Cultura

Especialistas debatem o valor das línguas na soberania nacional

Matadi Makola

A problemática das línguas nacionais, que tem sido objecto de vários debates nas redes sociais e na imprensa, engajando opiniões de vários especialistas, desde académicos, intelectuais e artistas, é o mote do colóquio “Línguas de Angola, Identidade e Soberania”, que se realiza amanhã, a partir das 9h00.

23/05/2023  Última atualização 11H34
António Fonseca será um dos prelectores do colóquio “Línguas de Angola, Identidade e Soberania” © Fotografia por: DR

Promovido pelo Memorial Dr. António Agostinho Neto, acolhido na sua sala de conferências, entre os prelectores traz os investigadores António Fonseca, Virgílio Coelho, Perez Sassuko, Alberto Confune, José Pedro, Maria Helena, Ana Pitragrós, Paulo Henriques, Maria da Conceição Neto e Narciso Homem, sob moderação de Benjamim Fernando.

Em entrevista, ontem, ao Jornal Cultura, a ser públicado na íntegra na edição que sai às bancas amanhã, António Fonseca avança que o objectivo deste colóquio é o de produzir algum pensamento, ideias e recomendações que permitam aos decisores culturais actuar com base no conhecimento científico.

"Reuniremos sobretudo professores, estudiosos, escritores e intelectuais para reflectirmos. Sabemos que as línguas são dinâmicas, senão morrem. O português e o francês evoluíram. As línguas devem responder às necessidades das pessoas, não são apenas para falar mas sim para comunicar. Nós temos muita gente que estudou mas não faz investigação. Há erros que as fontes escritas consagraram devido aos factos de muitos cronistas da época não dominarem as línguas nem as culturas”, avança António Fonseca algumas das questões que serão levantadas no colóquio”, sublinha António Fonseca.

Quanto ao acordo ortográfico, António Fonseca é categórico ao afirmar que não resolve muitas das necessidades dos falantes dos países africanos de língua portuguesa. Para si, Angola tem o direito soberano de usar a língua portuguesa incorporando essas reformas de que se tem necessidade, independentemente do acordo ortográfico.

"A não inclusão ou rejeição dos sons pré-nasais leva a erro. Dizer Ngola (o titular máximo do poder político no contexto de  língua kimbundu), sem se pronunciar a parte "ng”, fica apenas gola, que é a parte superior de uma peça de vestuário. É como Nfumo (chefe do poder nas diversas hierarquias no contexto de língua kikongo), se tirar o "nf”, fica apenas fumo, que é outra coisa na língua portuguesa”, exemplifica.

António Fonseca partilha que a sua prelecção intitula-se "Dúvidas e Dilemas das Línguas de Angola”, na qual pretende trazer questões para os cientistas aferirem e responderam para quem de direito tomar decisões com base na ciência.

"Faz todo o sentido que o país independente politicamente, com os rumos do desenvolvimento e do crescimento traçados, tenha a honra de recuperar os valores matriciais das suas culturas, que configuram a angolanidade”, defende.

Realizado para saudar o 25 de Maio, Dia de África, este colóquio servirá também para reflectir  em torno do pensamento linguístico de Agostinho Neto.

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