Reportagem

Canal no rio Cunene pode minimizar impacto da seca na região

Falta quase tudo no Curoca, município que dista  mais de 300 quilómetros da capital da província do Cunene, Ondjiva. Há carência de  infra-estruturas económicas e sociais, como escolas, habitações, vias de acesso, hospitais, estabelecimentos comerciais e produtos de primeira necessidade.

27/11/2018  Última atualização 06H34

Mais gritante ainda é a carência de água para o consumo humano e do gado, a principal riqueza dos povos da região. A estiagem preocupa não só os habitantes, mas, também, as autoridades locais e o Executivo. O governador provincial, VigílioTyova, chegou mesmo a afirmar que a falta de água na região promove o nomadismo, quando a intenção é   reassentar as populações junto dos pontos de água, oferecendo-lhes terra, instrumentos agrícolas e algum gado de tracção para torná-las sedentárias e, assim, possibilitar o controlo das mesmas e garantir a escolaridade das crianças.
A preocupação das autoridades com o fenómeno e consequências da seca e estiagem na região é permanente. Em Janeiro deste ano, o Curoca recebeu a visita de  um grupo de deputados do MPLA, dois meses depois de uma delegação interministerial, e de 6 a 7 deste mês, a do Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa.
Todas estas visitas visaram,  constatar a realidade económica e social dos habitantes do município do Curoca, constituídos na sua  maioria pelas comunidades Vatwa, Mungambwe, Muhakavona, Muhimba, Kavikwa e Ndimba, contabilizados durante o Censo de 2014 em 40.871 indivíduos, que continuam a sobreviver da pastorícia, recolecção e ajudas do Estado.

Soluções para
minimizar a seca 
Para resolver, de forma definitiva, a questão da seca no município do Curoca, o Vi-ce-Presidente da República visitou a região do Monte Negro, onde, a partir do Rio Cunene,  se pretende  construir canais de água para abastecer o município.
Bornito de Sousa avançou duas soluções. A primeira, de curto prazo, aponta para a criação de um canal para abastecer a sede municipal, Oncocua, enquanto a segunda solução, de médio prazo, visa alimentar o Rio Curoca (que está seco), e este por sua vez servir as demais áreas do município.
A nível do Governo estão a ser criados projectos para minimizar o impacto da seca na  região, segundo o Vice-Presidente da República, para quem “não podemos continuar eternamente a evocar o problema de falta de água no Curoca”. “Evocar seca e estiagem neste município é  extraordinário, por ser um fenómeno normal na região’’, disse o Vice-Presidente, apelando para a necessidade de preparar e auxiliar as populações com soluções duradoiras.
Na visita ao Monte Negro (a 50 quilómetros de Oncócua, a sede municipal), o Vice-Presidente fez-se acompanhar do governador provincial, VigílioTyova, dos se-
cretários de Estado do Ministério da Agricultura e Florestas e da Energia e Águas.
Alguns responsáveis do Governo provincial e membros do Executivo não convergiram em relação a criação do canal para fazer chegar a água ao município de Curoca, a partir do rio Cunene, no Monte Negro. Alguns defenderam a construção de um canal aberto até Oncócua, enquanto outros alegaram que o mesmo não seria eficaz em termos de garantir maior injecção ou pressão do precioso líquido. 
O governador do Cunene sugeriu, por exemplo, que nas zonas não-produtivas o canal de transporte de água seja fechado. Outros entendem que nas zonas de maior concentração populacional sejam construídos grandes reservatórios.

Oncócua: a mais afectada
Em termos de divisão administrativa, o  município do Curoca conta com duas co-munas.A de Oncócua (sede municipal) e Chitado. Os  habitantes desta última  localidade não sentem tanto a falta de água como os que residem no  município sede. A água e a energia eléctrica no Chitado é proveniente da Namíbia.
O solo do Curoca é sedimentar e com muitas pedras à mistura, o que torna quase impraticável a agricultura em certas áreas. Quando se agudiza a estiagem nas referidas zonas, a situação torna-se não só preocupante para os habitantes, como para o gado.
A administração municipal e o governo provincial efectuam o levantamento  das zonas mais afectadas, com vista à distribuição de cestas básicas às famílias mais vulneráveis.
O Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher está, também, a fazer, desde Janeiro, o registo das populações vulneráveis do Curoca, para garantir uma melhor distribuição de bens alimentares e não alimentares. Com efeito, foi criada a "Loja Ibromel do Curoca", que todos os meses distribui cestas básicas aos mais carenciados que já tenham feito o cadastramento.
Entre os produtos, que têm sido distribuídos destacam-se  o óleo vegetal, sal, feijão, açúcar e fuba "Mas esta ajuda não é para toda a vida",  garantiu o administrador municipal adjunto do Curoca.
Ici Paulo Dias informou que foi criado o projecto agrícola "Chana das Avestruzes"’, com vários hectares de terra, no qual as famílias vulneráveis dos sete grupos etnolinguísticos da região poderão desenvolver actividades agrícolas, para a produção de   alimentos com vista  a sua autosuficiência.

