“Maria Joana da Piedade é uma mulher que não olha para trás quando o problema é prestar serviço de enfermagem aos moradores da Cabala, uma comuna do distrito urbano de Catete, município de Icolo e Bengo, muito distante da sua área de residência.
Erika Jâmece começou a grangear notoriedade pública e aplausos da crítica especializada, depois da sua participação na exposição colectiva “Elas expõem… Luanda, cores e ritmos”, realizada em 2014, no âmbito dos projectos culturais da Academia BAI.
Artista de múltiplos recursos plásticos, parte da sua obra está patente no Pavilhão de Angola da Expo Milão, até o dia 16 de Setembro, prenúncio da sua projecção internacional.
Conhecida nos círculos artísticos como a Rainha do “Hongolo”, palavra em kimbundo que significa, arco-Irís, Erika Jâmece caracterizou nos seguintes termos o seu percurso, enquanto pintora: “Tive uma formação em arte e estética, em diversas instituições. Contudo, o meu percurso foi muito marcado pelo empenho e progressão pela descoberta, num processo de auto-formação, tendo acabado por criar as minhas próprias técnicas.
Quero dizer que não estou enfeudada aos cânones convencionais da academia, possuo um espírito livre, e a minha espontaneidade criativa é infindável. Um conjunto de traços vivenciais caracterizam, de forma vincada, a minha personalidade , pormenores que transponho na minha obra. As minhas raízes culturais, na sua relação com as genuínas tradições do povo angolano, são transversais à minha criação artística, ou seja, a minha obra representa o que sou”.
De facto, a generalidade da produção artística de Erica Jâmece representa a sua cosmovisão e experiências da vida, transfigurando o real em surreal, num processo de abstração figurativa, em que predominam, do ponto de vista cromático, as cores quentes: vermelhos fogo, matizes de castanhos, marron, amarelos, incluindo tons de azul mar, muitas vezes de forma reiterada.
Filha de João Carlos Eduardo Jâmece e de Marísia das Dores Mangueira Pereira da Silva Jâmece, Erika Sena da Silva Jâmece nasceu no dia 11 de Julho de 1977, em Luanda. Em 1996, data em que a artista entra para a escola de Artes Plásticas, participou num concurso Internacional de pintura patrocinado pela Embaixada da Polónia em Luanda, tendo obtido o primeiro prémio. Membro da União Nacional dos Artistas Plásticos, faz consultoria de arte, decoração artística em pinturas, esculturas, cerâmicas, gravuras, tapeçarias e artesanato.
Formação
Erika Jâmece possui o curso médio de Belas Artes no INFAC, Instituto Nacional de Formação Artístico e Cultural, e ENAP, Escola Nacional de Artes Plásticas, em Luanda, 1999. Estudou na escola Secundária Dom Dinis em Chelas, Portugal, tendo repetido o 12º Ano de 2000 a 2002.
Possui o curso profissional de decoração de interiores do INEP, Instituto de Ensino Profissional Intensivo, Lisboa, 2003, curso de fotografia e consultora de arte, professora de artes, pintura, desenho, arte na reciclagem.
Exposições
Ao longo da sua carreira Erica Jâmece participou em várias exposições colectivas, das quais destacamos as mais relevantes: Hotel Continental em Luanda, alusivo ao dia da Mulher Africana, com pinturas em azulejo, 2000, Museu de História Natural em Luanda alusivo ao dia da Cultura Nacional, 2001, Museu de História Natural, “Palpitações de Mulher”,2008, Coopearte, Galeria Celamar, de 2009 a 2013, “Amostra arte mulher”, Galeria Celamar, Luanda, de 2010 a 2013, “Mulher e as Artes”, Província do zaire, 2014, colectiva sobre o “Carnaval”, UNAP, Março de 2014, “Março mulher”, Galeria Celamar, 2014, “Multi-disciplinar de Belas Artes”, Universidade Agostinho Neto, Abril de 2014, Fenacult, 2014, “ Luanda 02_ 14, Respostas ao (Des) envolvimento” BAI Arte, em 2014, “Elas expõem…nova apresentação”, Chateau d´Ax, loja de decoração Italiana, Dezembro de 2014 a Fevereiro de 2015, “A Mulher e a Arte”, Galeria da UNAP, Março de 2015. V Bienal de Culturas lusófonas, “ Odivelas, capital da Lusofonia”, em Maio de 2015. Erica Jâmece participou ainda nas pinturas faciais das bandeiras dos PALOP, com a música de Nelo de Carvalho, “Sorriso do mundo”, pintura de continuidade e fotografia de continuidade no Filme “ Os Deuses de água”, cooperação com Angola e Argentina, “Conexões cores e formas”, Forte de São Jorge de Oitavos, Cascais, Portugal, 2014.
Milão
Uma exposição individual da pintora Erika Jâmece está patente do dia 2 até 16 de Setembro na galeria da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP) do Pavilhão de Angola, na Expo Milão 2015. No certame estarão expostos cinco quadros, que abordam três temas: nutrição, tratada na perspectiva de saúde e cultura, a cooperação entre Angola e Itália, enquanto projecção social e não apenas política, e o amor como fonte da vida, mas também como um “bem para nutrição social”.
Depoimento
João Armando, amigo de Erica Jâmece e radialista da Rádio LAC, Luanda Antena Comercial, fez o seguinte depoimento: “Munida de espátulas, pincéis e muita sensibilidade, Erica Jâmece, trabalha a côr e a textura do mundo que a rodeia de forma simples, e mais importante, positiva. Ao longo dos últimos anos criou um imaginário que hoje reconheço quando olho, com o meu olhar de leigo, para os seus quadros. Pinta nas suas telas o enorme sorriso que transporta, com cores vivas e linhas abertas, a capacidade artística, com traços definidos e formas seguras, e a sensibilidade artística, com o conjunto harmonioso das suas obras. Podia acrescentar a versatilidade, porque utiliza diversas técnicas e materiais, flutuando entre os quadros, as peças plásticas ou um simples colar para exibir no pescoço. Conheci primeiro as obras e depois a criadora, um trajecto que me parece normal quando estamos a falar de uma artista. Porque é assim que ela é uma artista. Na forma como se apresenta, como chega, como fala, e como sai.
As suas obras estão aí, reconhecidas por muitos que certamente terão maiores conhecimentos para as analisar, o seu trajecto não deixa dúvidas, e é hoje uma das artistas plásticas angolanas de maior referência. Reforço a palavra no feminino porque me parece que "ser mulher" está também associada à sua criação. Eu noto, pelo menos. Refugio-me também numa análise onde estou mais à vontade, a qualidade humana. E é tão agradável perceber que por detrás de um quadro de grande qualidade artística está também um ser maravilhoso. Nem sempre é assim, mas no caso da Erica Jâmece, as linhas encontram-se. Penso que esta é, também, uma das razões do seu sucesso”.
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