Política

Estados Unidos reiteram apoio aos esforços de Angola na melhoria das condições de vida das populações

Nilza Massango

O embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) em Angola e São Tomé e Príncipe, Tulinabo Mushingi, disse, ontem, em Luanda, que o seu Governo vai continuar a apoiar os esforços de Angola para a melhoria das condições de vida das comunidades, protecção dos ecossistemas regionais e global, para responder às alterações climáticas.

18/05/2023  Última atualização 08H10
Projecto regional financiado pelos EUA é lançado numa altura em que os dois países celebram 30 anos de relações diplomáticas © Fotografia por: Dombele Bernardo | Edições Novemvro
Tulinabo Mushingi reafirmou o compromisso do seu Governo no lançamento do projecto "Ecossistemas, Comunidades e Clima do Cubango-Okavango”(ECCO), no Hotel Intercontinental, em que participaram, entre outros, a secretária de Estado para Acção Climática do Ministério do Ambiente, Paula Cristina Francisco Coelho, e o secretário de Estado para as Florestas, André de Jesus Moda.

Para o diplomata, o projecto "Ecossistemas, Comunidades e Clima do Cubango-Okavango” representa, mais uma vez, o compromisso dos Estados Unidos da América (EUA) de continuar a trabalhar com o Governo angolano nos diferentes domínios.

Segundo Tulinabo Mushingi, o lançamento do referido projecto ocorre numa altura em que os dois países celebram, esta semana, 30 anos de relações diplomáticas, o que caracteriza mais um exemplo das várias áreas de cooperação em curso e em rápida expansão entre os EUA e Angola.

"Nós, nos EUA, acreditamos que todos podemos aumentar o crescimento económico  e proteger o ambiente ao mesmo tempo, agora e no futuro”, argumentou, realçando a seguir: "É, igualmente, convicção nossa de que as soluções locais são essenciais, razão pela qual o projecto ECCO vai apoiar a governação liderada pela comunidade dos serviços de abastecimento de água e saneamento”.

Todo o trabalho, referiu Tulinabo Mushingi, vai ser feito em estreita colaboração com o Governo angolano, para apoiar  os objectivos do Plano de Desenvolvimento Nacional através da assistência às cooperativas de pesca, agricultura, silvicultura e criação de oportunidades de capacitação, que vão beneficiar mulheres, jovens e demais populações vulneráveis.

Tulinabo Mushingi, ao fazer referência aos ricos ecossistemas que Angola possui, com recursos hídricos abundantes e que fornecem cerca de 95 por cento da água que sustenta mais de 1 milhão de pessoas, apontou o facto da região albergar vastas reservas de zonas de turfeiras, recentemente descobertas, que são fundamentais na ajuda para o combate às alterações climáticas.

Com o projecto, o Governo norte-americano pretende, também, promover o investimento naquela região ecológica  das nascentes da bacia do rio Cubango-Okavango, sendo, também, importante por se caracterizar num projecto regional, que vai abranger  e garantir, além de Angola, a sustentabilidade  dos meios de subsistência das populações  dos países vizinhos da Namíbia e Botswana.

Sendo a protecção das nascentes das águas do Okavango, em Angola, uma exigência global, por este facto, disse Tulinabo Mushingi, os EUA estabeleceram,  no ano passado, uma parceria com a organização global The Nature Conservancy e parceiros locais  para o desenvolvimento do projecto ECCO.

No seu discurso, frisou o facto do Delta do Okavango ter sido declarado, em 2014, Património Mundial da UNESCO, e reconhecido como Património Cultural e Ambiental de importância no mundo.

Com um financiamento de 7,5 milhões de dólares por parte do Governo americano, e mais 10 milhões de dólares garantidos pelo sector privado, o projecto conta, ainda, com o apoio de diferentes parceiros nacionais e internacionais.

 

Actividades do ECCO

As acções do projecto Ecossistemas, Comunidades e Climas do Cubango-Okavango (ECCO) centram-se no empoderamento das mulheres e inclusão social, através de sistemas de energias renováveis de baixo impacto, como micro-redes solares. São actividades que vão ajudar a impulsionar o desenvolvimento e limitar o impacto ambiental negativo.

Os agricultores vão ser apoiados a melhorar a forma como plantam, cultivam e colhem os produtos, de modo a obterem rendimentos mais elevados e causar menor danos ao ambiente.

No sector das Pescas, o projecto vai permitir que os pescadores possam escolher métodos que aumentem as  capturas e, ao mesmo tempo, preservar as principais pescarias.

Com o projecto, as empresas que comercializam produtos florestais vão poder adaptar as produções preservando as matérias-primas para o futuro.

