvolver a infecção e prevenir as formas mais graves da enfermidade, uma vez que o surgimento da pandemia da Covid-19, os números de mortes e de pessoas infectadas pela tuberculose aumentaram na ordem dos 4,5 por cento.
Em alusão ao Dia Mundial da Tuberculose, o Jornal de Angola entrevistou o oficial de Saúde Nacional da OMS para o Programa de Doenças Tropicais, de Transmissão Vectorial e Tuberculose, Nzunzi Katonde
A tuberculose tornou-se uma crise de saúde pública global, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), por causa da Covid-19. Qual é a actual realidade da doença no globo?
Sim, com a Covid-19, a tuberculose voltou a crescer no mundo. O número de casos e as mortes aumentou. Dados referentes ao ano de 2021 indicam que cerca de 10,6 milhões de pessoas estão infectadas pela doença, significando um aumento de 4,5 por cento em relação a 2020. Também foram registados 1,6 milhão de mortes, incluindo 187 mil casos positivos para a Covid-19.
Em Angola, o que dizem as estatísticas sobre a tuberculose?
Em Angola, a taxa de incidência de novos casos de tuberculose, em 2021, era de 325 casos por 100 mil habitantes contra 329, em 2020, e 351 por 100 mil habitantes, em 2019. Isto mostra uma tendência contrária, comparando a tendência mundial, na altura da pandemia de Covid-19. De igual modo, a evolução de mortes pela doença por 100 mil habitantes tem tido tendência regressiva: 51 casos, em 2021, contra 55 em 2020. Mas, apesar desta tendência regressiva, a tuberculose continua a ser um dos maiores problemas de saúde pública em Angola, por isso, aproveito acentuar que a subnotificação de casos e mortes foi um dos grandes desafios durante a pandemia de Covid-19. O Programa Nacional de Controlo da Tuberculose é habilitado para compartilhar dados do país.
Há números mais reais ou estimativas de pessoas infectadas em Angola?
Geralmente, nos últimos anos têm sido mais de 60 mil pessoas por ano. Em 2020, foram notificados 66.058 casos de tuberculose, dos quais 95,6% eram casos novos e 4,4% recaídas, que foram submetidos a novo tratamento. Em 2021, a tendência da carga da doença mantém-se em relação ao ano anterior, assim como a proporção de 12,0% dos pacientes de VIH positivos, com aumento da percentagem de casos de recaídas para 8,7%. E, no mesmo ano, foi notificado um total de 63.970 casos de TB de todas as formas, entre eles 50% homens, 39% mulheres e 11% crianças maiores de 15 anos.
Em 2014, os países da Região Africana concordaram em reduzir as mortes por tuberculose em 75% e para metade o número de novos casos da doença até 2025. Qual é o quadro hoje?
Sim, isto tem a ver com a Estratégia de se acabar com a tuberculose. E esta estratégia visa pôr fim à epidemia, contando com uma abordagem abrangente que combina intervenções de saúde e as de carácter social. Também visa promover a prevenção da tuberculose, mas, para tal, necessita da participação de todas as partes interessadas. A senhora jornalista fez referência às metas intermediárias 2016-2025 desta estratégia, e devo dizer que elas são três metas essenciais: a primeira tem a ver com a redução da taxa de incidência de tuberculose, comparado a 2015, de 50% em 2025. A situação actual indica que em todo o mundo, de 2015 a 2020, houve uma redução de 11% (contra os 20% esperados) de taxa de incidência da doença. Logo, se percebe que está a diminuir em aproximadamente 2% em realção aos anos anteriores.
Qual é a segunda meta da OMS?
A segunda meta está relacionada com a redução do número de mortes por tuberculose, comparado a 2015, de 75% até 2025. Mas, como vimos, em 2021, houve um aumento da mortalidade em todo o mundo. Já a terceira meta é apoiar famílias que têm tido custos catastróficos associados ao combate da tuberculose.
Em relação a essas metas, qual é a situação de Angola?
