Política

Presidente defende vacina contra a Covid-19 como bem da humanidade

César Esteves | Nova Iorque

Jornalista

O Presidente da República, João Lourenço, defendeu, ontem, nas Nações Unidas, a classificação da vacina contra a Covid-19 como um bem da humanidade, de acesso universal e aberto, de modo a permitir uma maior produção e distribuição equitativa à escala mundial.

24/09/2021  Última atualização 09H05
João Lourenço apontou a solidariedade e a simplificação no acesso às vacinas como a única via para vencer a Covid-19 © Fotografia por: DR
Quinta figura a discursar ontem neste evento de alto nível da ONU, o Chefe de Estado apontou, igualmente, a solidariedade e a simplificação nos processos de acesso às vacinas como a única via capaz de conduzir o mundo à vitória contra a pandemia da Covid-19. Disse ser este o caminho que vai permitir a imunização, a mais larga possível, da população mundial, tendo, depois, lamentado a disparidade existente entre umas e outras nações, no que respeita ao acesso às vacinas, o que considera "chocante”. 
 O Presidente afirmou que essas diferenças têm permitido, em alguns casos, a administração da terceira dose, quando, noutros casos, como em África, a larga maioria das populações ainda se encontra sem a primeira dose. Por essa razão, João Lourenço lançou, a partir do palanque da sede das Nações Unidas, um apelo para que sejam discutidas e aprovadas, em sede desta organização, decisões favoráveis à liberalização do regime das patentes de produção de vacinas, para que seja possível a sua fabricação por um número cada vez maior de países, tornando-as, deste modo, mais acessíveis para todos.  

 "A pandemia que enfrentamos tem uma dimensão global e acentuou, por isso mesmo, a ligação e a interdependência existentes entre as nossas nações”, destacou o estadista angolano.

 O Chefe de Estado referiu que a luta contra a Covid-19 e as suas novas e assustadoras variantes prossegue e que só o esforço conjugado, exercido por todos, sem distinção de ricos e pobres ou de outro tipo de categorias sociais, será o único caminho a ser trilhado para se enfrentar a pandemia com resultados que satisfaçam as expectativas de retorno cabal das populações à vida normal. 

 O Presidente da República ressaltou que, tal como se registou em outras paragens, a pandemia da Covid-19 também provocou efeitos e consequências negativas na vida económica e social angolana. Todavia, disse ter sido possível agir, atempadamente e com bastante determinação, para conter a expansão da contaminação a uma escala que permitiu manter os níveis de contágio dentro dos limites da capacidade de resposta das estruturas nacionais de saúde.

 "Mesmo assim, a avaliação dos prejuízos que derivam da pandemia da Covid-19 para a economia nacional dão-nos resultados preocupantes, para os quais temos vindo, agora, a procurar soluções, que ajudem a mitigá-los, para aliviar o sofrimento das populações”, realçou. 

 João Lourenço reconheceu que tudo isso só foi possível fruto dos apoios e iniciativas "que merecem todo o nosso apreço”, por nos permitirem algum alívio no plano das responsabilidades financeiras perante os nossos credores, o que nos possibilita dispor de alguma capacidade para fazer face às nossas enormes e múltiplas necessidades”.

Perante este quadro, no qual sobressai a degradação acentuada das condições de vida das populações e do tecido económico e social, prosseguiu, "temos que fazer uma profunda reflexão para que sejam  encontradas soluções de carácter duradouro e que sirvam de base à reconstrução das economias mais severamente afectadas pela crise sanitária mundial”. 

Apesar deste quadro, o Presidente reconheceu o surgimento das vacinas que a comunidade científica mundial desenvolveu com louvável e admirável rapidez, cujo grande propósito é o da preservação da espécie humana, ameaçada pela pandemia da Covid-19.
  Paz e segurança 


