Sociedade

Especialistas em Dermatologia pedem aos cidadãos maior cuidado com a pele

Engrácia Francisco e Madalena Quissanga

Equipas médicas mostraram preocupação, durante a apresentação do balanço das principais ocorrências nos hospitais de Luanda, devido aos casos de cancro detectados nas consultas de rastreio

11/06/2024  Última atualização 09H08
Número de pacientes com albinismo que acorrem aos consultórios médicos regularmente varia, mas a tendência é aumentar © Fotografia por: Edições Novembro

O número de pessoas com albinismo com lesões e possibilidades de ter cancro da pele tende a aumentar muito, para os especialistas em Dermatologia, nos próximos anos, devido às constantes mudanças climatéricas e por isso defendem um reforço urgente das medidas de prevenção para se evitar o pior, através da criação de novas políticas de protecção das pessoas com albinismo.

Os especialistas apelaram, no balanço das principais ocorrências dos hospitais de Luanda, a uma maior atenção e protecção, pois, semanalmente, cinco a 15 pessoas com albinismo, nas idades compreendidas dos 12 aos 25 anos, são diagnosticadas com lesões cancerígenas em estado avançado.

A médica dermatologista do Hospital Américo Boavida Rosa Sambongue afirmou que, em média, o número de pacientes com albinismo que acorrem aos consultórios médicos para a consulta da pele, regularmente varia, mas a tendência de aumento é verificada mais em adultos do sexo masculino.

Em relação aos tipos de cancros detectados, referiu, os frequentes são as queratoses actinicas, lesões ou alterações pré-cancerígenas. De acordo com a médica, algumas pessoas com albinismo mostram preocupação quando notam alguma alteração na pele, mas muitos, lamentou, só vão ao hospital quando o cancro já se encontra num estado avançado.

 
Samba

O Centro de Saúde da Samba prestou assistência médica a um total de 2.607 pacientes, dos quais, 798 foram encaminhados para o Banco de Urgência para avaliação clínica e dentre estes, 281 com malária, 43 com doenças respiratórias agudas, 38 com hipertensão arterial e 29 com diarreia, disse, ontem, a directora clínica da unidade sanitária.

Rosa Manuel referiu que na área de Ginecologia e Obstetrícia deram entrada 176 mulheres grávidas e destas 64 tiveram os bebés. Além disso, continuou, atenderam três pacientes com ferimento por arma branca e dois por acidente de trabalho.

 
Zango

A equipa médica do Hospital Municipal do Zango 2 socorreu, durante o fim-de-semana, nas urgências, 544 pacientes, assim como atendeu 157 em consultas de dermatologia e 105 traumatismos, informou o director clínico da instituição.

Sebastião Senga frisou que entre os pacientes atendidos, as patologias mais frequentes foram a malária com 635 casos, as doenças respiratórias agudas com 88, as diarreicas agudas com 24 e a hipertensão arterial com 19.

 
Talatona

Mais de 711 pacientes foram atendidos no Banco de Urgência do Hospital Municipal de Talatona, onde foram registados 122 casos de malária, 54 de doenças respiratórias agudas, 15 diarreias agudas, 13 infecções do trato urinário, oito hipertensão arterial e três Acidentes Vasculares Cerebrais, explicou, ontem, a chefe do Banco de Urgência.

Isabel dos Santos informou, ainda, que o Hospital assistiu 240 pacientes em pediatria, 102 em consultas de ginecologia e obstetrícia, 31 em traumatismos, dos quais, dez por acidente de viação e seis por agressão física.  

 
Neves Bendinha

O Banco de Urgência de cirurgia do Hospital Geral Especializado Neves Bendinha socorreu 35 pacientes, com diferentes tipos de queimaduras, dos quais, 18 crianças e 17 adultos, informou, ontem, a directora clínica da instituição.

Antonieta Guilherme acrescentou que deste número (35), sete tiveram de ser internados, devido à gravidade das lesões, provocadas por queimaduras. "É de lamentar a morte de dois pacientes, que estavam internados há dias”, disse, além de alertar às pessoas para redobrar os cuidados ao manusear líquidos quentes.

A maioria dos casos registados, apontou, foi causada por líquidos quentes, que levaram 23 pessoas às urgências do hospital, seguido dos acidentes por gás butano e electricidade.

 
Sambizanga

A equipa médica do Centro de Saúde do Sambizanga observou 125 pacientes com problemas de nutrição, 62 com doenças respiratórias agudas, 26 com infecção de trato urinário, 14 com diarreias agudas, oito com hipertensão arterial e 282 com malária, disse a directora clínica, Augusta Chandicua, tendo acrescentado que a unidade sanitária atendeu ainda 207 crianças em pediatria.


Médicos alertam para o aumento das doenças cutâneas

O Hospital Geral de Luanda assistiu, na semana passada, a 20 casos de queratose actínica, durante a campanha de consultas de rastreio do cancro da pele, tendo observado 96 cidadãos, de acordo com o director clínico.