Em Angola, de 2016 a 2021, houve uma diminuição do número de mortes em 9,9% e de 11,2% em novos casos de tuberculose. A meta esperada era de mais de 20% de redução no número de novos casos em 2021. Gostaria de destacar que, além das metas intermediárias, existem, também, as metas globais até 2030 e 2035, respectivamente. Tomando sempre em conta as novas ferramentas recomendadas pela OMS, entre elas as vacinas eficazes antes e após a exposição, testes no local de atendimento, regimes de tratamento de menor duração, etc..
No que diz respeito às metas globais, que estratégias
deverão ser adaptadas em África e, em Angola,
particularmente?
Existem dez componentes principais que devem ser respeitadas pelos países-membros da OMS, que estão relacionadas com o diagnóstico precoce da tuberculose (incluindo teste universal de susceptibilidade a medicamentos). O segundo é a triagem sistemática de contactos e grupos de alto risco e o tratamento de todas as pessoas com a doença (incluindo tuberculose resistente a medicamentos) e apoio ao paciente. A terceira componente é realizar actividades colaborativas de tuberculose e VIH e gestão de comorbidades. A quarta meta é o tratamento preventivo de pessoas de alto risco e a vacinação contra a tuberculose. A quinta componente é o compromisso político e os recursos adequados para o atendimento e a prevenção, enquanto o sexto tem a ver com a mobilização das comunidades, organizações da sociedade civil e prestadores de cuidados públicos e privados. Já a sétima são as políticas de Cobertura Universal de Saúde (CUS) e marcos regulatórios sobre a notificação de casos, registo civil, qualidade e uso racional de medicamentos e controlo de infecções.
A essa lista tem mais três outras componentes. Quais são?
Sim. Como referi, a oitava componente é sobre a protecção social, redução da pobreza e acções sobre outros determinantes da tuberculose. A nossa nona meta cinge-se na descoberta, desenvolvimento e rápida adopção de novas ferramentas, intervenções e estratégias, enquanto a última diz respeito à pesquisa, para optimizar a implementação, impacto e promoção da inovação. E, cabe ao Ministério da Saúde, por intermédio do Programa Nacional de Controlo da Tuberculose e apoio de parceiros, deverá monitorizar e avaliar a implementação de todas essas actividades.
O país figurava até 2021, segundo as Nações Unidas, entre os 30 países com mais casos da doença. Quais são, hoje, as tendências da tuberculose em Angola?
Em Angola, a TB é um problema de saúde pública. É, actualmente, a terceira causa de morte no perfil epidemiológico do país. Mas, o Plano Nacional de Controlo de Tuberculose (PNCT) visa a redução da carga da doença, através da implementação das estratégias recomendadas pela OMS, sobretudo a Estratégia "Acabar com a Tuberculose”, que tem por objectivo acabar com a epidemia global.
E o que isto implicaria na prática?
Implica reduzir a incidência de tuberculose em 80%, reduzir as mortes causadas pela doença em 90%, eliminar os custos catastróficos para as famílias afectadas pela tuberculose até 2030. Na verdade, trata-se das metas globais até 2030. Mas, as intervenções devem ser transversais e com a participação de todos nós.
O não acesso aos cuidados médicos, durante os primeiros sintomas, ainda prevalece como o principal problema da incidência dos casos?
Sim. É ainda um dos principais problemas. Nós, os profissionais de Saúde Pública, devemos ir ao encontro das comunidades e não esperar que sejam as comunidades a virem até nós, porque nós não somos clínicos.
Entre a população, quem corre mais riscos de contrair a doença?
A tuberculose afecta, principalmente, adultos em seus anos mais produtivos. No entanto, todas as faixas etárias estão em risco. Mais de 80% dos casos e mortes ocorrem em países de baixa e média rendas. Pessoas infectadas com VIH têm 16 vezes mais chances de desenvolver a tuberculose activa, assim como pessoas que sofrem de outras patologias que prejudicam o sistema imunológico. Podemos acrescentar aqui pessoas com desnutrição, que correm três vezes mais risco. Globalmente, em 2021, houve 2,2 milhões de novos casos de tuberculose atribuídos à desnutrição. O transtorno por uso excessivo de álcool e o tabagismo, também, aumentam o risco de contrair a doença e outros factores de risco como são os casos das moradias precárias, condições de trabalho inadequadas ou de serviços de saúde inacessíveis.
A associação entre a tuberculose e o VIH-Sida é uma das combinações mais problemáticas. Que medidas existem para remediar e contrapor essa realidade?