Educação longe
dos objectivos
O município do Curoca possui algumas escolas do ensino primário e um núcleo do ensino médio, que depende de uma instituição similar da Cahama. Mesmo não estando bem servida em termos de escolas primárias, as poucas existentes têm atendido a demanda dos alunos.
O administrador municipal adjunto do Curoca defendeu, por isso, a construção de mais escolas primárias, sobretudo em locais onde existam  fontes de água, uma forma de aproximar as famílias aos serviços sociais. Ici Paulo Dias disse que a maioria das escolas existentes nas povoações foram construídas longe das residências e dos pontos de água. Assim, as crianças percorrem vários quilómetros para garantir a sua formação.

Assistência médica
na Namíbia
A falta de unidades hospitalares apetrechadas com equipamentos diversos e de técnicos faz com que os habitantes do Curoca, sobretudo residentes nas zonas fronteiriças com a Namíbia, continuem a procurar assistência médica e medicamentosa no país  vizinho.
O administrador municipal adjunto garantiu, contudo, que o Curoca está bem em termos de controlo das doenças mais frequentes. A nível do município, acrescentou, existem 30 agentes comunitários que efectuam o trabalho de sensibilização das comunidades, de modo a prevenir doenças como o VIH-Sida, paludismo e outras.
Existe uma grande carência de médicos e técnicos de saúde no município. Curoca dispõe apenas de uma médica de clínica geral e 32 enfermeiros para as duas comunas e respectivas povoações. Oncócua possui um hospital principal, com mais de cem camas. Mas o mesmo está longe de atingir os padrões de uma unidade municipal, porque faltam equipamentos, médicos e técnicos de enfermagem.

Energia eléctrica melhorada
Até antes da visita do Vice-Presidente da República ao Curoca, Oncócua dispunha apenas de um grupo gerador de 600 KVA, que beneficiava apenas os residentes e instituições do centro da vila. A "Centralidade do Kilamba’’, nos arredores de Oncócua, com cerca de 200 casas, boa parte já habitada, encontra-se às escuras. Com a  inauguração, pelo Vice-Presidente, do novo grupo de geradores, com uma capacidade de 700 KVA, a electrificação do “Ki-lamba” e outros pontos da comuna pode acontecer nestes dias. A comuna de Chitado, à semelhança da água, não tem problemas de energia eléctrica. A mesma também é proveniente da Namíbia. 
A distribuição da energia eléctrica na comuna de Oncócua é feita das 8H00  às 14H00  e das 18H00 às 00h00, com excepção dos  dias das gran-des partidas de futebol ou
a­presentação de programas memoráveis na televisão, em que as horas de distribuição são alargadas.

Custo de vida elevado
Em Oncócua existem apenas duas cantinas dignas deste nome, mas geridas por cidadãos mauritanianos. O custo de vida na comuna é  duas vezes mais elevado que noutras regiões do país com boas vias de acesso. Os comerciantes de Oncócua adquirem, sobretudo, os produtos na cidade do Lubango e pagam muito caro pelo frete que lhes é cobrado para o transporte dos mesmos, devido às péssimas condições das estradas. Por este facto duplicam ou triplicam, à chegada, o preço das mercadorias. A tÍtulo de exemplo, um litro de óleo em Oncócua custa 500 kwanzas, o pão caseiro grande é vendido a 100 kz, o pequeno a 50 kz, porque não existem panificadoras na sede municipal.
A garrafa de 1,5 litro de água mineral, que no Lubango ou Luanda custa 150 ou 200 kwanzas, é vendida em Oncócua a 300 kwanzas.

Distribuição arcaica
A sede municipal possui quatro cacimbas, a partir das quais é abastecido um camião cisterna disponibilizado pelos Serviços de Protecção Civil e Bombeiros, que posteriormente  distribui a água às populações do centro e arredores de Oncócua.
A título experimental, foram instalados na "centralidade do Kilamba" dois tanques de cinco mil litros cada, que em dias intercalados são abastecidos pelo camião  cisterna. As autoridades do município estudam a possibilidade de, nos próximos tempos, estenderem o processo às outras áreas da  comuna.
Para dar de beber ao gado e às populações das diferentes povoações, foram criadas sondas, que funcionam à manivela. Algumas destas sondas encontram-se inoperantes. As  que funcionam têm servido de fontes de abastecimento de água  às comunidades.

Dados do município do Curoca
Divisão administrativa: Comunas de Oncócua e Chitado
Sede do município: Oncócua
Administrador municipal: Francisco Ngoloimwe
Distância de Ondjiva: 333 quilómetros
Província: Cunene
População: 40.871 habitantes (Censo de 2014)
Principal actividade: Pastorícia
Povos que habitam o Curoca: Vatwa, Mungambwe, Muhimba, Muhakavona, Kavikwa e Ndimba.

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