Sociedade

Dez mil pessoas afectadas pelas chuvas registadas na província de Luanda

António Cristóvão

Jornalista

Comandante provincial-adjunto para a Gestão de Protecção Civil deu a conhecer que 2.056 famílias estão desalojadas devido à inundação das suas residências

29/11/2023  Última atualização 08H12
© Fotografia por: Edições Novembro
Dez mil pessoas foram afectadas pelas chuvas que cairam no final da noite de segunda-feira, durante a madrugada e todo dia de terça-feira, na província de Luanda.

Os dados foram divulgados, ontem à noite, na sede do Governo da Província de Luanda (GPL), pelo sub-comissário e comandante provincial-adjunto para a Gestão de Protecção Civil, Bravo Pereira Mendes, durante a leitura de um comunicado de imprensa sobre os danos causados pela chuva na capital do país.

"Foram 12 horas de chuva entre moderada e intensa, que afectou praticamente todo o território da província de Luanda”, disse aos jornalistas.

Segundo o sub-comissário, 2.056 famílias ficaram desalojadas devido à inundação das suas residências.

Bravo Mendes revelou à imprensa que o município de Viana foi o mais afectado pela chuva, seguido pelo Kilamba Kiaxi e Talatona, acrescentando que 92 vias ficaram obstruídas, intransitáveis e alagadas com a água que dificultou o trânsito. 

O sub-comissário e comandante provincial adjunto para a Gestão de Protecção Civil explicou que a chuva atingiu, também, equipamentos sociais, infra-estruturas públicas e privadas, igrejas, hospitais, Esquadras de Polícia e escolas.

De acordo com o sub-comissário Bravo Mendes, os números apresentados são preliminares e estão a ser actualizados pelo Centro de Coordenação Operacional da Comissão Provincial de Protecção Civil, coordenada pelo governador de Luanda, Manuel Homem.

 
Estrada nº 100

A ligação pela estrada nº 100, entre Luanda e o Sul do país, está garantida, revelou, ontem, o vice-governador para a Área Técnica e Infra-Estrutura, durante a comunicação à imprensa na sede do GPL, para o ponto de situação sobre a chuva na capital do país.

Cristino Mário Ndeitunga deu a conhecer que a garantia foi dada pelo ministro das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, Carlos Alberto dos Santos, que visitou o referido troço nacional para avaliar o surgimento de ravinas, bem como a Centralidade do KK5000, para constatar os danos causados pelas chuvas na província de Luanda.

O vice-governador de Luanda anunciou que o governador Manuel Homem reúne-se, hoje, com os membros do Comité Operativo da Comissão Provincial de Protecção Civil.

Em relação às famílias afectadas pela chuva, Cristino Mário Deitunga disse que a Comissão de Protecção Civil da Província de Luanda está a trabalhar para prestar assistência às vítimas.

Grupo técnico

Um grupo técnico constituído por membros do Governo Provincial de Luanda (GPL) e do Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação (MINOPUH) inspeccionou, segunda-feira, as obras em curso em ruas do Distrito Urbano da Samba e no município do Cazenga, no âmbito do melhoramento das vias secundárias e terciárias da capital do país.

De acordo com uma nota de imprensa do GPL, a equipa, coordenada pelo vice-governador Cristino Mário Ndeitunga, percorreu, demoradamente, as ruas do Sun Set, Silêncio e Augusta, no Distrito Urbano da Samba, com o intuito de avaliar o andamento e execução das empreitadas. 

Segundo o comunicado, o grupo técnico passou, também, por algumas artérias do Cazenga, onde verificou o funcionamento das bacias de retenção de Cambambe, no Distrito Urbano de Kalawenda, do Tunga, no Tala Hady, ambas no âmbito do programa de manutenção da macro e micro drenagem do GPL.


Capital do país
Reportagem do Jornal de Angola percorre zonas mais críticas

 
Casas inundadas, ruas intransitáveis e deslizamento de terras é o cenário registado, ontem, na sequência das fortes chuvas que se abatem sobre a província de Luanda.

