Entrevista

Embaixador angolano considera boas as relações diplomáticas com o Japão

O embaixador de Angola no Japão, Rui Orlando Xavier, considerou “boas” as relações de cooperação entre os dois países, no domínio Político e Económico e enalteceu o esforço do Japão no processo de desminagem.

11/03/2023  Última atualização 09H25
© Fotografia por: DR

Em entrevista à Angop, no quadro da visita oficial de trabalho que o Chefe de Estado angolano, João Lourenço, realiza àquele país, de 12 a 15 deste mês, o diplomata angolano falou também do volume de negócios entre os dois países.

Na conversa, o embaixador nomeado pelo Presidente da República em 2018, abordou igualmente os investimentos japoneses em Angola, formação de quadros angolanos e a desminagem, que vai ajudar Angola "a livrar-se das minas anti-pessoais até 2025, com impacto na diversificação económica e na segurança das pessoas”.

Como avalia o estado das relações entre Angola e o Japão?

As relações entre os dois países são consideradas boas, tanto do ponto de vista político, como económico.

Como é sabido, as relações entre os dois países datam de Setembro de 1976, tendo Angola inaugurado a sua Embaixada em Tóquio, em Novembro de 2001, e quatro anos depois, coube ao Japão abrir a sua Representação Diplomática em Luanda.

O Japão procedeu igualmente à abertura do escritório da Agência de Cooperação Internacional JICA, em 2007, na capital angolana.

Em que áreas incide o volume de negócios entre os dois países?

As trocas comerciais de bens transaccionados entre Angola e o Japão representam um total de 108 milhões de dólares americanos (USD) em exportações e USD 489 milhões em importações, no período de 2020-2022, correspondendo a um saldo negativo da balança comercial de cerca de USD 380 milhões.

 Angola exporta essencialmente combustíveis (petróleo bruto, propano e butano) e em contra-partida importa, veículos, auto peças e outros materiais de transporte, máquinas, aparelhos, plásticos, borracha (pneumáticos, tubos de borracha), ferro e aço.

Ainda no quadro da cooperação bilateral. Já existe alguma data para a conclusão do acordo sobre a liberalização e promoção de investimentos entre os dois Estados?

Ainda não existe uma data para a conclusão deste importante Acordo, mas posso assegurar-lhe que os Ministérios das Relações Exteriores de Angola e dos Negócios Estrangeiros do Japão estão a trabalhar afincadamente para o término do mesmo muito proximamente. Faltam pequenos detalhes, principalmente em alguns anexos para se fechar o documento. Estamos optimistas.

A diversificação da economia angolana é uma das bandeiras do Executivo angolano liderado pelo Presidente João Lourenço. Em que sectores o Governo e os empresários japoneses têm demonstrado mais interesse?

Os sectores de maior interesse manifestados pelos empresários japoneses incidem sobre a Agricultura, Energia e Águas, Transportes, Minas, Petróleo e Gás.

Quanto à Desminagem?

O Japão tem sido um dos poucos países que abraçou esta questão como se fosse sua. Este processo caminha muito bem. Recentemente foi assinado mais um acordo para assistência não reembolsável no domínio da Desminagem, no valor aproximado de 2,3 milhões de dólares americanos.

Este esforço do Japão tem como objectivo ajudar Angola a livrar-se das minas anti-pessoais até 2025, com impacto na diversificação económica e na segurança das pessoas.

Desde 1990, o Japão já implementou cerca de 74 projectos em várias áreas com o objectivo de beneficiar directamente as comunidades locais, através do regime de base para o Governo de Angola.

 Sobre a cooperação no domínio da Formação de Quadros. Tem uma estimativa do número de angolanos que estudam no Japão?  

A comunidade angolana no Japão é constituída por 59 cidadãos, distribuídos pelas categorias diplomática, residente e estudantil. A classe diplomática conta com 19 pessoas.

A maior parte dos estudantes são bolseiros dos Ministérios da Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia. Há outros que estudam pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), frequentando cursos de pós-graduação, mestrados e doutoramentos.

De salientar que os cidadãos trabalhadores foram no passado bolseiros que optaram em permanecer no Japão. Há inclusive um cidadão que é professor na disciplina de Matemática e outros constituíram família e estão inseridos no mercado de trabalho.

Regra geral, há uma excelente coabitação entre os membros do corpo diplomático e da comunidade, muito por conta das várias iniciativas de inclusão dos mesmos nas diversas actividades que são realizadas na Embaixada e na residência oficial.

