Dossier

Escuteiros cumprem missão solidária em Caconda

A Junta Regional da Associação dos Escuteiros de Luanda organizou o seu segundo acampamento designado “Projecto Caconda”, de 15 a 18 deste mês, no município de Caconda, na Huíla, com a participação de escuteiros de várias paróquias de Luanda

24/09/2011  Última atualização 10H31
Manuel Albano © Fotografia por: Os escuteiros levaram colchões e uma quantidade razoável de material escolar

A Junta Regional da Associação dos Escuteiros de Luanda organizou o seu segundo acampamento designado “Projecto Caconda”, de 15 a 18 deste mês, no município de Caconda, na Huíla, com a participação de escuteiros de várias paróquias de Luanda.
De acordo com Ernesto Domingos “Chamó”, responsável pela área de formação dos Escuteiros, o principal propósito foi o de levar apoio em bens materiais às comunidades, realizar trabalho voluntário e solidarizar-se com os mais carenciados.
Para Caconda, os escuteiros levaram ainda material escolar, medicamentos, roupa, calçado, brinquedos e colchões às povoações dos arredores da Igreja da Missão.
O “Projecto Caconda”, segundo explicou Ernesto Domingos, surgiu depois de uma visita efectuada a convite do padre Felisberto, agora a cumprir missão em Roma, Itália.
Devido às grandes dificuldades encontradas no local, surgiu a ideia de unirem esforços para apoiar a comunidade.
 “A intenção foi ajudar a Missão dos Padres no apetrechamento do internato e da Igreja, do posto médico, da escola, da capela e da residência das Irmãs”, adiantou.
Neste momento, está já em preparação o acampamento do próximo ano, programado para Janeiro, na província do Kwanza-Norte. 
A secretária adjunta para a área de finanças da Junta Regional da Associação dos Escuteiros de Luanda, Marília da Costa, que teve a responsabilidade de cuidar de toda a logística do acampamento, sublinhou que foi uma actividade de rotina.
Garantiu que não houve grandes contrariedades, porque prepararam um acampamento para 105 pessoas e só se deslocaram à Missão de Caconda 94 elementos, entre dirigentes e caminheiros.
A principal preocupação no acampamento é com os produtos básicos essenciais, como o leite, açúcar, pão, bolachas e algumas latas para facilitar o custo da actividade.
A caminheira Jersey Bárber Domingos, que participou pela segunda vez, esperava fazer mais trabalho social, como a prestação de serviços comunitários nas áreas da saúde e de pinturas dos aposentos da Missão.
“Não lamento o facto de ser escalada para a secção da cozinha. Foi uma experiência, porque tive de cozinhar caldeirada, feijoada e pirão para muita gente”, frisou.



A Missão de Caconda


Localizada a cerca de 247 quilómetros do Lubango, a Missão não perde tempo a olhar para o passado, que foi severamente marcado pela guerra.
Afecta aos padres espiritanos da Igreja Católica, a sua grande aposta é reconstruir o lado material e espiritual, embora no campo da educação e da saúde ainda sejam bem visíveis as enormes carências.
A Missão acolhe jovens provenientes de todas as povoações de Caconda, em particular os mais carenciados das aldeias do Ngungui, Kavolongonho, Fendi, Cruzeiro, Bom Pastor, Santa Ana e Belém.
O pároco superior da Missão dos Espiritanos, David Sandambongo, disse ao Jornal de Angola que está há quatro anos à frente da instituição religiosa e que a mesma conta com a colaboração de um padre, três irmãs e seminaristas, que vão mantendo as estruturas da Igreja funcionais.
Sob a sua responsabilidade tem 60 rapazes e as irmãs 35 raparigas, também recebendo jovens provenientes do Huambo, Cunene, Bié, Benguela e Luanda, que ali adquirem formação religiosa, académica e de artes e ofícios.
 “Apesar de todas as dificuldades por que passamos, conseguimos dar uma formação sólida a esses jovens”, garantiu.
No entanto, referiu que nem tudo é negativo, porque “há vontade de ver a Missão com nova imagem e continuar a evangelizar as povoações de Caconda”.