Os municípios de Viana, Belas, Cacuaco, Talatona, Kilamba Kiaxi e Cazenga têm as zonas mais críticas.

As últimas quedas pluviométricas começaram na madrugada de ontem e duraram quase toda a manhã e tarde, deixando um rasto de destruição e falta de meios de transportes públicos, segundo constatou a equipa de reportagem do Jornal de Angola.

No Distrito Urbano do Sambizanga, por exemplo, além de casas inundadas, os moradores tinham dificuldades de se deslocar, porque as ruas estavam alagadas.

Em declarações ao Jornal de Angola, Edgar Domingos, morador da rua do Betão do Zaire, disse que sempre que chove o cenário é desolador. 

"Sempre que chove vivemos períodos difíceis e enfrentamos inúmeras dificuldades. A título de exemplo, não fomos trabalhar, porque temos que retirar a água que entrou em nossas casas”, explicou, visivelmente aborrecido.

Edmilson Vunge, outro morador, corroborou as declarações de Edgar Domingos, acrescentando que "somos obrigados a ficar em casa para evitar males maiores nas nossas residências. Se a gente se ausentar, a coisa pode vir a ser pior”.

No município do Talatona a dificuldade, ontem, era a quantidade de água nas ruas, cenário visível, também, no Distrito Urbano 11 de Novembro, bem como na rotunda da Fubu.

 
Rangel com ruas intransitáveis                                                           

As ruas secundárias e terciárias do Distrito Urbano do Rangel, como as das Comissões, Alentejo, Precol, do Povo, Terra Nova e a via que dá acesso à Escola Ngola Mbandi estavam, ontem, inundadas, dificultando a circulação rodoviária.

Devido à falta de valas de drenagem e esgotos, a água da chuva fez com que muitas casas ficassem inundadas, tendo-se registado o desabamento de outras tantas.

Alguns moradores, agastados com a situação, retiravam a água que entrava em suas residências, atirando-a para a rua, onde crianças brincavam, sem noção do perigo dos charcos causados pelas últimas chuvas, que provocaram, também, muita lama e tornaram o piso escorregadio.

 
Circulação difícil no Cazenga

A equipa de reportagem do Jornal de Angola constatou, no município do Cazenga, logo à entrada do Mercado dos Kwanzas, a existência de um charco de água, que dificultava o trânsito e a circulação de peões.

Lixo nas faixas de rodagem, famílias a tirarem água das suas residências e munícipes a circularem com dificuldades era o cenário mais visível, ontem, no Cazenga.

Nas imediações do Mercado dos Kwanzas, ao lado de um Centro Médico, a entrada da rua estava toda alagada e os moradores tinham muitas dificuldades para circular.

Uma das moradoras disse, ao Jornal de Angola, que a água da chuva cria muitos constrangimento ao trânsito e à circulação da população, provocando, por outro lado, o surgimento de muitos insectos. 

"Anteriormente, tínhamos uma electrobomba, mas está estragada, e a água pode ficar parada aqui durante meses”, explicou.

Na 6º Avenida (IFA), na rua da Quiçanga, encontramos um lago, onde os habitantes estavam a retirar a água com uma electrobomba, atirando-a para a via principal.

Paulo Manuel, morador, explicou que os charcos de água são provocados devido ao baixo nível da estrada. "A Administração deveria colocar uma ponte ou uma vala de drenagem, para a passagem das águas”.

Neste momento, continuo, estamos impedidos de sair para cumprir as nossas tarefas laborais, porque, para diminuir a água parada, precisamos de, pelo menos, dois a três dias, mesmo com a electrobomba.

 
Via do Ramiro corre o risco de ficar intransitável

Parte da faixa de rodagem da via Benfica/Sumbe, na Estrada Nacional número 100, corre o risco de ficar intransitável, devido ao acumular da água da chuva, impedida de circular por inoperância da vala de drenagem.

