Política

Portugal intercepta 10 milhões de dólares de Isabel dos Santos

A empresária Isabel José dos Santos, por intermédio do general Leopoldino “Dino” Fragoso do Nascimento, está a tentar transferir alguns dos seus negócios para a Rússia, tendo a Polícia Judiciária Portuguesa interceptado uma transferência no valor de dez milhões de euros que se destinava àquele país.

31/12/2019  Última atualização 21H29
DR © Fotografia por: Polícia Judiciária travou transferência intermediada pelo general Dino para uma conta de Isabel dos Santos na Rússia

Isso mesmo é declarado no despacho do Tribunal Provincial de Luanda que, na segunda-feira, determinou o arresto de nove empresas da empresário e do esposo, Sindika Dokolo, um documento em que se explica que os dois “estão a ocultar o património obtido às custas do Estado, transferindo-os para outras entidades”.
De acordo com o despacho, a operação de transferência foi bloqueada pela Unidade de Informação Financeira (UIF) da Polícia Judiciária portuguesa quando os fundos estavam depositados numa conta no Millennium BCP, um banco português titulado pelo general Dino, tendo como uma conta de uma sociedade chamada Woromin Finance Limited num banco na Rússia.
O documento revela outras movimentações consideradas suspeitas, que levaram os procuradores a acreditar na orquestração de uma fuga de capitais, o que inclui informações dos Serviços de Inteligência e Segurança do Estado a desvendar a intenção de Isabel dos Santos “pretender vender as participações sociais que detém na Unitel a um cidadão árabe, que já encetou diligências em Angola para aquisição das participações sociais”.
A empresária emergiu ontem na imprensa portuguesa entre as primeiras reacções à decisão da Sala do Cível Administrativo do Tribunal Provincial de Luanda, depois de ter publicado um “post” na rede Twiter a apelar à “tranquilidade e confiança” das suas equipas de trabalho.
A empresária, que saiu de Angola há dois anos, em coincidência com um período em que as autoridades procuravam notificá-la para se apresentar à justiça, utilizou a naquela rede social para declarar por mensagem que, em relação ao arresto, “o caminho é longo” e “a verdade há de imperar”.
“Vamos continuar, todos os dias, em todos os negócios, a dar o nosso melhor e a lutar por aquilo que eu acredito para Angola”, lê-se na mensagem em que a empresária contesta um comunicado da Procuradoria-Geral da República (PGR) que dá conta do arresto preventivo de contas bancárias pessoais de Isabel dos Santos, Sindika Dokolo e Mário da Silva (o gestor da fortuna da empresária), além de nove empresas nas quais detêm participações sociais.
A PGR declara que os três celebraram negócios com o Estado angolano através das empresas Sodiam, empresa pública de venda de diamantes, e com a Sonangol, petrolífera estatal, que causaram ao Estado um prejuízo de cerca de 1.137 milhões de dólares.
O activista Rafael Marques considerou à estação televisiva portuguesa SIC que o arresto “É uma demonstração de que a impunidade em Angola não será a mesma” e que a decisão conforma “uma questão de justiça, porque não podemos continuar a falar em combate à corrupção, quando os maiores corruptos continuam impunes”.
Os bens reclamados pelo poder judicial, acrescentou, “foram adquiridos através de decretos presidenciais com fundos do Estado e devem retornar aos seus titulares, que são as instituições do Estado e, por essa via, o povo angolano”.
O economista Carlos Rosado ouvido ontem pelo Jornal de Angola considerou o valor do império de Isabel dos Santos “difícil de calcular”, quando indagado em relação ao valor das empresas representadas na arresto ordenado segunda-feira, em Luanda.
Carlos Rosado notou que a determinação desses valores ocorre quando as empresas estão cotadas em bolsa, onde obtêm valor de mercado, ou quando publicam relatórios e contas, divulgando o valor dos activos. As empresas de Isabel dos Santos não estão cotadas, nem publicam as contas.
Em Janeiro de 2019, a revista “Forbes” atribuiu à empresária uma fortuna de 2,3 mil milhões de dólares, depois de perdas que cortaram a riqueza da angolana dos 2,7 mil milhões em 2018 face ao ano precedente, quando também já tinha registado um rombo de 400 milhões, baixando-a dos 3,1 mil milhões de dólares.

Especial