Opinião

Desleixos e egoísmos

Luciano Rocha

Jornalista

O desmoronamento, na semana passada, de um prédio, em Luanda, na avenida comandante Valódia, comprovação de desleixos e egoísmos reinantes no país, tem culpados, os que deviam saber da situação e nada fizeram para a vitar.

30/03/2023  Última atualização 07H30

Aquele desabamento não foi obra do acaso porque, especialmente na província na qual está a capital do país, as condições de habitação são sobejamente conhecidas e alvo de conversas. Naquele dia foi um, mas podiam ter sido muitos mais, tal a quantidade de edifícios habitados sem as mais elementares condições de serem. Apenas estão alheios ao drama os eivados pelo egoísmo, mesmo que circulem em viaturas de vidros fumados, que os escondem, mas não os impedem de verem, principalmente com olhos de coração.

O trágico acontecimento não teve consequências maiores por não haver vítimas mortais, mas  revela, uma vez mais, o abandono a que está votada Luanda pela maioria dos que a habitam ou nela trabalham, mesmo não ocupando cargos com obrigações de olharem para o que se passa e agirem.

A culpa é, em primeira instância, repise-se, de quem tem obrigação, por exercício de funções, de velar pelo bem-estar das populações residentes na província e pelo vistos é o que se vê.   

 Mesmo o mais desatento cidadão, absorvido nas contas do dia-a-dia - renda ou prestação da casa, electricidade, água, escolas dos filhos, comida para pôr na mesa, transportes -, ao olhar para o céu para vislumbrar sinais da chuva que ameaça ou tarda em chegar, não pode deixar de ver nos atentados ao urbanismo e bom gosto, bem como aos constantes desafios aos perigos dos crescentes números de andares em cima de terraços, sem nada que os segure.

Exemplos em Luanda a espelharem desleixos e egoísmos são mais do que muitos e não param de crescer, principalmente nos últimos tempos, inclusive na Baixa. Um deles: ao lado da sede do governo provincial, ao terraço do prédio onde está instalada a União Nacional dos Artistas e Compositores, alguém acrescentou uns blocos de cimento. Quem lá vive, se entretanto não foi desalojado, tem ou tinha uma vista privilegiada. E depois? E o resto?

A rua Rainha Njinga que, por motivos óbvios, devia ser das mais emblemáticas da capital, é um chorrilho de disparates de toda a ordem - até o vosso nome Alteza é desrespeitado!  -. Neste caso pela ignorância. Chega a parecer um concurso de dislates. Escrevem-no, inclusive nas placas toponímicas, das mais desleixadas maneiras. Também nesta via, o conceito de urbanização é algo desconhecido. As construções em cima de terraços passaram a ser banalidades, coisa de somenos, como se não estivesse em causa vidas, além do cumprimento de leis que temos, apesar de, com frequência, parecer que não.

A falta de habitação em Luanda deve-se, em parte, ao número de habitantes que tem. As últimas projecções  oficias reveladas, no ano passado, apontam para mais de nove milhões, parte substancial proveniente de outros pontos do país e do estrangeiro, a maioria sem habilitações académicas e profissionais. No caso dos imigrantes, quase sempre fugidos de conflitos armados, intempéries, que procuram, em primeira instância, a paz, das poucas coisas que lhes podemos dar. Se levarmos em conta que ela significa ausência de guerra. Por todas estas situações, amiúde na conjugação de todas aquelas circunstâncias, os imigrantes agarram-se ao que aparece e vivem como podem. Os angolanos, imitam-nos, mesmo que tenham familiares, também eles a viverem dias difíceis devido às sucessivas crises económicas e à Covid-19 causadoras de desempregos.

Este presente, espelho daqueles reveses e de todos os outros que se conhecem, dispensa desleixos e egoísmos. Há coisas que são urgentes fazer e uma delas é começar a tratar, de imediato, da segurança das pessoas, o bem maior de qualquer país. O desmoronamento, em Luanda, na rua comandante Valódia, na semana passada, foi mais um alerta do que deve ser feito já por não ter sido feito quando devia. 

         

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