Política

Desenvolvimento do país convence angolanos na diáspora a regressar

Paulo Caculo

Jornalista

Os níveis de desenvolvimento das infra-estruturas sociais em Angola, os progressos alcançados no capítulo económico e a disponibilidade manifestada pelos Governos provinciais em facilitar a concretização de investimentos privados nos vários sectores, representam os factores de motivação para o regresso definitivo ao país, em breve, do grupo de 300 angolanos radicados no exterior, participantes do 1º encontro com a comunidade na diáspora, organizado pelo Movimento Nacional Angola Real (MONAAR).

12/04/2024  Última atualização 08H40
Delegação de jovens agradeceu o apoio prestado pelo Presidente da República, João Lourenço © Fotografia por: Edições Novembro
A intenção ficou expressa nas declarações prestadas ao Jornal de Angola, ontem, por um grupo de membros da delegação de angolanos radicados no estrangeiro, que participou do períplo de 12 dias a 15 das 18 províncias do país.

Apoiada na velha máxima segundo a qual "mais vale ver para crer”, Ginga Saúde confessou não ter pensado duas vezes quando recebeu o convite para embarcar na caravana, rumo à "redescoberta” do país que não via há sensivelmente 23 anos.

"Sinto que sou uma privilegiada, porque identifiquei oportunidades de negócios numa área de formação um pouco distinta. Sou corretora de imóveis e avalista de infra-estruturas. É um sector que ainda não se fala muito no nosso país e me sinto, por isso, com responsabilidade de ser a pioneira no assunto, porque tem muitos pontos para se ter em conta”, disse a jovem angolana, natural do Cuanza-Norte, actualmente, a residir na África do Sul.

"Sei que só poderei ser o que pretendo e aspiro dentro do meu país, porque a nossa vida no exterior do país também não é fácil e emigrei por necessidade, porque precisava de algumas coisas da minha área de especialização que em Angola ainda não existem. Mas já aceitei o convite para regressar. Já estou dentro”, acrescentou sorridente.

Também na África do Sul e disposto a regressar a Angola, tão-logo estejam criadas as condições, está Celestino Januário, de 49 anos. Revelou ter ficado extremamente impressionado ao ver as infra-estruturas que não tinha deixado quando, há 24 anos, decidiu viver uma nova experiência na diáspora.

"O que deixamos em Angola, nos anos 2000, e o que tivemos a oportunidade de constatar agora, com certeza, faz toda a diferença”, apressou-se a frisar, para em seguida admitir que existem aspectos que precisam, ainda, de maior impulso e investimentos, particularizando os incentivos ao turismo.

"Nesta óptica, creio que a força dos angolanos na diáspora poderia trazer uma mudança e transformação naquilo que nos pode capacitar para ajudar. Vimos que a governação está de mãos abertas para permitir que possamos dar o nosso contributo, porque somos um grupo de jovens de várias categorias, em termos profissionais, entre os quais alguns jovens empresários e que podemos ser uma mais-valia”, assinalou, manifestando interesse em apostar na produção de vinho e água mineral.

Avanços e melhores condições de vida

Gilson Francisco vive na Alemanha há mais de 17 anos. Disse estar satisfeito por ter constatado progressos em muitas das províncias que teve a oportunidade de visitar. "Tudo quanto constatei, mostra que não é o que as pessoas falam. É algo completamente diferente”, afirmou, visivelmente emocionado.

"O meu regresso ao nosso país será para investir em algo concreto e ajudar na criação de emprego. Porque há cá oportunidades para qualquer angolano crescer em termos de negócios, por isso gostava de convidar os nossos irmãos que vivem mesmo aqui, em Luanda, a andarem um pouco pelas demais províncias, serem activos e proactivos, de forma a serem eles próprios a criarem o seu próprio meio de subsistência”, sugeriu.

Os investimentos nos sectores do Turismo, Agricultura, Pescas e, também, a aposta nos sistemas fotovoltaicos, segundo ainda Gilson Francisco, servem de provas "inequívocas” dos esforços do Executivo, em especial do Presidente João Lourenço, em promover o desenvolvimento do país e proporcionar aos angolanos melhores condições de vida.

"Também podemos criar sistemas de administração de dados, porque dados é o suporte de um país. O Governo deve, agora, olhar para os sistemas de transformação de receitas internas. E queremos trazer este investimento para o nosso país”, disse.

Empreendedor do ramo de Saúde Pública, Lourenço da Silva, de 52 anos, revelou ter identificado várias áreas de investimento, tendo sublinhado a importância de se ser um "bom visionário” para, ainda que em tempos de crise, fazer-se grandes descobertas.

