Dossier

Desminagem abre espaço a agricultura

As famílias concentradas nas zonas rurais limitadas em alargar a actividade agrícola por causa das minas estão satisfeitas com as autoridades pelo empenho e dinâmica no processo de limpeza dos espaços para o cultivo e pasto na província da Huíla

02/10/2011  Última atualização 09H00
Estanislau Costa|Lubango © Fotografia por: Executivo está empenhado na campanha de desminagem na província da Huíla

As famílias concentradas nas zonas rurais limitadas em alargar a actividade agrícola por causa das minas estão satisfeitas com as autoridades pelo empenho e dinâmica no processo de limpeza dos espaços para o cultivo e pasto na província da Huíla. As novas áreas desminadas dão sossego aos camponeses e permitem aumentar a extensão dos campos de produção. 
Os camponeses de Quipungo, Cacula, Caconda, Lubango, Matala, na província da Huíla, satisfeitos com o programa de remoção de engenhos explosivos nas áreas agricultáveis, encorajam o Executivo e parceiros a prosseguir com a desminagem por contribuir para o aumento dos espaços de lavoura em cada campanha agrícola.
A camponesa Angelina Kassova, associada à cooperativa Sanjuka, explora as terras aráveis do bairro Kandjaquite, arredores do município da Matala. Desafogada dos receios de explosivos detonáveis e não detonáveis nas vias de acesso e lavras, disse que o processo de limpeza de engenhos letais tranquiliza as famílias no campo e incentiva a aposta no cultivo.
O trabalho no campo aqui na Matala, disse, até 2009 era realizado apenas nas áreas indicadas e aconselhadas pelas autoridades. “Quem se atrevesse a desobedecer às orientações corria o risco de accionar uma mina na caminhada às lavras ou no momento de trabalhar a terra”.
Segundo Angelina, o gado bovino e caprino já pode pastar sem muitas limitações e alimentar-se com vegetação favorável ao desenvolvimento animal.
“As minas estavam em áreas com bom pasto e, por isso, ninguém podia lá chegar. Hoje, estamos a utilizar tais áreas para dar de comer aos bois e cabritos.”Ela guarda consigo recordações desagradáveis de camponeses e crianças vítimas de minas na sua aldeia. “A mana Joaninha perdeu uma das pernas na outra lavra dela. O filho do mano Cassinda morreu quando seguia o avô no rio Cunene, que acarretava água para a rega das plantações de tomate.”
Angelina Kassova, 58 anos, que falava na língua nacional umbundu, disse ao Jornal de Angola que a desminagem dos campos de cultivo, vias de acesso às lavras e não só, dá sossego aos camponeses e vontade de trabalhar mais, porque já não se corre perigo de alguém “pisar” minas.
Acrescentou que os camponeses acompanham os trabalhos de limpeza das minas e identificação de novas áreas afectadas das brigadas de desminagem. Sublinham que os resultados alcançados, além de prevenir acidentes, favorecem o alargamento dos espaços de cultivo e diversificação de culturas.
Por exemplo, disse, o tio João Calonete, 70 anos, dedicava-se apenas ao cultivo de milho, massango e massambala, mas agora começou a produzir hortaliça, com a remoção de explosivos e entrega de uma área de 23.522 metros quadrados. No local em referência estão implantados dois postes de alta tensão condutores de energia da barragem hidroeléctrica da Matala para a cidade do Lubango e que eram protegidos por minas no tempo do conflito armado.
Antes da remoção das minas, contou, ficava muito difícil atingir os hectares de terras situados próximo do rio Cunene, pertença dos avôs. “O trabalho das brigadas de desminagem do Comando da Região Militar Sul criou condições para os camponeses explorarem as terras férteis, aumentar os espaços e diversificar a produção”, disse.
João Calonete, que utilizava apenas dois hectares de terras agricultáveis no cultivo de cereais, feijão e ginguba, aumentou mais um hectar para a produção de batata rena e tomate.
A actividade é feita de forma ininterrupta graças a abundância  da água que corre no perímetro irrigado da Matala.
Angelina Kassova e João Calonete encorajam o Executivo e parceiros a prosseguir com os trabalhos de desminagem e outro material letal ainda existente em vários pontos do país que, de certo modo, atrapalham as acções dos camponeses e impossibilitam o alargamento e diversificação do cultivo.
 


Campos  livres


O processo de pesquisa, identificação, marcação, remoção e destruição de engenhos explosivos, na província da Huíla, é assegurado pelo Instituto Nacional de Desminagem (INAD) com a colaboração efectiva da brigada de desminagem do Comando da Região Militar Sul e Associação de Jovens Sapadores de Angola (AJOSAPA).
As três instituições, cujas acções contribuem para melhorar a vida da população das zonas rurais, removeram e destruíram, desde finais de 2009 até Setembro de 2011, 143.699 engenhos explosivos, com  destaque para minas anti-tanque e anti-pessoal, projécteis de ZU-21, morteiros de 80 milímetros e munições de diversos calibres.
O pessoal envolvido no processo de limpeza e destruição de engenhos explosivos está regozijado com os resultados atingidos, por ter criado condições de segurança para o trânsito de veículos, pessoas e bens, assim como para a produção agro-pecuária de uma área estimada em 124.892 metros quadrados.
A directora provincial do Instituto Nacional de Desminagem na Huíla, Dulce Venâncio Tito, apesar dos casos de accionamento de minas se terem reduzido no seio das crianças e adultos, exortou os populares das zonas rurais a estarem atentos com o matagal por onde transitam, e se observarem um objecto estranho devem informar imediatamente as autoridades.
“As diversas organizações da sociedade, como as igrejas, autoridades tradicionais, associações dos jovens e de mulheres, devem estar envolvidas neste processo para eliminar este material letal que causa estragos sérios às pessoas”, disse. Dulce Venâncio Tito afirmou que o empenho das instituições envolvidas no processo de desminagem deve incidir na limpeza completa das reservas fundiárias do Estado, áreas para a implantação de indústrias ou projectos agro-pecuários, vias de circulação, margens de rios com zonas agricultáveis, entre outros pontos.
A directora apresenta como dificuldades do processo, trabalhar em solos arenosos e invadidos por arbustos e capinzal, o que torna a actividade morosa por exigir que o sapador tenha de eliminar esses obstáculos até localizar o engenho explosivo. “Os arbustos e capim atrapalham o trabalho, porque se perde muito tempo na limpeza do  local presumivelmente minado”.
As campanhas de sensibilização e mobilização sobre o perigo de minas  estão a contribuir para a redução dos casos de vítimas de minas.

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