Política

João Lourenço nega divisão entre militantes do partido

O vice-presidente do MPLA, João Lourenço, negou divisões entre militantes que o apoiam e aqueles que são a favor do presidente, José Eduardo dos Santos.

18/03/2018  Última atualização 09H50
Santos Pedro | Edições Novembro © Fotografia por: Direcção insiste que os titulares de cargos de responsabilidade política devem ser os primeiros a assumir atitudes que dignificam o partido

“Encorajo os militantes, amigos e simpatizantes do partido a não nos deixarmos levar por essa pretensa divisão entre supostos “Eduardistas” e Lourencistas”, disse João Lourenço na abertura da segunda reunião metodológica nacional sobre a organização do trabalho do MPLA.
O vice-presidente do partido pediu aos militantes para “refutarem energicamente esta ideia criada e di-fundida em alguns círculos da sociedade com o objectivo de dividir o MPLA”.
João Lourenço afirmou que não existe no partido divisão, uma vez que todos defendem o MPLA e as suas causas. Por isso, João Lourenço apelou à união de todos em torno dos ideais do partido para que “com a força do passado e do presente, construam um futuro melhor”.
Para João Lourenço, o MPLA enfrentou e ultrapassou momentos difíceis e, em  alguns casos, teve decisões que o enfraqueceram, mas soube sempre evitar consequência piores.
“Sempre que possível, devemos trabalhar para prevenir conflitos, e isto é uma preocupação que deve ser permanente, porque dentro e fora do partido acredito que sempre houve quem estivesse interessado em corroer o partido para que não cumpra  a sua missão histórica”, disse.
O vice-presidente do MPLA, que é o Presidente da República, considera urgente o reforço do combate às más condutas, ao desrespeito dos princípios e valores do MPLA, bem como promover o fortalecimento das estruturas do partido, actualmente caracterizadas por insuficiências na organização e gestão de distintas áreas da sua especialização.
João Lourenço afirmou que existe uma excessiva burocratização do aparelho central, da gestão dos quadros do partido e distorção da base de dados. O vice-presidente do MPLA disse preconizar uma maior aproximação dos dirigentes às comunidades e maior inserção do partido na sociedade por estar comprometido com o povo.
O vice-presidente do MPLA reiterou que os titulares de cargos de responsabilidade política devem ser os primeiros a assumir na prática atitudes que dignificam o bom nome do partido e, com o seu comportamento, ser um exemplo que influencia positivamente os militantes, os cidadãos, em geral, e jovens, em particular. O militante do MPLA, acrescentou,  deve ser o primeiro a combater efectivamente, não apenas no discurso, mas de facto, a corrupção, o nepotismo, a impunidade, a delapidação do património público, o absentismo no trabalho e outras práticas nefastas à vida dos cidadãos e a boa organização da sociedade.
João Lourenço disse  que o MPLA deve começar  já a trabalhar e a preparar os seus quadros para o desafio da implementação das eleições autárquicas. “Para termos o maior número de câmaras, precisamos de começar já a trabalhar, mas sobretudo ter a humildade de aprender como gerir um município, uma vez eleito, se tiver em conta que nunca vivemos esta realidade no país.”
O MPLA, adiantou, tem responsabilidades acrescidas na direcção e na condução dos destinos da sociedade. Por isso, segundo João Lourenço, mais do que reflectir, o MPLA precisa de ser proactivo na tomada de decisões.
João Lourenço defendeu o planeamento estratégico para fortalecer o MPLA.
“Só com quadros competentes, política e profissionalmente preparados, venceremos os desafios que se colocam ao MPLA.”
Durante a sua intervenção, João Lourenço recordou os desafios da reunião do comité central que apreciou o relatório final sobre as eleições gerais, tendo constatado com satisfação a forma como os militantes se empenharam no processo que conduziu à vitória do MPLA, traçou orientações para a correcção das insuficiências e para o reforço das estruturas intermédias e de base. “Esta vitalidade demonstrada deve ser factor catalisador para a mobilização dos militantes, simpatizantes e amigos do partido e da sociedade em torno da preparação e participação do MPLA nas eleições autárquicas”, disse.
“Por isso, o MPLA realizou a segunda reunião metodológica  que vai dar respostas a estas e outras preocupações e colher contribuições dos dirigentes, responsáveis e quadros do MPLA sobre organização e funcionamento do partido na fase actual com vista a sua preparação para os próximos desafios”, disse.

Maior dinamismo

A reunião serviu para traçar objectivos de grande importância para a vida interna do partido, sobretudo aqueles que visam imprimir maior dinamismo e aperfeiçoamento ao trabalho político partidário e revitalizar as estruturas a todos os níveis. Entre os temas previstos para análise constavam a identificação dos principais constrangimentos de natureza política e organizativa que têm estado a diminuir os níveis de aceitação, de mobilização e de organização do MPLA.
O aperfeiçoamento dos mecanismos de participação e desempenho dos dirigentes, quadros e militantes do MPLA e a preparação do partido e suas estruturas para a participação nas primeiras eleições autárquicas foram também temas para análise.
Para João Lourenço, os temas agendados, pelo seu significado e importância, mereceram um tratamento metódico dos participantes, por constituírem a base para a construção e afirmação do partido no momento político actual.

Esclarecimento

O secretário para a Informação Norberto Garcia esclareceu que "não houve uma rejeição da proposta apresentada pelo presidente José Eduardo dos Santos", para a realização do congresso para tratar da questão da liderança do partido, mas admitiu que, durante a reunião, "foram discutidas várias propostas".
“O comité central analisou a proposta do presidente e resultou a reunião que o bureau político vai fazer, em Abril, e o comité central, em Maio, para fechar  o assunto", disse, acrescentando que, por isso, "não corresponde à verdade a informação veiculada por alguns órgãos de informação que dão conta de que o comité central rejeitou a proposta do presidente”.

  “Petroff” quer urgência na transferência do poder a João Lourenço

O militante histórico do MPLA Santana André Pitra “Petroff” defende a transferência “urgente” da liderança do partido de José Eduardo dos Santos para João Lourenço.
O histórico do partido lembrou que nunca houve no MPLA uma liderança a duas cabeças. “Desde o tempo de Agostinho Neto isso nunca foi assim”, disse o antigo consultor do ex-Presidente da República José Eduardo dos Santos. “Se fosse já, seria melhor”, disse Santana André Pitra “Petroff”, que falava ontem ao Jornal de Angola.
O primeiro comandante-geral da Polícia Nacional depois da Independência do país e mais tarde ministro do Interior, que actualmente dirige a Comissão Nacional Interministerial de Desminagem e Assistência Humanitária, afirmou que “a bicefalia é prejudicial para o MPLA, porque os tempos mudaram”.  Em relação à decisão saída da última reunião do Comité Central do MPLA de fazer um encontro, em Maio, para decidir a data do congresso extraordinário que vai escolher um novo líder do partido, “Petroff” disse que a maioria defende uma liderança única para o partido.
“Petroff” é general na reforma. Natural de Cabinda, é um dos quadros militares mais respeitados do país. 
A saída de José Eduardo dos Santos, agora, do xadrez político não é oportuna porque vai destruir a expectativa que a sociedade está a construir sobre o processo democrático, defendeu o jurista Albano Pedro. Albano Pedro entende que o Chefe de Estado não deve mais ser o presidente do partido que governa. O docente universitário disse que a ideia de bicefalia “não passa de intenção de alguns grupos”.