Economia

Especialistas apontam o “Caminho para uma Angola Criativa”

Omar Prata

O Workshop Nacional sobre Mapeamento e Estratégia das Indústrias Culturais e Criativas de Angola está a analisar, em Luanda, de hoje (30 de Janeiro) até quarta-feira, os caminhos para um país criativo, organizado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (CNUCED), em parceria com a União Europeia.

30/01/2023  Última atualização 18H59
© Fotografia por: DR
A sessão dirigida ao sector público foi aberta pelo secretário de Estado para o Comércio, Amadeu Nunes, tendo sido, posteriormente, mediada pela mestra em Sociologia pela Universidade do Porto, pesquisadora e produtora cultural à frente da empresa Tempo de Hermes, especializada em Economia Criativa, Camille Girouard.


O dia foi marcado pela apresentação do relatório do Mapeamento e Estratégia das Indústrias Culturais e Criativas de Angola, que "identifica os principais constrangimentos e propõe um conjunto de recomendações para fomentar o crescimento do sector criativo angolano com base nas comunidades ricas e diversificadas que tornam o país único” e pela "Introdução à Formulação da Estratégia das Indústrias Culturais e Criativas de Angola, seguida de perguntas e respostas, além de actividades interactivas”.


Segundo a CNUCED, o território nacional é rico em expressões culturais e criativas, como a música, a literatura, a produção audiovisual, artes cénicas e o artesanato.


De acordo com os organizadores do evento, o país possui vantagens, nomeadamente, por ter uma população jovem, nova geração de empreendedores disposta a desenvolver inovações e a expandir os negócios internacionalmente, além de um idioma partilhado com Portugal, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e uma diáspora que permite conexões e projectar Angola para o mundo.


Em contrapartida, Angola enfrenta um desafio devido ao reduzido acesso à Internet, que afecta o consumo em larga escala e o índice de produção, traduzindo-se em menos criadores de conteúdos digitais em relação aos que podia ter, áreas com pouca ou escassa utilização como os sectores de Jogos e Tecnologia, com défice do suporte, falta de reconhecimento da importância socioeconómica das Indústrias Culturais e Criativas.


Tudo isso, acrescentaram os participantes, impede o Governo, o sector privado e os empresários de compreenderem as cadeias de produção, o modo de distribuição, a juntar à falta de dados e informações que prejudicam a análise e bloqueiam o "Caminho para uma Angola Criativa”.


Além dos pontos enunciados, o relatório apresenta, igualmente, aspectos que conduzem ao desencorajamento do desenvolvimento das Indústrias Culturais Criativas a nível nacional, entre os quais podem elencar-se a "falta de aplicação de direitos autorais e uma cultura de pirataria”, que retira o desejo aos produtores de registarem os produtos e não ensina os "consumidores a respeitar os direitos autorais”, a degradação de infra-estruturas, que "previne que a comunidade, profissionais da cultura e mentes criativas tenham um ponto de encontro comum, onde possam trabalhar, interagir e trocar ideias.


Reforçaram que há soluções que apontam para um rumo de mudança e que passam por estabelecer sinergias entre as várias áreas da governança pública, através da criação de uma comissão multissectorial, que reúna ministérios e articule com a sociedade civil, investidores e praticantes da economia cultural; a formação básica, superior e técnica voltada para as Indústrias Culturais e Criativas, a melhoria da acessibilidade da Internet, a melhoria das infra-estruturas físicas e consumo da arte, cultura e criatividade.


Para a artista plástica Fineza Teta, que arrecadou aplausos da sala, a questão por si levantada implica "uma necessidade para que se possa melhorar” enquanto angolanos, sendo preciso reconhecer que "o problema não é a criação, mas a manutenção” daquilo que Angola tem ao redor.


Reiterou que, para tal, é fundamental despir-se das burocracias que caracterizam o país, pois dificultam o esforço colectivo para a transformação do paradigma vigente.


Por outro lado, para a directora do Instituto Nacional das Indústrias Culturais e Criativas, Domingas Monte, "não basta só dizer que se é artista, que precisa de patrocínio, quando não consegue elaborar um projecto para ter o patrocínio” e o "patrocínio virá da capacidade, das habilidades que vai apresentar na sua área”.


Lamentou, também, que muitos livros publicados, em particular do domínio de auto-ajuda, são copiados, não se dando ao trabalho de verificar, de revisar, alterando somente o nome do autor, tal como plagiado, salientando que "por mais que a pessoa seja artista é preciso formar-se na sua área para poder produzir com qualidade”.


Nesta perspectiva, as linhas mestras terminam com uma frase da mediadora Camille Girouard que sublinha: "a criatividade surge de uma necessidade, do cuidado social e que Angola é feita por muitos. Resta que todos continuem esse trabalho orgânico e que se dê resposta às necessidades locais, sobretudo, a partir da consciência do papel das Indústrias Culturais e Criativas e do Caminho para uma Angola Criativa”.

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