Sociedade

Assassino em série confessa crimes cometidos

Vânia Inácio |Brasília

Jornalista

O director provincial do Serviço de Investigação Criminal (SIC) no Cuando Cubango afirmou não ter dúvidas de que Severino Tchivinda “é realmente um serial killer”, assassino em série, a julgar pela frieza com que assassinou cinco pessoas, duas das quais decapitadas entre Março e Abril, nos bairros Novo e Paz, arredores da cidade de Menongue.

23/04/2017  Última atualização 08H23
Carlos Paulino | Edições Novembro - Menongue © Fotografia por: Crime deixou revoltada a população do Cuando Cubango que clama por justiça

O superintende-chefe Miguel Arcanjo, abordado por este jornal depois do caso do jovem, de 31 anos, ter sido tornado público, disse que a sua convicção também se deve à forma como Severino Tchivinda está a abordar o assunto durante a instrução preparatória do processo-crime, durante a qual já declarou, além de confessar ser o autor dos cinco assassinatos, não estar arrependido, comportamento típico dos assassinos em série.
Miguel Arcanjo disse que, na conversa que manteve com Severino Tchivinda, este descreveu, com toda a naturalidade e sem ressentimentos, o assassinato de um casal jovem.
Os corpos do casal, assassinado em Novembro de 2015, foram descobertos no dia seguinte ao desaparecimento dos cônjuges numa zona adjacente à esplanada “Havuliwaneno”, na cidade de Menongue. Um outro cadáver foi achado nas imediações do bairro Novo, duas semanas depois.
No seguimento das mortes misteriosas, o Serviço de Investigação Criminal estabeleceu um padrão de actuação e concluiu que a mesma pessoa estava por detrás dos crimes, porque os três corpos tinham a marca de uma cruz na nuca.
Foi a partir daí que o SIC chegou pela primeira vez, no dia 3 de Março de 2016, ao cidadão Severiano Tchivinda, tendo sido detido nesse dia. Severino Tchivinda, depois de interrogado e constituído arguido, foi encaminhado para o estabelecimento prisional de Menongue, onde permaneceu até Agosto do mesmo ano, altura em que o Ministério Público mandou colocá-lo em liberdade, por insuficiência de provas. Severino, na altura, Tchivinda negou redondamente qualquer envolvimento na morte das três pessoas.
Quando soube da sua libertação, o SIC colocou agentes para seguirem os passos de Severino Tchivinda, que, passado algum tempo, “começou a fingir que estava com alguma perturbação mental e desapareceu da sua área de residência”, contou Miguel Arcanjo, acentuando que, no dia 22 de Março de 2017, o SIC foi informado da existência do cadáver de uma jovem, sem a cabeça.
“A notícia caiu-me como um balde de água fria”, acentua o experimentado investigador, que disse terem sido usados todos os mecanismos de buscas, mas sem sucesso. Na conversa, Miguel Arcanjo abre parênteses para acentuar que, na entrevista que concedeu à imprensa, assumiu o compromisso de honra para com a sociedade de que, como investigador, iria trabalhar noite e dia para apresentar o suposto criminoso, que deixou a sociedade “revoltada porque nunca ocorreram casos do género na província do Cuando Cubango.”
Mais homens e técnicas foram colocados na rua, depois de ter sido descoberto este ano um segundo corpo, na madrugada de 17 deste mês. No local do crime, o SIC ouviu relatos que davam conta da existência de cidadãos com perfil violento. É assim que se chega a Severino Tchivinda, que se tinha mudado para uma moradia no bairro Paz, onde foi detido em flagrante. Na moradia, o SIC encontrou duas cabeças, uma das quais já em decomposição. Quando foi detido, o  jovem manteve-se lúcido, calmo e sereno e disse que se “fingia de maluco”, para despistar qualquer tipo de suspeita contra si. Quando lhe foi perguntado por que cortou a cabeça de algumas vítimas, respondeu que era uma manobra para a Polícia pensar que não era a mesma pessoa que estava por detrás dos assassinatos. Além disso, contou o investigador, o jovem decidiu levar a cabeça de duas vítimas, porque, comentou, num reinado se vive em volta de crânios humanos.
Severino Tchivinda, pai de um filho e pedreiro de profissão, confessou que começou a matar por vontade própria, por sentir sede de sangue e que tinha como preferência mulheres que se prostituíam. Se não fosse travado, garantiu, continuaria com a matança.  Severino Tchivinda está indiciado pelo homicídio de cinco pessoas, três das quais do sexo feminino. Uma das vítimas é Fernanda Mundele, 22 anos, assassinada a 17 deste mês. O crânio encontrado em casa do homicida confesso é de Juliana Maria Viqueia, 17 anos, decapitada a 22 de Março.
O oficial superior do Serviço de Investigação Criminal revelou que o homicida já esteve detido na província do Huambo, de onde é natural, por agressão física com recurso a uma enxada. A vítima teve ferimentos graves. O “serial killer” é ainda acusado de violar uma mulher, na época, grávida de cinco meses, que acabou por abortar em decorrência da violação de que foi vítima.
No rol de crimes imputados a Severino Tchivinda, estão mais quatro, sendo que uma das vítimas é um camponês que, no dia 4 de Abril, regressava da lavra. O camponês recebeu um forte golpe de machado e só não morreu por ter sido socorrido por cidadãos, cuja presença fez com que o identificado agressor se colocasse em fuga.
De uma coisa o oficial superior do Serviço de Investigação Criminal  tem certeza: o criminoso agia de forma isolada. “Mas o SIC vai continuar a investigar porque, apesar da serenidade com que ele descreve os factos, muitas perguntas continuam ainda sem resposta”, salientou o investigador sénior do Serviço de Investigação Criminal na província.