Cultura

Destacada a influência africana no continente americano

Mais de cem pessoas marcaram presença, ontem, na conferência sobre as origens africanas do Brasil contemporâneo, que revelou estudos sobre contribuições nas áreas de histórias, línguas, culturas e civilizações africanas, que teve como anfitrião o antropólogo Kabengele Munanga.

20/05/2023  Última atualização 09H05
© Fotografia por: Kindala Manuel |Edições Novembro

O presidente da Fundação Sagrada Esperança, Roberto de Almeida, reconheceu que o professor Kabengele Munanga tem uma visão muito clara da sociedade brasileira actual, mesmo não tendo nascido no Brasil, país onde vive há muitos anos

"Aprendeu sobre a nascença e a alma do povo e é isso que nos transmitiu, embora muitos cidadãos brasileiros não reconheçam as raízes africanas que estão presentes actualmente naquele país. O professor disse que o Brasil foi o último país a abandonar a escravatura e a prova é que os africanos ainda continuam a lutar pelos seus direitos”, sublinhou.  

A directora do Arquivo Nacional de Angola, Constância Ceita, deu o seu contributo com base no que ouviu durante a conferência, dizendo que foi uma abordagem nova, reflexão que considerou uma aula magna sobre toda a violência que África sofreu, enquanto continente berço da humanidade.

"Traduz-se hoje nos seus espaços com esta formalidade e força, desde os tempos remotos na Era da escravatura em que se formam as migrações forçadas para as Américas e o tráfico transatlântico vai permitir que a escravatura seja desenvolvida. Hoje, isso é um resultado dos ditos afro descendentes que defendem África com os seus ideais e contributos africanos que ajudaram para o grande desenvolvimento económico mundial”, defendeu. 

Para o secretário-geral da União dos Escritores Angolanos, David Capelenguela, a perspectiva que deve ser encontrada com tudo que se ouviu do professor Kabenguele Munanga, é um renascimento da personalidade africana, que significa ser original e não consumir o que os outros falam sobre nós.

"É aí onde é chamada a atenção da juventude para que tenham a responsabilidade de dar seguimento ao país. Se não continuarmos com aquilo que recebemos do colonialismo, o renascimento da personalidade africana nos identifica como consumidores do que é nacional, falar da nossa filosofia e não da filosofia europeia”, disse.

A historiadora e professora universitária Anabela Cunha destacou que a conferência veio revelar a ligação entre Angola e Brasil nas suas relações contemporâneas, sobretudo a contribuição dos africanos naquele país, em termos de comportamento, alimentação, maneira de ser e estar da população.

Na ocasião, o presidente do Conselho de Administração da Edições Novembro, Drumond Jaime, explicou que a vinda do antropólogo Kabengele Munanga se justifica por ser actualmente um dos intelectuais que tem pesquisado profundamente sobre muitas questões  que têm sido debate nas redes sociais entre os jovens que,  muitas vezes, questionam sobre a contribuição que a África deu ao mundo.

Drumond Jaime apontou que este comportamento deriva da leitura de muitos teóricos ocidentais, segundo os quais o continente não deu nada ao mundo, à excepção da sua força bruta e mão-de-obra, justificando o tráfico de escravos.

Um intelectual como o professor em destaque, que fez vários estudos na revolução brasileira, veio mostrar aquilo que os angolanos levaram para o Brasil em vários sentidos e passar o testemunho aos mais novos que o continente tem um passado glorioso e de uma certa produção intelectual”, revelou. 

Após o término da actividade, o escritor John Bella disse que foi gratificante participar na conferência que teve como ponto fundamental destacar as grandes contribuições dos africanos.

"Para quem pesquisa sobre o passado, no caso particular a rainha Njinga Mbande, há muita coisa que devemos saber em relação à presença angolana  no Brasil, visto que algumas figuras da história angolana foram alteradas", disse o escritor.

Para o soba Ngana Sanguianane, do reino do Ndongo, a conferência surgiu para ajudar a preservar a essência dos saberes dos angolanos, bem como fortificar a sua ancestralidade. O soba disse ter percebido claramente que um povo sem cultura é perdido.

Para o jornalista freelancer Santa Maria, que também esteve na conferência, disse que o palestrante é uma figura africana, emblemática, por construir a história de um continente a partir da diáspora.

"É uma daquelas pessoas que tem orgulho de ser africano, e ele faz bem o seu papel,  através dos estudos e investigações que lhe garantiram notoriedade.  Pude perceber como as línguas nacionais têm algumas influências no meio social linguístico brasileiro, que foram com as pessoas escravizadas e hoje estão nas diferentes manifestações culturais, como a música e a literatura”, frisou. 

Para o vice-reitor da Universidade Metodista de Angola, Tiago Caungo Mutombo, que disse conhecer o antropólogo há nove anos, o professor Kabengele Munanga apresentou uma abordagem muito interessante, tendo destacado o que realmente a África precisa para se apropriar, desde a antiguidade à contemporaneidade.

Em termos culturais, acresceu, actualmente, os jovens angolanos têm bebido muito dos valores culturais brasileiros.

Segundo Tiago Mutombo, a celebração do dia de África é uma oportunidade para continuar a conhecer os valores do continente, tendo reforçado que se celebre todos os dias, de acordo com a forma de agir e de estar, sobretudo no processo de ensino e aprendizagem.

"A África deve ser ensinada todos os dias tal como celebramos a vida, porque ela é a mãe dos continentes", disse.

Para André Domingos, mestre em Ensino da História de Angola no Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda (ISCED), a conferência foi valiosa, tendo sido dirigida por alguém que conhece a matéria. O historiador referiu que, actualmente, há muitos angolanos no Brasil e, isso de certa forma, pode influenciar na transmissão das outras línguas regionais.

"As línguas nacionais são suporte para a nossa filosofia de vida, visto que seguir a base das nossas identidades é ir ao encontro das línguas nacionais", disse.

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