O responsável de obras da empresa Omatapalo, Rui Adriano, explicou que está a ser feito um trabalho paliativo para que a circulação rodoviária não seja interrompida.

"Estamos a tentar fazer passar a água no túnel que dá descarga para o mar, senão vai procurar caminho e derrubar as paredes que protegem a estrada. A água deve passar do outro lado da ponte. O trabalho que está a ser feito é provisório, para que os automobilistas possam transitar em segurança”, sublinhou.

Ernesto Mucombe, morador, contou à nossa reportagem que quando eram 9h00 deu conta que a via estava a ceder. "Quando notei o que estava a acontecer chamei os vizinhos para me ajudarem a fazer a sinalização, para que os veículos pesados não passassem por essa faixa de rodagem, para não provocar muitos danos”.

O administrador distrital do Ramiro, Alberto Lumete, explicou que o constrangimento é devido à construção de um muro perto da vala de drenagem. "Durante estes dias de chuva, o lixo arrastado pela água provocou o impedimento da passagem das águas na vala de drenagem, fazendo com que ficasse acumulada num único lugar”.

Alberto Lumete disse que as últimas chuvas provocaram três mortes no distrito que lidera e as ruas secundárias e terciárias estão intransitáveis. "Estamos a registar as ocorrências para apresentarmos ao município, para que se possa dar solução aos problemas”, referiu.

 
Falta de transportes públicos

A falta de transportes públicos tem sido um problema quase sempre que chove. Ontem, por exemplo, os poucos taxistas que saíram às ruas optaram por "linhas curtas”, criando inúmeras dificuldades aos que precisavam de se deslocar de um ponto para o outro.

Armindo Canda, Miguel Brás e Sandra da Silva 

Desabamento de moradia
Ndalatando regista a morte de cinco membros de uma família
 

Cinco membros de uma família, pai e quatro filhas, morreram na madrugada de terça-feira, em Ndalatando, província do Cuanza-Norte, devido ao desabamento de uma moradia, provocado pelas fortes chuvas que se abateram sobre a região, desde às 17 horas de segunda-feira, segundo o porta-voz do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros.

O subinspector bombeiro Hélder Milagre explicou, ontem, que a moradia havia sido construída com adobes no bairro da Comarca e desabou porque o alicerce ficou fragilizado devido à força da água da chuva.

Segundo Helder Milagre, presume-se que, durante a hora do infortúnio, as vítimas se encontravam a dormir.

Devido à complexidade da zona do sinistro, agravada com a água da chuva, explicou, só foi possível remover os corpos das vítimas às 11h30 de ontem. O Governo no Cuanza-Norte lamenta o infortúnio e garante apoio às famílias para a realização dos funerais.

Nos últimos trinta dias, além das vítimas mortais, as chuvas danificaram várias infra-estruturas e estradas, segundo o porta-voz do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros no Cuanza-Norte, entrevistado pela Rádio Nacional, que aconselha a população no sentido de redobrar os cuidados.

 
Outras áreas afectadas

Além de Luanda, Cuanza-Norte e Lunda-Sul, choveu, também, no Zaire, tendo-se registado cenário semelhante: famílias desalojadas, casas inundadas e vias alagadas.

No município do Kuimba, província do Zaire, a administradora municipal, Isabel Fineza Queba, confirmou, à Rádio Nacional, a destruição de uma ponte na via da Serra da Canda.

As primeiras ajudas para acudir as famílias no Loge Pequeno já chegaram ao local, segundo o director do Gabinete de Comunicação Social, Agnelo Alberto.

De referir que o Serviço de Protecção Civil e Bombeiros continua a recolher dados dos danos causados pelas chuvas que se registam um pouco por todo o país.

O porta-voz do Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros, Félix Domingos, disse, ontem, que os prejuízos causados pela chuva são enormes em todo o território nacional. 

Félix Domingos aconselha as famílias a redobram os cuidados, principalmente, quando estiver a chover, e a evitar construir em zonas de risco.


André Brandão | Ndalatando

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