No geral, o objectivo do referido projecto é o de aumentar significativamente a capacidade das pessoas  que vivem nessas regiões a enfrentar as alterações climáticas de forma sustentável, promovendo simul- taneamente as contribuições de Angola para o Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas.

 

Parceiros do projecto

Entre os presentes no acto de lançamento do ECCO, estiveram os embaixadores em Angola do Reino Unido, Zâmbia, Namíbia, e o director executivo da  The Nature Conservancy (TNC) para África, Ademola Ajagbe.

A TNC é uma organização global com a missão de conservar as terras e as águas. A referida organização lidera a implementação do ECCO com parceiros como Organizações Não-Governamentais  como a ACADIR, ADPP e Development Workshop, instituições transfronteiriças  como a Comissão Permanente da Bacia do Rio Okavango (OKACOM), e o sector privado como a Gesto, BCP, CQuest Capital, Sun África e KixiCrédito.

Em África, a TNC trabalha em parceria  com os Governos e Organizações Não-Governamentais locais, partilhando ferramentas técnicas, habilidades e recursos para aumentar a escala do impacto e implementar soluções que preservem a natureza e melhoria de vida das pessoas.

A apresentação das actividades do projecto coube à directora do projecto ECCO, Yara Lourenço. No evento, foram ainda apresentados casos de sucesso de famílias na província do Cuando Cubango, que viram as vidas melhoradas em função dos vários projectos do mesmo cariz que o ECCO.

  Adaptação das comunidades às alterações climáticas

A secretária de Estado para Acção Climática, Paula Francisco Coelho, procedeu ao encerramento do evento, tendo feito referência à realização de um workshop técnico sobre o projecto, no período da tarde, no Hotel Trópico, com o fim de  apresentar aos Ministérios.

Por seu turno, o director  nacional da Acção Climática e Desenvolvimento Sustentável do Ministério do Ambiente, Luís Constantino, apontou o projecto como mais um meio que vai certamente reforçar a capacidade adaptativa das comunidades e a resiliência das mesmas.

"Os efeitos das alterações climáticas já se observam no Cuando Cubango e em outras regiões do país. Trata-se de uma província muito rica em termos de recursos naturais, incluindo o clima, mas dado o que se observa em termos de alterações climáticas, já se sentem os efeitos, como as secas cíclicas, que acontecem  com maior incidência no Sul do país. Daí a necessidade de se implementar projectos como o ECCO”, disse, acrescentando que existe, também, o problema sério da  desertificação, que acaba por estar ligado com a questão das alterações climáticas, um fenómeno que está em quase todo o país, com maior incidência no litoral.

Apontou, também, para  a questão do desmatamento desenfreado, em consequência do que as populações têm feito na floresta, sobretudo as queimadas, que é uma realidade no país, ressaltando que o Ministério do Ambiente procura trabalhar por via do Fundo  Verde para o Clima, a fim de obter um financiamento para elaborar um projecto que tem a ver com a gestão sustentável de fogos, uma vez que as queimadas também são problemas que ocorrem no país. 

Além do projecto de gestão sustentável de fogos, que está a ser desenhado, informou sobre outro denominado "Projecto de Impacto”, também de carácter transfronteiriço, que vai ser implementado com a Namíbia e demais países da região.

"Angola enfrenta problemas sérios de queimadas. Essa realidade é visível para quem se desloca da província da Huíla para o Namibe, podendo observar o fenómeno, assim como do Huambo para o Cuando Cubango, e de Luanda para o Uíge, por via Bengo”, apontou, acrescentando que se trata de um problema que está generalizado no país e que , até então, as medidas são locais, em que os Governos regionais devem engajar-se mais, sem esperar a solução a nível do órgão central.

O ECCO,  segundo Luís Constantino, é mais um dos projectos que Angola tem para combater ou contrapor a questão das alterações climáticas. O país tem aprovado, desde 2022, a Estratégia Nacional para as Alterações Climáticas, que assenta em cinco pilares estratégicos, dos quais dois têm muito a ver com a questão das alterações climáticas.

Muito antes da referida estratégia, refere, em 2011, o país elaborou e aprovou o Programa Nacional da Adaptação, que apontava as necessidades imediatas de adaptação.

Com base nesse documento, explicou, foram desenhados vários projectos, muitos deles implementados e outros em curso, sendo todos voltados para adaptação às alterações climáticas e o reforço da capacidade adaptativa das comunidades.

Sobre o projecto transfronteiriço que o ECCO revela ser abrangente, Luís Constantino disse que a vizinha Namíbia olha com grande interesse e reconhece a sua importância.

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