Existe um Consulado Honorário aberto em 2021 que funciona na Prefeitura de Nagoya, cujo Cônsul é o senhor Ichiro Kashitani, também presidente da Toyota Tsusho Corporation.

Pode-nos adiantar quais são as especialidades mais frequentadas pelos estudantes angolanos?

A maior parte dos bolseiros frequenta os cursos de Ciências Exactas, Tecnologias de Comunicação e de Informação. Um dos factores pelos quais o número de bolseiros é reduzido deve-se a uma débil formação dos estudantes no ensino de base e médio, relativamente às Ciências Exactas e à língua inglesa.

Esse aspecto acontece especialmente quando confrontados no primeiro teste de admissão que é realizado na Embaixada do Japão em Luanda, sendo logo eliminados.

O que Angola pode esperar mais do Governo do Japão em termos de cooperação bilateral ?

 Angola espera e deseja um apoio maior e mais concreto nos domínios Económico, Financeiro, bem como nos sectores da Indústria e da Manufaturação. O campo é bastante vasto, porque as empresas japonesas têm muita qualidade e são muito competentes.

Como nota final gostaria de frisar que neste momento o Japão implementa vários projectos nos sectores da Educação, Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, da Geologia e Minas, das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, da Agricultura, Transportes e Saúde, com maior realce para a requalificação da Baía do Namibe e portos comercial e mineiro de Sacomar.

 Relações de cooperação

A cooperação bilateral entre Japão e Angola começou em 1988 com ajuda de emergência através do Fundo Internacional das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Depois do fim do conflito armado, em 2002, como resultado da visita da então ministra dos Negócios Estrangeiros, Yoriko Kawaguchi, foi enviada, em Fevereiro de 2003, uma missão de estudo para apoio ao estabelecimento da paz, passando o Japão a realizar assistências nas áreas de Desminagem , Reinserção Social de Ex-soldados, Reintegração e de Refugiados.

Além disso, no período pós-conflito, no âmbito da reconstrução nacional de Angola, o Japão tem  realizado a sua assistência bilateral ao país, através de organizações internacionais, nos esforços para a reconciliação nacional, a ajuda alimentar, assistência aos agricultores, assistência ao repatriamento de refugiados, desminagem, instalações de abastecimento de água e construção de escolas primárias, rede de comunicação, portos, com foco em infra-estruturas básicas.

No sector da Saúde, em 1996, o Japão doou 40 milhões de dólares para a reabilitação e equipamento do Hospital Josina Machel, um dos melhores hospitais de referência do país, assim como a aplicação de desenvolvimento de recursos humanos para os 750 técnicos.

No âmbito da Cooperação Económica, nos últimos anos estão a ser utilizados conhecimentos e experiências do Japão, nas áreas de Desenvolvimento de Cultivo de Arroz e de Formação Profissional.

Actualmente, a cooperação com Angola assenta em três pilares: Apoio ao Desenvolvimento Económico (Formação Profissional, Infra-estruturas principais e Agricultura), Manutenção da Paz (Reintegração Social de ex-Soldados e Refugiados, Desminagem e Gestão do Governo) e Segurança Humana (Saúde, Medicina e Alimentação).

Localizado no Extremo Oriente e conhecido como Terra do Sol nascente, o Japão é constituído por um arquipélago relevo formado pelas ilhas: Kyushu, Honishu, Honshi Shikoku e Hokkaido.

País insular no Oceano Pacífico, tem cidades densas, palácios imperiais, parques nacionais montanhosos e milhares de santuários e templos.

perfil

Nascido a 12 de Outubro de 1954, em Luanda, Rui Orlando Ferreira de Ceita da Silva Xavier é licenciado em Relações Internacionais, (Universidade Autónoma de Lisboa), e mestre em Relações Internacionais.

Nomeado em Novembro de 2018, o diplomata já exerceu os cargos de director da Direcção dos Assuntos Multilaterais, chefe de departamento da Divisão de Agências Especiais, Direcção dos Assuntos Multilaterais, no Ministério das Relações Exteriores.  Foi ministro conselheiro na Embaixada de Angola em Portugal, chefe de Departamento da Europa Ocidental e conselheiro da Embaixada de Angola na Itália.

Na sua folha de serviço destaca-se também as funções de chefe do Departamento da ex- OUA, direcção de África e Médio Oriente e de chefe de Departamento de Relações Externas do Ministério das Relações Exteriores.

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