Os desafios


As grandes prioridades da Missão são a reparação das salas da escola, a manutenção da igreja e da residência dos padres e a construção de uma nova missão feminina.
“Neste momento, as madres ocupam o hospital e os doentes são atendidos no antigo infantário. Na lista de prioridades encontra-se a reabilitação da moagem, para a tornar uma fonte de receitas e ajudar as populações que vivem nos arredores da Missão, a reparação do internato, a melhoria da assistência médica e medicamentosa e a reabilitação do posto médico”, explicou o padre.
Há ainda a necessidade de construir uma casa de trânsito para acolher evangelistas e catequistas quando visitam a sede da Missão, reparar os internatos masculino e feminino e apetrechar o acampamento, a casa onde pernoitam os cristãos que vêm de longe para as grandes actividades religiosas.
Por outro lado, a Igreja de Caconda precisa de apoio para a compra de um gerador que forneça energia às duas missões, a masculina e a feminina, e para permitir a realização de cursos nocturnos de formação para catequistas.
A escola da Igreja da Missão ministra o primeiro ciclo, contando com mais de 30 professores, para um universo de 700 alunos matriculados, provenientes do internato masculino e feminino e da vila e aldeias em redor da Missão.
O material didáctico deixou de ser um problema, porque “as direcções provinciais e municipais da Educação apoiam a escola. Depois da 9ª classe, os alunos são obrigados a procurar outras escolas para prosseguir os estudos, porque as cinco salas são insuficientes para atender a procura e o único gabinete de trabalho serve para toda a direcção”, adiantou.



Educação produtiva


Quanto à área da saúde, apontou como necessidades imediatas uma maior diversidade da dieta alimentar das crianças e adultos. Para ajudar a minorar este problema, foi criada na escola a disciplina de educação produtiva, para dar formação científica aos jovens camponeses na consolidação dos seus conhecimentos práticos de como cuidar da produção agrícola e pastorícia.
Apesar dos esforços do Executivo em criar condições condignas para as populações, dadas as condições geográficas e climatéricas do município, admite que ainda há carência de água tratada em alguns locais.
“Precisamos, com alguma urgência, que nos seja reparada uma das pontes que dá acesso à Missão, para facilitar a livre circulação de pessoas e bens. Os populares, neste período das chuvas que se aproxima, têm inúmeras dificuldades em se deslocarem até à vila” lamentou o padre David.
O sector da agricultura e o repovoamento animal, como constatou o Jornal de Angola, são hoje uma realidade, com uma série de currais com gado bovino. No interior de Caconda e nas povoações próximas da sede da Missão, encontrámos centenas de animais de raça tradicional.
Em Caconda, não é difícil encontrar, quando se caminha pelo interior das povoações, como a de Ngungui, Kavolongonho, Fendi, Cruzeiro Bom Pastor Santa Ana e Belém, imensas manadas de bois e o cheiro forte e agradável do cultivo. O grosso da população trabalha e vive da agricultura e da pastorícia.

     

Histórico da Missão



A fundação da Missão de Caconda é atribuída ao padre Ernesto Leconte, missionário espiritano nascido na Normandia, no Noroeste de França, em 25 de Março de 1862. Segundo dados históricos, Laconte desembarcou em Angola em 1884 para evangelizar os Cuanhamas, povo guerreiro do Sul
Depois de enfrentar várias dificuldades, entre as quais uma tentativa de assassinato instigada pelo soba Thywako, que o mandou amarrar e prender a uma árvore para ali morrer, o padre foi libertado e levado para a Missão da Huíla, para recuperar dos maus-tratos sofridos. Recuperado, obteve do bispo Leitão e Castro autorização para instalar uma missão em Caconda.
Em Luanda, o bispo, na posse de toda a documentação, criou, por decreto canónico de 4 de Novembro 1889, a Missão de Caconda, como filial do Bié. No mesmo dia, era publicado outro decreto que nomeava o padre Ernesto Leconte, espiritano, vigário geral do Bié, mas com residência em Caconda. Pela  Missão passaram muitos dos actuais responsáveis públicos..