Opinião

Dubai e Namibe

Sousa Jamba

Jornalista

Estive no Dubai e Abu Dhabi pela primeira vez e não parava de pensar no Namibe.

24/01/2023  Última atualização 06H15

Dois anos atrás, estive no Namibe vindo do Lubango. A mudança drástica na paisagem foi impressionante: num momento eu estava em montanhas lindíssimas e logo depois num autêntico deserto com certos pontos com pouca água e vida.

Fui à estação do Caminho de Ferro de Moçâmedes e ao Porto do Namibe; depois visitei o deserto, sempre a pensar no Dubai. Um dia, eu não parava de pensar, aquele deserto passaria a ser uma referência no mundo.

Namibe, Dubai e Abu Dhabi têm muito em comum. Os dois locais são portos. O petróleo só veio a ser descoberto nos Emirados nos anos 70; antes, aquela região era um grande ponto cardeal, já que estava no meio entre a Europa e o Médio Oriente; quem na Europa precisasse de comprar algo produzido no Extremo Oriente vinha para os Emirados. E quem no Extremo Oriente quisesse algo da Europa vinha para os Emirados.

Namibe é um grande porto. O Caminho de Ferro do Namibe devia ir para a Zâmbia, Zimbabwe, Botswana e até mesmo partes do Norte da Namíbia. Enquanto o Porto do Lobito poderá concentrar a sua acção no escoamento de minerais vindos da República Democrática do Congo (RDC) e Zâmbia, o Namibe, como Dubai e Abu Dhabi, deveria ter uma vertente turística muito forte; os alemães, que hoje inundam a Namíbia com os seus capacetes de medula e trajes de Safari, deveriam é estar a caminho do Namibe.

O turista típico europeu, com os seus euros, gosta de algo diferente do que está habituado mas também não gosta de algo muito estranho. No meio do deserto do Namibe poderia haver grandes resorts onde alemães, chineses, árabes, etc, poderiam divertir-se (nadar em piscinas gigantescas, ver os últimos filmes em grandes salas de cinema, fazer todo o tipo de compras) e depois relaxar em grandes ninhos com muita segurança.

Sim, no Namibe pode se construir um majestoso hotel do estilo Burj al Arab como no Dubai, com suítes que chegam a custar quinze mil dólares americanos por noite. Há turistas que pagam só para poder ver o grande hotel de longe. Lá dentro é uma espécie de Las Vegas, nos Estados Unidos, local que conheço bem. Diz-se que em Las Vegas nas casas de jogo aumenta-se o oxigênio para manter os clientes bem alertas, e a gastar. As empregadas no hotel Burj el Arab parecem ter saído de uma página de uma revista de glamour; uma salada ali pode custar cem dólares! Aí vai quem não reclama. Podemos, claro, fazer o mesmo no Namibe!

Em 1986, quando era estudante em Londres, me lembro de um professor de Política a rir-se dos árabes; ele dizia que não obstante as suas imensas fortunas, os árabes preferiam gastar o seu dinheiro no Sul da França, em Londres ou nos Estados Unidos. Naquele momento, os membros da família real dos Emirados traçaram uma estratégia para transformar o seu país em locais que passariam a ser altamente atraentes.

Claro que há aspectos dos Emirados que teríamos que evitar. A verdade é que o país prospera porque existe uma vastíssima mão de obra barata vinda do Paquistão, Índia, Bangladesh. As empregadas domésticas são das Filipinas. Os trabalhadores de baixa escolaridade vêm para os Emirados, trabalham por alguns meses e depois regressam para as suas famílias. Será que o dinheiro que ganham chega para garantir uma boa vida aos familiares que deixam para trás? Houve muitas críticas e, felizmente, o próprio Governo dos Emirados está a fazer tudo para melhorar a vida dos trabalhadores emigrantes.

Os Emirados são locais onde os impostos são relativamente baixos. É por isso que muitos empresários preferem investir naquele país. Agora os próprios Emirados estão interessados em replicar os sucessos do país noutras partes do mundo , sobretudo em África. Quem passasse pelos Emirados quatro décadas atrás não imaginaria nunca que aquele deserto teria as principais atracções do mundo. Que o mesmo seja feito no Namibe!

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