Opinião

Desafios e oportunidades de África face ao contexto mundial

Osvaldo Mboco

*Professor de Relações Internacionais e mestre em Gestão e Governação Pública, na especialidade de Políticas Públicas

O presente artigo de opinião foi escrito na perspectiva de reflectir sobre os desafios e oportunidades de África, face ao contexto mundial, mas é importante fazer duas notas breves, a primeira tem a ver com o facto de que o continente não está a comemorar 60 anos de existência, mas sim 60 anos de existência da Organização de Unidade Africana, transformada em União Africana no início do século XXI, e a segunda nota vai no sentido de desconstruir uma narrativa que domina alguns seguimentos, eivada de estereótipos, segundo a qual foram os europeus que descobriram África.

28/05/2023  Última atualização 06H25

África nunca esteve perdida, existe há mais de milhares de anos, se tivermos em atenção que é considerada o "Berço da Humanidade”.

África é um continente que procura reencontrar-se com a sua história, valores, hábitos, costumes e passado, bem como com o seu povo. A Conferência de Berlim de 1885 deixou marcas profundas na configuração geográfica do continente e alterou as fronteiras africanas. Não se trata de um argumento de vitimização, mas sim de uma constatação de uma realidade agravada pelo processo de colonização e imposição de hábitos e costumes ocidentais.

Os desafios de África no século XXI são múltiplos, mas para esse artigo, iremos destacar 4 vectores: 1) Paz, segurança e democratização continental; 2) Formação dos recursos humanos e aproveitamento demográfico; 3) Comércio continental, industrialização e revolução tecnológica africana; 4) Defesa dos valores identitários dos africanos. A par destes, existem outros desafios.

1) - Paz, Segurança e democratização continental: se constituem no desafio primário para que outros desafios sejam ultrapassados. África é o continente com maior número de guerras, mudanças inconstitucionais e governos autocráticos, além de que as instituições da maioria dos Estados são frágeis. Esses elementos inviabilizam o comércio intra-africano, a ligação terrestre do continente, afasta os investidores e põe em causa o desenvolvimento de África. O continente precisa de operar transformações profundas no que concerne a sua arquitectura de paz e segurança e traçar uma estratégia de segurança colectiva que engaje os Estados africanos. Neste ponto, é importante equacionar a defesa para os novos riscos e ameaças a soberania dos Estados.

2) Formação dos recursos humanos e aproveitamento demográfico: a maior riqueza do continente africano não são os recursos naturais e minerais que repousam no solo africano, mas sim os seus recursos humanos. África possui a população mais jovem do mundo, mas, ao mesmo tempo, a menos escolarizada. O analfabetismo é um dos grandes males que enfermam o desenvolvimento do continente. É importante que os governos apostem ou aumentem o orçamento que é cabimentado para este sector, que constitui a arma mais poderosa de qualquer nação que pretende ser próspera e desenvolvida, como defendeu Madiba.

3) Comércio continental, industrialização e revolução tecnológica africana: a Cooperação Económica Intra-Africana é incipiente. Não estimula o comércio continental e as trocas dos produtos entre os Estados, o que dificulta o crescimento económico devido a vários factores de ordem técnica, infra-estruturais, tecnológica, insuficientes recursos humanos qualificados, instabilidade militar, falta de vontade política para mudar o ritmo do desenvolvimento do continente mais rico em recursos minerais e, ao mesmo tempo, o mais pobre do mundo. Conforme defendeu o autor do livro "Os Desafios de África no século XXI, um continente que procura se reencontrar”, a revolução industrial e tecnológica se impõe no continente, mas para que isso se torne factível é necessário os governos dos Estados africanos operarem transformações estruturais e estruturantes que permitam a alteração deste quadro.

4) Defesa dos valores identitários dos africanos: é notável que o continente sofre desde a colonização um processo de aculturação e extinção dos valores identitários do continente, em parte devido à permissividade e a complexidade dos africanos em não conservarem os valores identitários e num outro momento pela imposição Ocidental, através do "softpower”, como os canais televisivos, instrumentos como "Hollywood” que impõe os seus hábitos e costumes através da cinematografia. É fundamental apostar-se em programas africanos que visam elevar a cultura que é rica e milenar.

As oportunidades de África no contexto mundial são múltiplas, as maiores reservas de mineiros estão em África, o continente possui uma riqueza hídrica incalculável, terras aráveis. África poderia transformar-se no celeiro do mundo. Assim como defendeu Achille Mbembe "(…) África é a esperança do mundo na busca de novos mercados e conquista dos espaços, devido à riqueza que repousa no solo e no subsolo africano. África é a última fronteira do capitalismo. (…)”

O futuro do continente africano constrói-se todos os dias, não simplesmente com os políticos e doutores, mas sim com todos os africanos que pensam e amam África. Mas, para isso, é fundamental que os líderes africanos adoptem mecanismos que permitam uma governação inclusiva e participativa do povo na vida política do Estado, para que este se sinta parte integrante do processo de desenvolvimento do país e consolide o sentimento de pertença, permitindo, assim, que o povo tenha confiança no Estado, nos políticos e nas suas instituições, bem como resgate a esperança de um futuro melhor.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Opinião