Reportagem

Cacuaco em festa

A tradicional festa popular do município de Cacuaco começa hoje, com a realização de várias actividades organizadas pela A­dministração Municipal com o a­poio da sociedade civil e da Igreja Católica.

20/06/2014  Última atualização 06H51
Eduardo Pedro © Fotografia por: A pesca artesanal continua a sobreviver aos tempos e a ser o sustento de muitas famílias algumas das quais abandonaram a agricultura

Esta é a 74ª edição da manifestação religiosa, cultural e histórica de Cacuaco e decorre até ao próximo dia 24. Durante os cinco dias de festa são inaugurados no município quatro recintos polidesportivos nos bairros do Paraíso, Kikolo, Funda Kilunda e na Nova Centralidade.
A abertura oficial das festividades é na Administração Municipal, com um momento cultural, uma visita à Feira do Empreendedor de Artes e Ofícios, uma exposição sobre o Ambiente e o lançamento do um livro “ Os Cheiros e a Pátria”.
O programa inclui ainda a realização de uma corrida de karts, uma partida de xadrez, atletismo, uma mesa-redonda sobre a História de Cacuaco, música e a cerimónia religiosa e procissão, os momentos mais altos das festividades do município.
Nas festas de Cacuaco é mostrado o que o município tem de melhor e de atractivo, sobretudo os pontos turísticos, as potencialidades agrícolas e as pesca. A administradora municipal adjunta para a área social, Maria Freire, realçou a importância das comemorações anuais, sempre Junho: “as festas representam a História do município e as comunidades participam com entusiasmo”. 
Muitas são as histórias que giram à volta das festas de Cacuaco, grande parte dela centradas no padroeiro São João Baptista que há muito tem uma capela na vila. Desde entã, o dia 24 de Junho é dedicado ao santo, considerado pescador, não de peixes, mas de almas.
As festas homenagearam em 2013 o primeiro soba de Cacuaco, que sempre defendeu os interesses da terra. Este ano, informou Maria Freire, os distinguidos são os pelicanos, espécie rara que habita no município e está em vias de extinção.  As aves habitam na zona das salinas, mas aos poucos vão desaparecendo por causa das construções desordenadas que ameaçam o seu habitat.
 A Administração Municipal de Cacuaco, com o a­poio do Ministério do Ambiente, vai realizar uma exposição sobre a espécie para sensibilizar as comunidades para o problema. Os visitantes vão observar os pelicanos com binóculos.
 
Momento mais alto
 
A cerimónia religiosa e a procissão são os momentos mais altos das festividades de Cacuaco. Depois da missa, sai a procissão para o mar.
A imagem do padroeiro São João Baptista é preparada e levada até ao alto-mar, desde a boca do rio, como disse o soba grande de Cacuaco, Manuel Falcão.
A imagem do santo viaja numa canoa motorizada devidamente ornamentada. Os pescadores e as famílias seguem também em canoas. No alto-mar realiza-se um ritual especial durante o qual é pedida a protecção divina na faina da pesca.
O soba grande Manuel Falcão a­firmou que são feitas várias oferendas. Enquanto decorre a procissão no mar, são lançadas à água bebidas e até dinheiro. O mais velho garantiu ser a festa mais requintada do município.
Manuel Falcão lembrou o tempo em que nas festas de Cacuaco se fazia uma regata, com canoas feitas por pescadores e participava quem tinha a coragem de remar contra o mar. Era uma corrida em homenagem ao santo padroeiro. O soba Manuel ganhou a corrida três vezes.
A reportagem do Jornal de Angola esteve com os mais velhos de Cacuaco e ouviu as histórias do município, onde os protagonistas são pescadores e camponeses. Domingos Filipe tem 87 anos e é de todos o mais idoso. Manuel Falcão, o soba grande, tem 82. Também se juntou à conversa Gonçalves Bernardo. São todos pescadores, camponeses e ­filhos de Cacuaco.  A pesca em Cacuaco sobreviveu e continua a ser o sustento das suas famílias. Quanto ao trabalho do campo, “não há forças para mais”. Os jovens não querem saber do cultivo do campo. Mesmo a pesca artesanal também tem falta de mão-de-obra.
 
Bairro dos Pescadores
 
Manuel Falcão, Domingos Filipe e Gonçalves Bernardo vivem no Bairro dos Pescadores, que é antigo e há anos foi invadido pelo mar. Na altura, como contam os mais velhos, as casas estavam a quase 200 metros da água. Um dia, nos anos 1960, vieram as calemas e destruíram 70 delas. O bairro foi erguido de novo e a uma grande distância do mar.
Devido à idade, os mais velhos deixaram as aventuras do mar: ficaram apenas as lembranças de aflições e também de momentos bons. Quando eram jovens, a pesca estava em alta. Naquele tempo, havia uma grande variedade de peixes no mar de Cacuaco e a pesca fazia-se à vista das praias.
Os mais velhos recordam os tempos em que as chatas vinham carregadas de santolas, linguados, corvinas e tainhas. Filipe Domingos contou que nos anos 1960 “havia uma fartura no mar, tanta que os peixes apareciam junto à praia”. Hoje somente aparecem petingas. 
A pesca era feita com canoas e as redes cosidas à mão. As comunidades piscatórias hoje vão pescar com chatas motorizadas. São práticas e ajudam muito: “não se compara com os tempos antigos, mas dá para sobreviver”, disse o soba grande, Manuel Falcão.

Atractivos do município

Cacuaco tem muitos atractivos. A sua grande riqueza é a pesca e a agricultura. Actualmente tem um milhão de habitantes distribuídos por três comunas: a sede, a Funda e Kikolo.
Cacuaco está em constante crescimento e beneficia da construção de várias infra-estruturas como escolas, hospitais, mercados e praças.  Cacuaco tem referências turísticas como a Baía na sede do município, a Barra do Bengo, a praia do Sarico e as lagoas da Kilunda, na Funda. A pesca e as salinas já tiveram sucesso. A urbanização do município é um desafio da Administração.

Especial