“Rosa Baila”, “Chikitita”, “Perdão”, dentre outros sucessos que marcam o percurso artístico de Eduardo Paím, serão apresentados amanhã, a partir das 19h30, no concerto comemorativo aos 60 anos natalícios do cantor e produtor.
Os escritores Agostinho Neto e António Jacinto são, hoje, às 10h, homenageados como “Poetas da Liberdade”, no Festival de Música e Poesia, que acontece no auditório do Centro Cultural de Vila Nova de Foz Côa, em Lisboa, Portugal.
A escritora Djaimilia Pereira de Almeida e a directora e encenadora Zia Soares, ambas nascidas em Angola e actualmente radicadas em Portugal, levam à cena, hoje, no Teatro São Pedro, em Alcanena, a estreia do espectáculo “Pérola Sem Rapariga”.
O espectáculo tem uma duração aproximada de uma hora e volta a ser exibido no dia 9 de Junho, na Casa da Criatividade, em São João da Madeira.
"Encontrámo-nos e percebemos que estávamos interessadas no trabalho uma da outra, e decidimos que poderíamos eventualmente criar um projecto juntas, e andámos ali uns tempos a namorar uma e outra”, contou a encenadora Zia Soares à Lusa, no final de um ensaio.
Até que chegou uma altura em que decidiram trabalhar juntas e surgiu a ideia de fazer este díptico, um projecto constituído por dois espectáculos: "Pérola Sem Rapariga”, que é o primeiro, e "As Telefones”, o segundo, que se estreia mais para o fim do ano.
A peça, que agora sobe à cena, parte de uma ideia que Djaimilia tinha a propósito de uma obra do fotógrafo alemão Alberto Henschel e de uma fotografia em particular, de uma mulher, em que só se vê uma orelha e um dos brincos.
Por outro lado, parte também de um livro de uma escritora alemã, Robbin Coste Lewis, "Voyage of the Sable Venus and Other Poems”, que é um longo poema, e a partir destas duas obras que interessavam a Djaimilia, a escritora vai pensando sobre isso.
"E quando pensámos sobre o nosso projecto, ela disse que se calhar podíamos partir daqui”, contou, explicando que esse foi o ponto de partida, embora seguras de que não queriam fazer uma adaptação do livro, nem que o trabalho fosse uma interpretação da obra do fotógrafo, que durante a época colonial fotografou várias pessoas negras no Brasil, nomeadamente na Bahia.
"Pensámos que isto é um ponto de partida para nós começarmos a criar alguma coisa”.
Motivadas, encontraram-se no primeiro dia de ensaios, a escritora apenas com algumas linhas de uma cena, e a partir daí começaram a construir o espectáculo em conjunto, a dramaturgia, a encenação, o texto, tudo se montou em conjunto.
"Depois a isso somámos alguns artistas com os quais eu venho trabalhando há muitos anos, o Xullaji, que faz a música e depois fará também o próprio ‘design’ de som, a Neusa Trovoada, que fará toda a instalação, e o Kiluanji kya Henda - que também já colaborei com ele -, em projectos dele e que agora o trago para um projecto meu”, sublinha Zia Soares.
O cenário é escuro e os adereços de cena consistem numa escada, bancos com luzes e as obras de Kiluanji kya Henda, que são caixas de luz com fotografias, uma espécie de radiografias.
"Porque também o próprio espectáculo é muito sobre esta obsessão de ver, de olhar, quem é que olha para quem, como olha, a partir de que perspectiva, quem é que se coloca para ser olhado. Aqui também a questão do próprio artista, que se coloca a toda a hora para ser olhado, no teatro, especificamente”, explicou Zia Soares.
A ideia é pensar a relação entre a superfície do corpo e aquilo que sobre ele se pode dizer. Também a condição da mulher é explorada neste espectáculo, em que duas mulheres se expõem, mas ao mesmo tempo se libertam a elas próprias, com lutas internas.
"Apesar de todas as condicionantes para fora, há batalhas que elas travam internamente: a que é filha, a que é mulher, ou a que é noiva, a que trabalha, a que depois está sozinha nos seus sítios mais recônditos, de maior solicitude, e partes das cenas são, talvez, as coisas que estão no interior e que saltam cá para fora, e que se calhar no nosso mundo quotidiano, não temos estas expressões, mas tudo isto muitas vezes está latente”.
Em palco, sobre um cenário negro, iluminado por alguns pontos de luz, os corpos negros das duas actrizes – Filipa Bousset e Sara Fonseca da Graça – movem-se, numa expressão física de libertação, e soltam gargalhadas, algumas escondem sofrimento, outras traduzem uma espécie de êxtase, e ao fundo, a música ecoa também esse riso.
"A questão da gargalhada é uma questão muito pertinente também para as pessoas negras. Durante muito tempo, as pessoas negras eram avaliadas pelos seus dentes, pela qualidade dos seus dentes, valiam mais ou menos em termos de mercado. Então também há esta coisa e também, muitas vezes, os comportamentos. Quando estamos na presença de outras pessoas, qual é o nosso nível aceitável para rir e, pronto, há aqui um riso que tem várias simbologias, profundidades”.
A exposição teatral "Pérola sem Rapariga” promete ser um evento cultural de destaque, oferecendo ao público uma experiência artística enriquecedora, que explora a identidade afrodescendente por meio de uma abordagem multidisciplinar. Com a união entre a encenação de Zia Soares e o texto de Djaimilia Pereira de Almeida, o espectáculo desafia conceitos preestabelecidos, levando os espectadores a uma reflexão profunda sobre a relação entre o corpo, a narrativa e a representatividade afrodescendente.
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