"Adorei ter visitado Malanje e participar da Feira Agrária. Pude, na ocasião, identificar muita coisa boa em termos de negócios. Somos mandatados por vários grupos empresariais, que apostaram em nós, em termos de investimentos. Esperamos encontrar as facilidades, as pessoas certas e as instituições credíveis que nos possam ajudar a concretizar os nossos objectivos”, enfatizou.

Formada em ciências políticas, na Alemanha, para onde emigrou há 35 anos, Felismina Gerónimo assegurou ser a hora de regressar para casa, porque "os bons filhos sempre a casa regressam”. Mas, para tal, confessou ter contribuído o facto de ter descoberto, no país, oportunidades para desenvolver alguns negócios, sobretudo na área do Turismo.

"Agora, penso que chegou a hora de regressar a casa, porque somos filhos desta pátria. A casa dos outros é sempre dos outros”, assegurou a angolana, natural de Luanda, nascida no Bairro Popular, para quem, sem a iniciativa do MONAAR e o apoio do Presidente da República, João Lourenço, muito dificilmente ganharia motivações para ponderar num regresso definitivo ao país, para ajudar no seu desenvolvimento.

"Gostei de visitar sobretudo a província do Cunene. Não estava no roteiro, mas fomos para lá, graças ao apoio de Sua Excelência, Senhor Presidente da República, e foi muito interessante, por ser aquela província que sempre identificamos como sendo da seca e da fome. Pude ver aqueles projectos todos, principalmente do Canal do Cafu, que agora está a sustentar as famílias e a permitir a produção agrícola naquelas terras férteis”, regozijou-se.

Objectivo cumprido

Durante os 12 dias que esteve em Angola, a delegação de 300 angolanos radicados no exterior do país manteve contacto com a realidade de cada uma das províncias e avaliar as oportunidades de negócios ou as áreas susceptíveis de participação.

Os angolanos constaram, também, a grande produção em curso no país, mormente no sector Agrário, evidenciada com o cultivo, em grande escala, da banana, mandioca, feijão e outros, e confirmaram a existência de dificuldades com o escoamento e a necessidade de produção de polpa de tomate e laranja.

"Há muita produção em Angola e só não aceita isso quem não anda pelo país. E quem anda, deve informar a realidade presente neste domínio”, aconselhou o vice-presidente do MONAAR, Mateus Sebastião.

 
Mateus Sebastião (ao centro) considerou o balanço positivo

Organização promete apadrinhar concretização de projectos

O Movimento Nacional Angola Real (MONAAR) vai advogar os angolanos nos objectivos de materializar os projectos junto dos Governos provinciais, garantiu, ontem, o vice-presidente da organização.

Mateus Sebastião, que falava em conferência de imprensa de balanço dos 12 dias de visita da delegação de angolanos residentes na diáspora às províncias, lamentou, entretanto, o facto de não ter sido possível cobrir todo o país, por razões de agenda.

"Entendemos que, quando estamos juntos, juntam-se conhecimentos e é por via deste conhecimento que vamos criar projectos, que poderão, depois, ser colocados à disposição do próprio Governo e, se entenderem efectivar estes projectos, com certeza poderemos todos contribuir, da melhor forma, para uma Angola melhor”, adiantou-se a esclarecer, assegurando todo o apoio na concretização dos objectivos de quem pretenda investir em Angola.

"Tivemos já o conhecimento de angolanos que residem na Bélgica e que desejam investir na agricultura, e outros também que vivem na Alemanha em projectos de material hospitalar e igualmente em Portugal, onde há compatriotas que pretendem colocar em Angola um centro de formação profissional, para técnicos de manutenção das infra-estruturas que já existem, a exemplo dos parques fotovoltaicos”, explicou, para esclarecer que a ideia, no caso, é criar técnicos para fazer a manutenção dos equipamentos.

"O papel do MONAAR é advogar e fazer chegar as intenções junto das autoridades de direito, para que possam ter acesso e concretizar os projectos”, sustentou.

Mateus Sebastião teceu, ainda, palavras de agradecimento a todos que directa ou indirectamente estiveram envolvidos para o êxito da primeira edição do evento, destacando a atenção especial dedicada pelo Presidente da República, João Lourenço, que ao ver limitada a condição para a delegação alcançar as demais regiões do país, nas visitas de constatação, prestou todo o auxílio necessário, para tornar o objectivo cumprido.

"Deu-nos o socorro desejável, tornando possível cumprir a nossa agenda de trabalhos. Os agradecimentos, também, aos Governos das províncias onde foi possível visitar, pelo suporte dado e pela forma como apresentaram a realidade de desenvolvimento social e económico das respectivas regiões, e ao Ministério das Relações Exteriores, através das missões diplomáticas e consulares, que intervieram, dando o suporte necessário”, disse.

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