Opinião

Efeitos da crise no sector do Turismo

O início da pandemia marca, de forma decisiva, uma alteração profunda no pensamento das elites económicas, políticas e sociais à escala global, esperando-se, a curto prazo, mudanças significativas na forma como devem ser geridas as sociedades.

30/03/2021  Última atualização 08H00
O individualismo, característica de base do capitalismo de mercado, começa a ceder face à necessidade de uma maior cooperação e solidariedade entre as nações. É o que se pode comprovar nos recentes apelos do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, bem como nas comunicações permanentes que têm sido proferidas pelo Director-Geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, no que concerne à abordagem que os países desenvolvidos devem ter, face à actuação no processo de aquisição e distribuição de vacinas para os países menos desenvolvidos. Assim, os novos tempos abrem caminho à cooperação e ao multilateralismo como formas mais racionais de fazer face aos problemas que afligem a humanidade.

Hoje, com a proliferação do vírus à escala global, vemos que o mundo está cada vez mais interdependente, sendo que os problemas dos outros também são nossos e vice-versa, o que se aplica não só no plano da saúde pública, mas também em outras dimensões, onde podemos encontrar exemplos flagrantes de "Contaminação Viral” em várias esferas sociais e económicas. Em termos económicos, à excepção da economia chinesa, todos os países passam hoje pelo problema da recessão, causado não só pelos movimentos ininterruptos de abertura e fecho (confinamento), que derivam das restrições à mobilidade de pessoas, mas também pela incapacidade da economia mundial crescer ao ritmo desejável.

Nesta perspectiva, um dos sectores que mais ressentiu o impacto da crise é o turístico, que foi um dos primeiros a ser atingido com um impacto brutal em termos de destruição de valor e de postos de trabalho. A Organização Mundial do Turismo declarou, recentemente, que o sector será um dos mais afectados, estando em causa 75 milhões de postos de trabalho em todo mundo. A referida organização exortou a que os Estados, na fase pós-Covid-19, criem medidas de apoio e priorização do sector, visando a sua recuperação, uma vez que representa 10,4% do Produto Interno Bruto Mundial, ou seja, 1 em cada 10 postos de trabalho no mundo pertence ao sector do Turismo.

Em Angola, o sector representa apenas 3% do PIB, o que reflecte os desafios a que o sector terá de passar para se tornar uma alavanca de crescimento da economia.
O turismo é uma indústria com enorme potencial de crescimento em Angola. Pela sua cultura, biodiversidade e clima, o país apresenta um nível de atractividade turística apreciável, que contrasta com o estado das infra-estruturas que concorrem para o acesso e fruição da atracção turística, tais como estradas, aeroportos, sinalização, diversidade de hotéis e de equipamentos de restauração, transportes, agências de recepção (que organizam excursões), comércio local, infra-estrutura técnica de saneamento, vias de acesso e segurança, serviços estes indispensáveis numa determinada oferta turística.

Segundo dados recentes, houve uma queda da actividade turística, sobretudo, em 2019, com uma redução de 33% das entradas de turistas, o que ocasionou uma quebra de 15 % dos postos de trabalho associados. É importante ainda referir uma redução de 34% do investimento em novas unidades hoteleiras. O cenário desanimador permaneceu em 2020, com o efeito da pandemia da Covid-19, que se propagou aos diversos sectores socioeconómicos. Porém, esta constatação não nos deverá pôr de braços cruzados; devemos, antes, lutar nas mais diversas esferas para erradicar os efeitos perniciosos que derivam desta pandemia.

Assim, o país tem aumentado, de forma muito modesta, o PIB do sector, mas, comparando a posição de Angola à de países africanos, como Egipto, Nigéria, Quénia, África do Sul, nota-se que é preciso melhorar a posição no contexto internacional, visto ser um sector que se espera como alavanca de receitas para o Estado e a entrada de divisas para o país. De acordo com os resultados do estudo realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2019, o sector do Turismo representava cerca de 3% do PIB, uma quota muito aquém do desejado e que pode ser trabalhada de forma a trazer resultados mais encorajadores.

Devemos abandonar a ideia de que o Estado é o único promotor do desenvolvimento, pois, uma sociedade civil bem organizada e um empresariado activo poderão desempenhar um papel de grande importância no desenvolvimento económico, com ênfase para o sector do Turismo, que merece a máxima atenção. A indústria turística está a despontar e, por ser uma actividade da qual Angola não tem tradição, sobretudo pelas especificidades que a norteiam, urge a implementação de mecanismos e incentivos, não só para gerar muitos empregos, mas pela capacidade que tem de fazer surgir milhares de pequenas e médias empresas. Assim, o sucesso das políticas de desenvolvimento do turismo dependerá da aposta que o país fizer ao nível do desenvolvimento de projectos de sustentabilidade a longo prazo.
*Economista

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