Reportagem

Quijanda dá boas vindas às terras do Jacaré Bangão

A escultura do Jacaré Bangão chama a atenção de qualquer visitante do bairro da Quijanda, à entrada de Caxito, capital da província do Bengo. O monumento é uma homenagem à resistência da população local à exploração colonial.

25/09/2015  Última atualização 06H53
Edmundo Eucílio | Bengo © Fotografia por: A escultura do Jacaré Bangão chama a atenção de qualquer visitante do bairro da Quijanda e segundo reza a história o animal pagou tributo à administr

Reza a história que um jacaré apareceu no posto da administração colonial. A presença do animal tornou-se numa caricatura da cobrança do chamado “imposto indígena”, já que, de acordo com o mito criado pelos populares, o réptil tinha ido pagar o tributo.
Além do famoso jacaré, o bairro da Quijanda reserva outros locais de interesse histórico, como o Museu da Fazenda Tentativa, o único na província do Bengo, construído em 1932, que reúne aspectos técnicos e científicos do cultivo da banana, do palmar e da cana-de-açúcar. Este importante espaço cultural foi reabilitado e reinaugurado a 4 de Fevereiro de 2011.
O Museu da Tentativa tem também no seu acervo artefactos e instrumentos que retratam as diversas manifestações culturais do Bengo. No primeiro semestre deste ano, a instituição recebeu 1.860 visitantes.
Os moradores do bairro da Quijanda têm como principal ponto de convergência, sobretudo aos fins-de-semana, o campo de futebol. O recinto está rodeado por árvores frondosas e um vasto bananal. Quijanda é o nome que na altura se dava à refeição conjunta dos trabalhadores no início da plantação e da colheita, no sentido de dar força e motivação para o trabalho.

Comércio rural

Na Quijanda, o comércio rural marca presença com um pequeno mercado ocasional, onde se vendem, sobretudo, produtos do campo. Deolinda António, quitandeira de produtos agrícolas no local, disse à nossa reportagem que tudo quanto vende na banca é adquirido a produtores dos arredores do bairro. Batata, mandioca, tomate e banana são os mais comercializados.
A comerciante acrescentou que os principais clientes são oriundos de Luanda, que para ali se deslocam atraídos pelos preços mais baixos. Um balde de tomate maduro custa mil kwanzas e o cacho de banana, que ela compra por 300 kwanzas ao produtor, é vendido por 500 kwanzas. “O balde de mandioca ou batata-doce custa o mesmo preço e assim todos podem comprar e ficam satisfeitos”, disse. Mizé Pinto disse que escolheu o local para a sua pequena quitanda porque a clientela é boa, além de que a existência de muitos terrenos agrícolas nos arredores do bairro permite-lhe adquirir produtos frescos e a bom preço, o que tem reflexos no volume de vendas, sempre com uma margem de lucro que garante o sustento da família.

Cacussos e maruvo

Muitos dos que se deslocam ao bairro da Quijanda, em Caxito, sobretudo aos fins-de-semana, fazem-no para se deliciarem com os saborosos cacussos da região.
O prato deste peixe, que abunda nos rios e lagoas do Bengo, inclui mandioca e batata-doce cozidas, salada, feijão de óleo de palma e farinha musseque e custa, em média, 700 kwanzas.
O cacusso consumido na Quijanda provém das lagoas do Úlua e Ibêndua, que fazem parte da bacia do Dande. A proximidade do rio e o canal de irrigação, que passa ao lado do bairro, emprestam ao local um raro quadro de beleza natural.
Embora as barracas ofereçam todo o tipo de bebidas, os clientes que para ali se deslocam têm preferência pelo maruvo. O tradicional vinho de palmeira, palmite ou bordão é disputado pelos convivas. Algumas vendedoras são conhecidas por fornecê-lo de boa qualidade, mas há sempre quem reclame de adulterações. O consumo de maruvo em tão grandes quantidades é apontado como a principal causa do desaparecimento dos palmares e do encarecimento do óleo de palma, mas os locais dizem que é preciso saber colher a seiva das árvores sem as matar.
Enquanto degustam o prato e bebida preferidos, os visitantes aproveitam o momento para mandar lavar os carros, feita em rampas construídas de propósito, para facilitar a limpeza das viaturas. Júlio Monteiro, gerente da “estação de serviço”, disse à reportagem do Jornal de Angola que a frequência do local por muitos visitantes é benéfica para o negócio. A lavagem de carros varia entre 500 e mil kwanzas. O empreendimento conta com 30 lavadores de carros, que funcionam todos os dias, mas aos fins-de-semana não têm mãos a medir devido à grande procura pelos serviços.

Perspectivas de reconstrução

O chefe de departamento de Hotelaria e Turismo do Bengo, Mateus Gonçalves, disse que a frequência de turistas é muito importante para a economia da região. Devido à sua localização, o bairro da Quijanda é muito procurado por gente de diversas origens, inclusive estrangeiros, que aproveitam para se fazer fotografar e filmar diante da escultura do Jacaré Bangão.
Mateus Gonçalves disse que vai propor ao Governo da província a requalificação de algumas áreas de interesse turístico, para atrair mais visitantes, em particular, ao bairro da Quijanda.
É preciso criar condições de acomodação, que levem o visitante a permanecer por mais tempo na província e referiu que o turismo é considerado uma indústria da paz, por propiciar o contacto entre as pessoas e trazer benefícios económicos transversais, explicou o chefe de departamento de Hotelaria e Turismo, para quem a existência de um restaurante na Quijanda pode fazer toda a diferença, entre as inúmeras barracas improvisadas e o comércio feito na berma da estrada.

Especial