Opinião

Cartas dos Leitores

O nosso lixo Acho que muito já se escreveu sobre os aterros, legais e ilegais, que existem para a deposição do lixo, aqui em Luanda. Sei que a cidade de Luanda tem apenas um aterro sanitário, ali nos lados dos Mulenvos e que, ao que se idz, está a aquém da capacidade para processar todo o lixo que é produzido na cidade de Luanda e arredores.

02/08/2021  Última atualização 09H38
Acho que é hora de se repensar não apenas o papel do actual aterro sanitário, mas igualmente pensar-se em alternativas, tais como a construção de mais aterros, a remodelação ou expansão do actual e eventualmente investir na componente de reciclagem que os aterros podem e devem comportar. A produção de lixo, em Luanda, está "superar" todas as diligências relacionadas com a capacidade das operadoras no sentido da sua melhor gestão. É preciso inverter o quadro, baseado na ideia de que se a capacidade de gestão e recolha deverá desproporcionalmente superar o volume de produção de resíduos. Não podemos eternamente viver com a realidade contrária, em que a produção de lixo é desproporcionalmente maior que a recolha.


O problema do lixo em Luanda teve e continua a ter a ver com hábitos e costumes, com a gestão das operadoras e a ausência de uma estratégia clara e perene de limpeza, que engaje todas as equipas governativas que passem pelo Governo Provincial de Luanda. Não se pode passar  licenças para algumas empresas, quase sempre as mesmas, que, no fim de contas, prestam sempre um mau serviço.

Sempre que há mudança de governo ao nível da província de Luanda o problema das operadoras vêm logo à superfície na medida em que acabam sempre "sacrificadas" pela nova liderança à frente da província a favor de outras para novos contratos.  É muito lixo um pouco por toda a parte e até parece que se esgotaram todas as soluções para lidar com o lixo.


Não consigo perceber o que é que se está a passar com a gestão e recolha dos resíduos sólidos, na medida em que precisamos de dar o passo mágico. Este deverá ser caracterizado, como disse e insisto, na inversão da actual realidade em que a capacidade de recolha é inversamente proporcional à produção de lixo. Seria interessante saber como as populações e as operadoras de limpeza locais gerem e dispõem o lixo. O nosso problema é que pretendemos sempre fazer "copy & paste" de modelos de gestão e recolha de lixo de realidades distantes do ponto de vista da idiossincrasia do povo angolano. É preciso aprendermos com países cujas populações sejam culturalmente mais próximos das nossas. 


Urge fazer-se alguma coisa na medida em que, como disse, em algumas ruas, as viaturas partilham o asfalto com as quantidades de resíduos, que se espalham sobre as estradas. Se olharmos para a periferia de Luanda, há muito lixo por se recolher e que, nalguns casos, passa quase despercebido atendendo  a desordem urbanística. Além da sucata que existe em muitos bairros e à volta dos quais acumula-se muito lixo, não há dúvidas de que essa situação deixa muita gente perplexa sobre a situação por que passamos com o lixo em todo o lado. Espero que haja mais sensibilidade não apenas com o lixo nas zonas urbanas, mas sobretudo com os resíduos que se acumulam na periferia e que se confundem como uma espécie da "estrutura paisagística" local, traduzida em ferro velho, plástico, trapos velhos, viaturas abandonadas, cheiro a urina, areia e poeira à volta. É o nosso lixo.
Maria Paulo|Terra-Nova



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