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Especial 25 de Maio: Líderes africanos independentistas

EDUARDO MONDLANE Eduardo Chivambo Mondlane nasceu em Manjacaze, Gaza, em 1920 e faleceu em Dar es Salaam em 3 de Fevereiro de 1969 e foi um dos fundadores e primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), a organização que lutou pela independência de Moçambique do domínio colonial português.

25/05/2023  Última atualização 08H06
© Fotografia por: DR

O dia em que morreu, assassinado por uma e ncomenda-bomba, é celebrado em Moçambique como Dia dos Heróis Moçambicanos. Após ter sido expulso, na sequência da subida ao poder do Partido Nacional, da Universidade de Witwatersrand (África do Sul), onde cursava Antropologia e Sociologia, estudou com uma bolsa, na Universidade de Lisboa. Terminou os estudos nos Estados Unidos, frequentando o Oberlin College (Ohio) e a Northwestem University (Evaston, Illinois).

Trabalhou para as Nações Unidas e foi também professor de história e sociologia na Universidade de Syracuse, em Nova Iorque. Em 1961 visitou Moçambique e por essa altura formaram-se três organizações com o mesmo objectivo: a UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique), a MANU (Mozambique African National Union e a UNAMI (União Nacional Africana para Moçambique Independente). Mondlane tentou uni-las, com o apoio do Presidente da Tanzânia, Julius Nyerere. A Frelimo foi de facto criada na Tanzânia, com base nos três movimentos, em 25 de Junho de 1962, e Mondlane foi eleito seu primeiro presidente, com Uria Simango como vice-presidente.

Os primeiros guerrilheiros foram treinados na Argélia e, entre eles, contava-se Samora Machel que o substituiria após a sua morte. A luta armada foi desencadeada em 25 de Setembro de 1964, com o ataque de um pequeno número de guerrilheiros ao posto administrativo de Chai, na província de Cabo Delgado, a cerca de 100 km da fronteira com a Tanzânia. Eduardo Mondlane morreu em Dar Es Salaam em 3 de Fevereiro de 1969 ao abrir uma encomenda que continha uma bomba. Eduardo Mondlane escreveu o livro "The Struggle for Mozambique", Penguin Books, 1969.


AMILCAR CABRAL

Amílcar Lopes Cabral nasceu em Bafatá, actual Guiné-Bissau, em 1924 e morreu em Conacri a 20 de Janeiro de 1973) e foi líder nacionalista da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. Com uma bolsa de estudos, no ano de 1945 ingressou no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Após licenciar-se em 1950, trabalhou dois anos na Estação Agronómica de Santarém. Contratado pelo Ministério do Ultramar como adjunto dos Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné, regressou a Bissau em 1952. Em 1955, Cabral participa da Conferência de Bandung e toma conhecimento da questão afro-asiática.

 Em 1959 juntamente com Aristides Pereira, seu irmão Luís Cabral, Fernando Fortes, Júlio de Almeida e Elisée Turpin, funda o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Em 23 de Janeiro de 1963 tem início a luta armada contra a metrópole colonialista, com o ataque ao quartel de Tite, no sul da Guiné-Bissau, a partir de bases na Guiné-Conacri. Em 20 de Janeiro de 1973, Amílcar Cabral é assassinado em Conacri, por dois membros de seu próprio partido. "Se alguém me há de fazer mal, é quem está aqui entre nós. Ninguém mais pode estragar o PAIGC, só nós próprios." Aristides Pereira substituiu-o na chefia do PAIGC. Após a morte de Cabral, a luta armada intensifica-se e a independência da Guiné-Bissau é proclamada, unilateralmente, em 24 de Setembro de 1973. Luís de Almeida Cabral é nomeado Primeiro Presidente do país.


SAMORA MACHEL

Samora Moisés Machel nasceu em Chilembene, Gaza, em 1933, e faleceu em Mbuzini, Montes Libombos, em 19 de Outubro de 1986) e liderou a Guerra da Independência de Moçambique e foi o primeiro Presidente após a sua independência, de 1975 até à sua morte em 1986. Morreu quando o avião em que regressava a Maputo se despenhou em território sul-africano. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o Prémio Lénine da Paz. Em 1956 terminou o curso de Enfermagem e trabalhou num hospital da então Lourenço Marques. Foi o seu encontro com Eduardo Mondlane, de visita a Moçambique em que o levou a abandonar o país em 1963 e juntar-se à Frelimo na Tanzânia. O jovem enfermeiro Samora Machel foi integrado num grupo de recrutas para receber treino militar na Argélia. Em 1966, na sequência do assassinato de Filipe Samuel Magaia, chefe do Departamento de Defesa e Segurança da Frelimo, Samora foi nomeado chefe do novo Departamento de Defesa e Joaquim Chissano da Segurança.