O hospital, disse Magalhães Sobrinho, distribuiu, na ocasião, protectores solares e cremes para o cuidado da pele. A par da campanha, acrescentou, um total de 8.682 pacientes foram atendidos em toda a unidade hospitalar. Outras patologias, continuou, como a malária (617), doenças respiratórias agudas (397), hipertensão (147) e a diarreia (126) também foram motivos de preocupação.

A área de Ortopedia, referiu, acudiu 348 casos de queda, 196 de acidentes de viação, 89 de agressão física, 68 de atropelamento, 44 de ferimentos provocados por arma branca e dez por arma de fogo.


Maianga

O Josina Machel também aderiu a campanha de rastreio do cancro da pele em pessoas com albinismo e atendeu, durante a iniciativa, 35 pacientes, sendo quatro deles diagnosticados com tumores, transferidos, de acordo com a directora clínica da unidade sanitária, Verônica Lázaro, ao Hospital Oncológico para seguimento.

 
Cacuaco

Um total de 4.260 pacientes foi atendido, na semana passada, no Hospital Municipal de Cacuaco, informou ontem, a directora-geral da unidade. Anizeth Cutatela disse que as principais patologias foram a malária (626), diarreia (69), hipertensão (39) e as doenças respiratórias agudas com 37 ocorrências.

 
Kilamba Kiaxi

O Hospital Geral Especializado do Kilamba Kiaxi atendeu, na semana passada, 7.036 pacientes, com destaque para 1.705 em pediatria e 625 na maternidade, informou, ontem, a directora clínica. De acordo com a médica Rosa André, um total de 187 partos foi realizado, na semana finda, no hospital. "Tivemos 20 casos de cesarianas e 35 abortos”, realçou.

 
Cazenga

A equipa médica do Hospital Municipal do Cazenga assistiu 2.213 pacientes, sendo 1.356 nas consultas externas e 857 nas urgências. Socorremos, disse, 138 pacientes vítimas de acidentes de viação. "As principais patologias foram a malária, com 775 casos, o síndrome gripal, com 50, broncopneumonia, com 46, e a diarreia, com 38 ocorrências”, avançou.


Viana

O Hospital Materno-Infantil Mãe Jacinta Paulino observou, na semana passada, 1.609 pacientes, informou, ontem, a directora-geral da unidade sanitária. A médica Filomena Bessa disse que as principais patologias foram a malária (580), doenças respiratórias agudas (358) e a diarreia (165). A área da maternidade, acrescentou, atendeu 215 mulheres e realizou 57 partos.


Superação
De discriminada a admirada na vizinhança

Celestina Makumuena, de 45 anos, é mãe da pequena Leya, de três anos, que nasceu com albinismo e é a única dos irmãos com tal condição genética. Após ter a bebé, recorda, os vizinhos olhavam-na com desdém, ao ponto de, às vezes, não conseguir sair de casa com medo do que poderia acontecer.

Nos primeiros meses de vida, contou, foi difícil. "As consultas de dermatologia eram feitas no Hospital Américo Boavida. Sempre teve um atendimento humanizado e uma excelente assistência clínica”, explicou, acrescentando que, além da discriminação, outra dificuldade era a aquisição dos produtos para a protecção da pele, de forma a prevenir as lesões e eventuais cancros.

"Os produtos de protecção e de uso diário são, até hoje, difíceis e caros. Tive de fazer um grande esforço e muitos sacrifícios para manter a pele dela constantemente sem lesões. Na altura, tive muito apoio de associações, das direcções dos hospitais”, disse. Para  Celestina Makumuena, é essencial que o sector da Saúde crie políticas e mais condições a favor das pessoas com albinismo. "Os produtos de uso diário deveriam ser disponibilizados com frequência para prevenir possíveis cancros da pele”.

Pelos cuidados que teve sempre com a filha, em especial quanto à pele, hoje, a menina é aceite e tratada com amor, na convivência com familiares, crianças, amigos e os vizinhos.

Em relação aos cuidados e recomendações a ter com as pessoas com albinismo, a médica interna de Dermatologia do Hospital Geral de Viana Rosa Sambongue disse que a menina Leya é uma paciente em regime ambulatório, acompanhada pela unidade sanitária.

O hospital, referiu, tem realizado palestras de esclarecimento e informação aos familiares, de pacientes menores, para estes saberem como proteger estes, ter o conhecimento das lesões na fase inicial, assim como os cuidados a ter com a pele e as doenças oportunistas.

A médica assegurou que aproveitam todas as ocasiões para fazerem um esclarecimento e dar assistência às pessoas com albinismo. Uma prática regular, explicou, tem sido aconselhar as pessoas com essa condição genética a usarem cremes da pele, protectores solares, usar roupas compridas de cor clara, evitar a exposição ao sol ardente e consultar periodicamente o médico oftalmológico.  "A informação e o esclarecimento à população é essencial, para evitar a estigmatização”.

Madalena Quissanga
 

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