O Presidente da República destacou, também, o esforço que tem vindo a desenvolver no sentido de contribuir para a paz e a estabilidade na África Central, na região dos Grandes Lagos e noutros pontos do continente africano. Ressaltou que a sensibilidade angolana para os problemas da paz e da guerra resultam do longo conflito interno que viveu durante várias décadas e que permite ter a noção clara da importância da busca de soluções para os diferendos pela via do diálogo e do entendimento entre as partes beligerantes.    "Temos procurado partilhar com outros povos esta experiência angolana bem-sucedida, na convicção de que a nossa acção, se for bem entendida, levará, muito seguramente, a resultados favoráveis ao fim dos conflitos e ao restabelecimento da paz em alguns dos países afectados”, augurou.  Apesar disso, o Presidente salientou que ainda preocupa, sobremaneira, a alteração da ordem constitucional que se regista, amiúde, em países africanos com recurso à força militar, sobretudo por estes actos inconstitucionais não estarem a merecer uma reacção adequada e suficientemente vigorosa da comunidade internacional, no sentido de desencorajar tais práticas, que considerou, a todos os títulos, reprovável. Neste particular, apontou como exemplo o que se assistiu no Mali e, mais recentemente, na República da Guiné.

 João Lourenço apelou à comunidade internacional a actuar com tenacidade, não ficando apenas por declarações de condenação, por forma a forçar os actores de tais actos a restituírem o poder aos órgãos legitimamente instituídos.   "Não podemos continuar a permitir que exemplos recentes, como os da Guiné e outros, prosperem em África e em outros continentes”, frisou.

 O Chefe de Estado disse que esta sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas constitui uma grande oportunidade para os Chefes de Estado e de Governo exigirem, em uníssono, a libertação imediata e incondicional do Presidente da República da Guiné, Alpha Condé. 

 O estadista angolano disse preocupar, também, as ameaças à paz e à segurança mundial, que se mantêm por acção de grupos extremistas no Sahel africano, na República Democrática do Congo, em Moçambique e noutras regiões do planeta, que obrigam a comunidade internacional a mobilizar-se continuamente para reforçar a capacidade de resposta a esta actividade perigosa, que atenta contra a estabilidade social e económica dos países visados. 

 João Lourenço disse que se está a assistir, de forma lamentável, ao regresso do mercenarismo, com o recrutamento, a partir de qualquer parte do mundo, de profissionais sem exército, pagos para matar, desestabilizar países, depor políticos e regimes democraticamente eleitos "mas incómodos”. Frisou que este fenómeno já foi fortemente condenado e combatido, mas, hoje, "infelizmente”, é  encorajado e alimentado por forças poderosas que se escondem no anonimato.

  O Presidente defende uma posição conjunta entre as Nações Unidas, União Africana e, de uma forma geral, a Comunidade Internacional, a fim de se encorajar as autoridades etíopes a encontrarem os melhores caminhos para pôr fim ao conflito na região de Tigray, afastando a ameaça de uma catástrofe humanitária, antes que possa ganhar contornos mais graves e seja tarde demais.  
 Alterações climáticas

Tal como foi vaticinado, o Presidente voltou a falar da questão das alterações climáticas. Disse que a periodicidade e a ferocidade dos furacões, enchentes, incêndios florestais, deslizamentos de terra, vulcões e tremores de terra, que devastam cidades inteiras e aglomerados populacionais no meio rural, por vezes com um cortejo considerável de mortes, deve chamar a atenção de todos os governos, organizações não-governamentais, académicos, cientistas e sociedade civil.

 João Lourenço apelou para a necessidade de união de esforços na protecção do planeta terra, "nossa casa comum, que vem dando sinais cada vez mais evidentes de que não está satisfeito com a forma como o tratamos, defendendo-se da maneira mais violenta possível”. 

  Chefe de Estado concede várias audiências

Minutos depois de discursar na sede das Nações Unidas, o Presidente da República teve, na unidade hoteleira em que está hospedado, um encontro com o homólogo do Burundi, Evariste Ndayshi Miye.

O Chefe de Estado recebeu, em audiências, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e Cooperação Internacional dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Shakhboot Nahyan Nayhan, e a ministra dos Negócios Estrangeiros, Integração Africana e Diáspora da Côte d´Ivoire. Kandia Camara, foi portadora de uma mensagem do Presidente Alassane Outtara. 

Ainda ontem, no período da tarde, recebeu, igualmente, em audiência, Vera Songwe, secretária executiva da Comissão Económica das Nações Unidas para África. Hoje, o Presidente volta a receber outras entidades, com destaque para o Príncipe Harry e concede uma entrevista ao Wall Street Journal.


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