Em 3 de Fevereiro de 1969, Eduardo Mondlane foi assassinado com uma encomenda-bomba. O vice-presidente, Uria Simango, assumiu a presidência, mas acaba por ser expulso em Maio de 1970 e Samora Machel é indicado para presidente da Frelimo. Nos anos seguintes, até 1974, Samora conseguiu organizar a guerrilha, de forma a neutralizar a ofensiva militar portuguesa. Em 7 de Setembro de 1974, Portugal assina com a Frelimo o Acordo de Lusaca. Nos termos deste acordo, formou-se um governo de transição, com elementos nomeados por Portugal e pela Frelimo, e a independência teria lugar a 25 de Junho de 1975. A Frelimo governou com mão de ferro como partido único fazendo inúmeras detenções e enviando muitos alegados dissidentes para campos de reeducação. Em 19 de Outubro de 1986, quando regressava de uma reunião em Lusaka, o Tupolev Tu-134 cedido pela União Soviética em que seguia despenhou-se em Mbuzini, nos montes Libombos (território sul-africano, perto da fronteira com Moçambique).

 


EDUARDO JONATÃO CHINGUNJI

Eduardo Jonatão Chingunji foi um professor de prestígio e Director das escolas da Missão da Chissamba. Em 1975, quando a Unita tomou o centro de Angola, Savimbi nomeou-o governador da província do Bié. Militante pioneiro e activo da Unita desde o tempo colonial, sofrera o desterro na prisão do Tarrafal de onde viria a sair em 1974. A sua esposa, Violeta Jamba, fora enviada para o campo de concentração de S. Nicolau. Foi o primeiro angolano a criar uma escola, na época colonial, no Soyo e também na Chissamba, Bié. Eduardo Jonatão Chingunji teve várias filhos. Destes, David Jonatão Chingunji (Samuimbila), tal como o seu irmão Samuel Piedoso Chingunji (Kafundanga) não chegaram a ver a independência do país. Logo após o 25 de Abril, com a entrada da Unita nas cidades, falava-se desses dois irmãos como heróis míticos: Samuel Piedoso Chingunji (Kafundanga) foi o primeiro chefe de Estado-Maior da Unita e viria a falecer, em 1973, de malária. David Jonatão Chingunji (Samuimbila) perdera a vida três anos atrás num ataque a um ATM do exército colonial, mas a sua morte ficou envolvida em polémica no seio da Unita até hoje. No Bié, em finais de 1975, Savimbi atacou o Mais Velho Chingunji num comício. Eduardo Jonatão Chingunji era religioso, nacionalista lúcido, embora conservador, de nobre moral. Eduardo Jonatão Chingunji era um visionário nacionalista e Jonas Savimbi um estratego que agia em função dos preceitos maoistas "não importa a cor do gato, o que importa é que cace ratos”. Em 1976, ainda na ressaca da fuga das cidades, e no meio da "Longa Marcha”, chegava a notícia da morte de Estevão Chingunji, atingido nas costas por uma bala.

 Em 1978, Paulo Chingunji - outro filho do patriarca - do curso de História, na Faculdade de Letras, da Universidade de Angola, morreu num acidente de viação algures na província da Huíla. Em 1979, foi assassinado o patriarca dos Chingunji, Jonatão Chingunji, a sua esposa Violeta Jamba, e seus dois filhos Dino Chingunji (também foi morta Aida Henda, sua esposa, a irmã desta, Vande, e o seu filho mais novo Eduardinho) e Alice Chingunji (Lulu). Esta teve, por sorte, da relação com Isaías Chitombi, uma filha. Uma das poucas sobreviventes. Em 1991, o mundo ficou boquiaberto quando soube da boca de Nzau Puna e Tony da Costa Fernandes, o inimaginável: haviam sido mortos Tito Chingunji, sua esposa Raquel (Romy) e os três filhos, dois dos quais eram gémeos. A par disso, Wilson Santos, Helena Chingunji e os seus filhos (Koly, Rady e Paizinho) tiveram a mesma sorte.

A morte dos gémeos de Tito, mostrava a intenção deliberada do mandante em limpar da face da terra a família Chingunji. Tito era um homem culto, poliglota, bem-parecido que, em 1975, era visto sempre ao lado de Jonas Savimbi. Diplomata hábil, passou por Londres e, mais tarde, por Washington, como representante da Unita. Tito viria a sucumbir depois de ter vivido como um animal numa jaula, na Jamba, acusado de ter tido um "affair” com Ana Savimbi (antiga namorada de Savimbi), e de ter sido acusado de liderar uma intentona contra Jonas Savimbi. Não existem sagas sem sobreviventes. Este é o caso de Eduardo Jonatão Chingunji (Dinho) filho de Samuel Chingunji (Kafundanga). Sobreviveu por estar no exterior, a estudar.

