Sociedade

Funcionários do BPC pedem justiça

André Sibi

Jornalista

Alguns dos 200 funcionários do Banco de Poupança e Crédito (BPC) que integram a lista dos que podem ver o vínculo contratual a findar, nos próximos dias, entre gerentes, subgerentes, tesoureiros, caixas e pessoal de base, manifestaram-se, ontem, defronte ao edifício onde estão localizados os escritórios centrais do Conselho de Administra-ção da referida instituição, na Marginal de Luanda.

30/09/2020  Última atualização 13H20
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Em declarações ao Jornal de Angola, Nelson Paulo, funcionário do BPC há 12 anos, disse que a manifestação deve-se à forma como o Conselho de Administração do Banco de Poupança e Crédito está a conduzir o processo de despedimento, sem observar os princípios consagrados na Lei Geral de Trabalho, em obediência a Constituição da República de Angola.

“Simplesmente fomos notificados com uma carta de aviso prévio para despedimento, mas, sem formalizar o processo, o banco já está a despedir os funcionários, depositando nas contas entre três e quatro milhões de kwanzas, sem qualquer negociação”, disse Nelson Paulo, acrescentando que alguns funcionários foram surpreendidos com uma abonação, superior ao valor que auferem.

“Encontramos entre três e quatro milhões de kwanzas nas nossas contas bancárias, sem qualquer explicação concreta”, referiu, sublinhando que o processo está a privilegiar alguns e a prejudicar outros, pois, dos 200 funcionários abrangidos, numa primeira fase, apenas 80 foram afectados directamente.
Engrácia Manuel, que veio do Cunene para participar da manifestação, disse que a agência “Tira” no Cunene foi encerrada em Março e as cartas de despedimento aos funcionários entregues em Junho, pela directora regional Carolina Costa.

Sindicado promete mais manifestações

O secretário-geral do Sindicato Nacional do Sector Bancário, Filipe Makengo, disse, ao Jornal de Angola, que o que ocorreu ontem, defronte aos escritórios do BPC, constitui o início de um conjunto de manifestações que os empregados do sector bancário vão realizar um pouco por todo o país, pois a solução adoptada pelo Ministério das Finanças, em despedir os funcionários, não é a mais acertada.
“O Estado angolano deve exigir às empresas para que pessoas singulares que contraíram crédito, junto do BPC, reembolsem o valor, para que o banco volte a ganhar liquidez, ao invés de despedir inocentes”.

Para o sindicalista, além da recuperação do crédito, deve-se reduzir os bónus ao Conselho de Administração do BPC, que consomem vários milhões de kwanzas, com despesas supérfluas e em viaturas top de gama.
“O Estado não deve accionar a Recredite para comprar o crédito mal parado do BPC, sob pena de perdoar os devedores e sacrificar os funcionários de base, que serão forçados a pagar uma despesa criada por indivíduos devidamente identificados”.

Gabinete de Comunicação Institucional esclarece

O director do Gabinete de Comunicação Institucional e Marketing do BPC, José Matoso, explicou que a instituição tem mais funcionários do que muitos bancos privados juntos e que não produz lucros, razão pela qual vai reduzir os colaboradores, de cinco mil para dois mil.
Numa primeira fase, acrescentou, os despedimentos vão abranger os funcionários das áreas comerciais e, a partir do próximo mês, outras direcções.
“De modo a reduzir o nível de dificuldade dos funcionários que vão ser despedidos, o banco lançou um pacote de incentivos, que vai pagar a indemnização aos abrangidos, multiplicando um salário base por cada ano de serviço na empresa, mais 25 por cento do valor total”, referiu.
Além deste benefício, ainda de acordo com José Matoso, os funcionários que contraíram crédito junto do BPC, até 25 milhões de kwanzas, estão isentos de ressarcir o valor ao banco.

Os funcionários a serem despedidos vão beneficiar, igualmente, de um crédito de dez milhões de kwanzas cada um, para empreender em outros segmentos de negócio, bem como duas bolsas de estudo e seis meses de Seguro de Saúde.
Por outro lado, esclareceu que o cenário de falência que está a ser desenhado para o BPC, nesta altura, deve-se a um conjunto de créditos bancários cedidos a várias pessoas e empresas, mediante orientação superior, sem o preenchimento de qualquer processo no balcão.
O director do Gabinete de Comunicação Institucional e Marketing do BPC acrescentou que muitos funcionários do banco contribuíram para o desaparecimento de vários processos dos clientes, o que está a dificultar a recuperação de alguns créditos.