De facto, e como já disse acima, pessoas infectadas com VIH têm 16 vezes mais chances de desenvolver a tuberculose activa. A região africana da OMS tem a maior carga de tuberculose associada ao VIH. No geral, em 2021, apenas 46% dos pacientes com tuberculose conhecidos como vivendo com VIH estavam em tratamento antirretroviral. E, a OMS recomenda uma abordagem de 12 componentes de actividades colaborativas da tuberculose e VIH, incluindo acções de prevenção, tratamento de infecções e doenças, para reduzir as mortes. Em Angola, o Programa Nacional Contra a Tuberculose e o Instituto Nacional de Luta contra Sida trabalham em conjunto na implementação destas actividades colaborativas.
Quando o país poderá ter números de infecções que o ajudarão a sair da lista dos piores em matéria de prevalência de casos?
Em poucas palavras, temos de envidar esforços para alcançar as metas estabelecidas no âmbito da estratégia "Acabar com a tuberculose” acima referenciadas e a luta contra a doença deve ser uma prioridade nacional, mas de todos os angolanos.
Apesar de ser tida como a doença mais infecciosa do mundo, a TB é ou não passível de ser erradicada?
Hoje, a OMS definiu como objectivo estratégico a erradicação de certas doenças como a poliomielite, bouba e verme da Guiné ou dracunculose, esta última prevalente na província do Cunene. Trata-se de uma meta muito ambiciosa e desafiadora. Na história da humanidade, só conseguimos erradicar uma única doença, que é a varíola. Logo, a erradicação consiste em acabar com a transmissão de uma doença a nível mundial. E, ainda, não chegamos na fase de erradicação da tuberculose. Logo, a estratégia "Acabar com a tuberculose” visa a redução significativa da sua carga até 2030.
Nalguns casos, a doença é resistente. Que processos terapêuticos são usados nessas particularidades?
Quando alguns bacilos sofrem mutações espontâneas, adquirem resistência à acção dos medicamentos e, isso, acontece, principalmente, se o tratamento não for correcto ou se houver abandono da medicação. A tuberculose multirresistente (TB-MR) é uma forma de TB causada por bactérias que não respondem à isoniazida e à rifampicina, sendo estes dois fármacos de primeira linha, os mais eficazes para se combater a doença. A TB-MR é tratável e curável com o uso de medicamentos de segunda linha. No entanto, as opções de tratamento de segunda linha são limitadas e requerem quimioterapia extensa (de pelo menos nove meses e até 20 meses de tratamento) com medicamentos caros e tóxicos.
Além desses tipos de resistência aos medicamentos, há outras mais extensas?
Em alguns casos, há resistência mais extensa aos medicamentos que um doente pode desenvolver. A tuberculose causada por bactérias que não respondem aos medicamentos de segunda linha mais eficazes para a tuberculose pode deixar os pacientes com opções limitadas de tratamento. Em todo o mundo, em 2019, a taxa de sucesso do tratamento de pacientes com TB-MR e TB-RR foi de 60%. Em 2020, a OMS recomendou um novo regime mais curto (de nove a 11 meses) e totalmente oral para pacientes com TB-MR.
Quantas pessoas desenvolveram a tuberculose resistente no mundo?
Cerca de meio milhão de pessoas no mundo desenvolvem a tuberculose resistente a medicamentos todos os anos. A Tuberculose Multidroga continua a ser uma crise de saúde pública e uma ameaça à segurança da saúde. Em Angola, em 2021, tínhamos uma incidência de TB-MR/RR de 5.600 novos casos, ou seja, é uma incidência de 16 novos casos por 100 mil habitantes.
Depois desse cenário aqui apresentado, para quando a promoção de campanhas alargadas da vacinação da BCG (Bacilo de Calmette e Guérin), indicada para prevenir as formas graves da tuberculose?
A vacinação com BCG é uma forma de proteger contra a doença, porque limita o risco de desenvolver a infecção e prevenir formas graves de tuberculose em crianças, e a eficácia desta vacina varia de 75 a 85%. E vale dizer que a BCG é, actualmente, a única vacina licenciada contra a tuberculose. Embora forneça eficácia moderada na prevenção de formas graves de TB em bebês e crianças pequenas, não protege adequadamente adolescentes e adultos, que representam cerca de 90% das transmissões de TB em todo o mundo. A OMS está a trabalhar para o desenvolvimento urgente e pela entrega de novas vacinas contra a tuberculose.