 


TOM MBOYA

Thomas Joseph Odhiambo Mboya (Ol Donyo Sabuk, 15 de Agosto de 1930 – Nairobi, 5 de Julho de 1969) foi um sindicalista, pan-africanista, escritor, nacionalista, ministro e um dos pais fundadores da República do Quénia. Ele encabeçou as negociações pela independência do Quénia nas Conferências de Lancaster House e foi um dos principais fundadores do Partido da Independência do Quênia, KANU, no qual serviu como primeiro-secretário-geral. Ele discursou por todo o mundo em favor da independência do Quénia. Em 1958, aos 28 anos, Mboya foi eleito presidente da All-African People's Conference convocada por Kwame Nkrumah e edificou o movimento sindicalista no Quénia, no Uganda e na Tanzânia. Em Maio de 1959, Mboya convocou uma conferência em Lagos, Nigéria para formar a primeira organização sindical africana da ICFTU-International Confederation of Free Trade Unions, fundada em 1949. De 1950 a 1960, conseguiu que muitos estudantes africanos estudassem em faculdades dos Estados Unidos, entre os quais Wangari Maathai, futura Prêmio Nobel da Paz, e Barack Obama,  44º Presidente dos Estados Unidos. Em 1953, durante a luta dos Mau Mau pela Independência, Jomo Kenyatta e outros líderes da Kenya African Union (KAU) foram presos pelas autoridades coloniais inglesas e pediram a Mboya para dirigir a KAU e continuar a luta.. Mas os ingleses baniram a KAU e então Mboya virou-se para a luta sindical em prol da Independência. Ele foi eleito secretário-geral da Kenya Federation of Labour (KFL). Em 1956, os ingleses permitiram que quenianos pudessem ser eleitos para a Assembleia Legislativa e Tom Mboya foi eleito por Nairobi e também eleito secretário do African Caucus (African Elected Members Organization – AEMO).

Em 1957, formou o seu próprio partido, o Nairobi People's Convention Party, enquanto mantinha relações privilegiadas com Nkrumah. Em 1958, foi eleito presidente da All-African Peoples' Conference no Ghana. Em 1961, Jomo Kenyatta foi libertado e com Oginga Odinga e Mboya formam a Kenya African National Union (KANU) para negociar a Independência com os ingleses. Após a proclamação da Indpendência, é apontado por Jomo Kenyatta para ministro da Justiça e Assuntos Constitucionais entre 1963 e 1964 e a ele se deve a criação da Segurança Social queniana. Instituída a República do Quénia, em 12 de Dezembro de 1964, o Presidente Kenyatta nomeou Tom Mboya para ministro da Economia, do Plano e Desenvolvimento, que apresentou um plano de acordo com a ideologia do Socialismo Africano, mas cai em 1966. Tom Mboya foi assassinado em 5 de Julho de 1969, aos 39 anos, em pleno centro de Nairobi.

 


SYLVANUS OLYMPIO

Nacionalista, foi o primeiro Presidente do Togo de 27 de Abril de 1960 a 13 de Janeiro de 1963. Foi Primeiro-ministro do Togo de 16 de Maio de 1958 a 12 de Abril de 1961. Nasceu a       6 de Setembro de 1902 em Lomé, Togo e morreu assassinado a 13 de Janeiro de 1963. Pertencente à família Olympio, cujos membros eram descendentes de Francisco Olympio da Silva, afro-brasileiro retornado do Brasil no século XIX, traficante de escravos e fundador de uma das famílias mais ricas do Togo. O seu tio, Octaviano Olympio, foi um dos fundadores de Lomé e uma das pessoas mais ricas do Togo, no início de 1900.

Formou-se na London School of Economics e após a Segunda Guerra Mundial, Olympio destacou-se pela sua actuação para a independência do Togo, aderindo ao Comité de Unidade Togolês-CUT que se opunha aos colonialistas alemães. Ele impulsionou o CUT na luta nacional, contra os moderados de Nicolas Grunitzky. O seu partido venceu as eleições de 1958, e ele tornou-se o Primeiro-Ministro do país. Logo após a Independência, ele venceu as eleições de 1961, tornando-se o primeiro Presidente do Togo. Olympio proibiu todos os outros partidos, atirando para a prisão muitos políticos. Foi assassinado durante um golpe de Estado fomentado por Gnassingbé, em 1963. Foi enterrado no Benin e a sua família nunca pediu o repatriamento do seu corpo para o Togo.

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