O Projecto Mais e Melhor Saúde foi lançado, sexta-feira, no Hospital Municipal do Cazenga, em Luanda.
Cerca de 797 novos casos de lepra foram diagnosticados durante o ano passado, em todo o país, e deste número, 93 são crianças, informou este sábado, em Luanda, o coordenador nacional do Programa de Controlo e Combate da doença.
Ernesto Afonso explicou, por ocasião do Dia Mundial de Combate à Lepra, celebrado hoje, que o país possui um total de 1.785 leprosos, todos em tratamento, e deste, 797 são casos novos, o que perfaz uma taxa de prevalência média de 2,4 para cada 100 mil habitantes.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), disse o coordenador nacional, recomenda os países a terem uma taxa reduzida de, pelo menos, 0,5 doentes para dez mil habitantes.
"Com base nos dados da OMS, Angola consta da lista dos 22 países com alta prevalência da doença. Por isso, o Executivo, por meio do Ministério da Saúde, está a trabalhar para reduzir os indicadores, promovendo o diagnóstico precoce e o tratamento oportuno, a partir das unidades primárias de saúde”, realçou.
Do total de casos diagnosticados em 2022, disse, 115 têm deformidade do grau dois, como úlceras, deficiências que causam deformidades semelhantes a garras, nas mãos e nos pés, assim como deformam a orelha e os olhos. Nesses casos, explicou, o processo de tratamento e cura é muito mais prolongado.
"Esses sinais são uma demonstração clara de que os doentes de lepra vão às unidades de saúde muito tarde, porque têm receio de serem discriminados e também por falta de conhecimento sobre a doença, daí a institucionalização de um Dia Mundial, como forma de sensibilizar as pessoas sobre a discriminação, promover a ajuda aos leprosos e a sua reintegração social”.
Ernesto Afonso adiantou que excluindo o ano 2020, por conta das limitações impostas pela Covid-19, os números da doença tendem a aumentar, mesmo com as melhorias na qualidade dos serviços de saúde prestados. "É preciso haver campanhas de busca activa, que permitam ir ao encontro dos doentes nas comunidades”.
O estigma
As pessoas com esta doença, acrescentou, vivem num ambiente de estigma e muita discriminação e, por isso, têm receio de ir aos hospitais em busca de tratamento e acabam por se isolar.
"A solução tem sido a realização de campanhas de rastreio nas comunidades, para encontrar pessoas com sinais da lepra e começar logo o tratamento”, acentuou.
Segundo Ernesto Afonso, desde o ano de 2005 que a OMS considerou a lepra como não sendo mais um problema de saúde pública, apesar de muitos países ainda registarem alta prevalência da doença como é o caso de Angola, sendo assim, foi orientado pela referida instituição, que as leprosarias como centros exclusivos para o tratamento específico da lepra, deixariam de existir.
"Hoje, os doentes de lepra devem ser tratados em todas as unidades sanitárias do primeiro nível de saúde. Todas as províncias devem estar preparadas para diagnosticar um caso suspeito de lepra e começar a medicação, para se evitar as complicações graves da doença”, disse.
Atenção a províncias mais endémicas
As províncias mais endémicas do país são, para Ernesto Afonso, Luanda, que lidera a lista com 126 casos registados, seguida de Benguela, Huambo, Bié, Malanje, Cuanza-Sul, Cuando Cubango, Huíla, Lunda-Sul e Moxico.
Os números apresentados por estas províncias, realçou, preocupa porque no país existem 111 unidades sanitárias que prestam serviço de saúde a pacientes com lepra.
Para o responsável, o número é muito ínfimo, pelo facto de que, muitos pacientes com lepra vivem em zonas remotas onde, por vezes, não há uma unidade de saúde para fazerem o devido diagnóstico e tratamento.
"Por isso, há a necessidade de irmos ao encontro destes pacientes, porque quanto mais cedo diagnosticarmos a doença, evitamos complicações graves que provocam, muitas vezes, incapacidade irreversível”, sublinhou.
Em relação às multidrogas terapias (MDT), medicação administrada aos doentes de lepra, Ernesto Afonso explicou que têm sido doados mundialmente pela OMS, não há roturas de stock, houve apenas algumas falhas em 2020-2021 tendo em conta os efeitos causados pela pandemia da Covid-19.
Efeméride instituída pela ONU celebrada
desde 1954
O Dia Mundial dos Leprosos celebra-se no último domingo de Janeiro que se comemora o Dia Mundial da Lepra. Este dia foi instituído em 1954 pela Organização das Nações Unidas (ONU), a pedido de Raoul Follereau, o apóstolo dos leprosos do século XX, que um dia afirmou que "não há sonhos grandes demais”.
Foi escolhido o último domingo de Janeiro para a celebração da efeméride, em honra a Gandhi, falecido neste dia, que afirmou que "eliminar a lepra é o único trabalho que não conseguiu completar na sua vida”, por isso, o objectivo mundial é continuar o seu trabalho.
A lepra é uma doença infecciosa crónica e contagiosa, que afecta os nervos do corpo e da pele. É causada por um bacilo chamado Mycobacterium leprae.
A lepra também é conhecida por doença de Hansen, em homenagem ao médico holandês Gerhard Hansen, que descobriu o bacilo responsável pelo surgimento da patologia em 1873.
A infecção da lepra geralmente não manifesta sintomas durante os primeiros cinco a 20 anos, mas , gradualmente, vão-se desenvolvendo granulomas nos nervos, trato respiratório, pele e olhos. Isto pode resultar na diminuição da capacidade de sentir dor, o que por sua vez pode levar à perda de partes das extremidades devido a lesões ou infecções sucessivas que passam despercebidas ao portador. Estes sintomas podem também ser acompanhados por diminuição da visão e fraqueza.
A lepra tem cura, apesar de necessitar de uma longa época de incubação e de tratamento. Na sua origem estão a falta de água potável e de higiene, a desnutrição entre outros males associados à pobreza.
Segundo a OMS, todos os anos surgem entre 400 a 500 mil novos casos de lepra no mundo.
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