Quais os fundamentos que ditaram a escolha do lema "Sim! Podemos Acabar
com a Tuberculose!”
neste 24 de Março de 2023?
O Dia Mundial da Tuberculose 2023 tem esse tema "Sim! Podemos Acabar Com a Tuberculose!” para transmitirmos esperança, encorajar a liderança de alto nível, aumentar investimentos, aceitação mais rápida das novas recomendações da OMS, adopção de inovações, acção acelerada e a colaboração multissetorial para combater a epidemia de tuberculose.
Ministério da Saúde expande rede de serviços de diagnóstico
O Ministério da Saúde (MINSA) está a desenvolver um plano de expansão da rede dos serviços da tuberculose em todas as unidades sanitárias de nível primário, com vista a melhorar o diagnóstico precoce de casos, anunciou, ontem, em Luanda, a coordenadora interina do Programa Nacional de Controlo da doença.
Ana Paula Silva referiu que, no âmbito do referido programa, o MINSA pretende, igualmente, aumentar os níveis de cura de pacientes e reduzir significativamente a taxa de 15 por cento de abandono.
A epidemiologista, que falava em torno do Dia Mundial da TB, que se comemora hoje, garantiu que o Ministério está a implementar uma série de projectos para melhorar o seguimento/acompanhamento e busca activa de pacientes na rede de serviços da tuberculose.
Outro trabalho que o sector tem estado a desenvolver, acrescentou a coordenadora interina, tem a ver com a captação de contactos e o seguimento das pessoas com síndrome respiratória, para evitar que evoluam para tuberculose.
Os dados da Direcção Nacional da Saúde Pública, avançados por Ana Paula Silva, referem que 68.839 novos casos da doença foram diagnosticados no ano passado, dos quais 516 pacientes acabaram por morrer.
A coordenadora interina explicou que a tuberculose tem estado a afectar todos os grupos etários, com particular realce às crianças dos zero aos quatro anos, com um registo de 2.232 novas infecções, e dos cinco aos 14 anos, com 4.506 novos casos.
Já na faixa etária dos 15 aos 24, foram diagnosticadas 15.884 novas infecções, enquanto que o grupo dos 25 aos 34 anos (sexo masculino) é o que mais afectados regista, com um total de 9.873 novos casos, e o feminino 6.765 diagnósticos.
Em relação à província com maior número de casos, Ana Paula Sílvia, disse que Namibe lidera a lista, com uma taxa de 445% de infecções, seguida do Bengo, Benguela e Luanda.
A especialista em Epidemiologia frisou que os factores de risco que levam essas províncias a estarem à frente da lista são a má nutrição, uso excessivo do álcool, tabaco, má alimentação, poluição ambiental ou sistema de saneamento básico deficitário, entre outras determinantes sociais.
Taxa de abandono
A epidemiologista salientou que, atendendo ao tempo longo de tratamento da doença, de seis meses a um ano, muitos pacientes acabam por fugir dos hospitais, atitude que causa a elevação da taxa de abandono para 15%.
"Esses pacientes podem evoluir para uma tuberculose resistente e outros acabam por morrer”, lamentou a médica, para aconselhar que os doentes devem cumprir à risca com o tratamento e esperarem pela decisão final do médico sobre a cura ou não, após o exame bacteriológico.
Apesar destas desistências à medicação, Ana Paula Silva realçou que o número de pacientes curados é elevado, muito embora não o tenha precisado. "É o resultado dos trabalhos de sensibilização nas comunidades”, disse.
Sobre a medicação, a responsável garantiu que a distribuição em todas as unidades hospitalares é regular e os pacientes recebem-no a custo zero até terminarem o período terapêutico.
O Dia Mundial da Tuberculose foi instituído em 1982, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em homenagem aos 100 anos de anúncio da descoberta do bacilo causador da tuberculose, ocorrida a 24 de Março de 1882, pelo médico alemão Roberto Koch.
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