Opinião

Cultura de homenagem

Matias Adriano

Jornalista

Em 2024, o Campeonato Nacional de futebol da I Divisão (Girabola) assinala 45 anos, desde que rola pelos campos do país, transmitindo calor e avultadas doses de emoções àqueles que dele fazem a maior paixão desportiva. Tenha os problemas organizativos que tiver; tenha a qualidade técnica que tiver; tenha o cortejo de dramas que tiver.

16/11/2023  Última atualização 06H10
Seria de bom grado, que chegados a este marco, instituições associadas à cultura desportiva, talvez o Minjud, talvez a FAF ou outra qualquer, tratassem de organizar uma homenagem a alguns futebolistas, técnicos e árbitros que desfilaram nessa edição pioneira, em representação de diferentes emblemas, cujos critérios saberiam definir.

Nunca se construi o presente sem que tenha havido um passado. E o passado do nosso futebol em particular e do desporto de um geral, está pejado de factos interessantes, cujos protagonistas, boa parte deles não passam de ilustres anónimos, porque nunca alguém se interessou, nem mesmo os clubes que representaram, em render-lhes alguma homenagem, que infunda à sociedade a percepção do que foram em determinada época.

Boa parte deles anda por aí. Cruzamos os mesmos caminhos. Alguns bem sucedidos, não à custa do desporto claro, e outros amanteigam o pão que o diabo amassou. Vai longe o tempo em que os seus nomes eram alegres e docemente cantados nas plateias de estádios, quando, no auge da carreira, esbanjavam talento e elegância, fazendo a delícia de quem os fosse ver a actuar.

Aliás, no nosso país, o desporto deu estabilidade a poucos dos anos 80, por sinal os mais sacrificados, que melhor faziam nas quadras, mas em troca de nada. Eram apenas fiéis assumidos ao amor à camisola, mesmo às vezes mal alimentados. Dar show de bola com arroto de carapau, como certa vez escreveu  "mestre" Gustavo Costa, é o que muitas vezes ocorria.

Eles, do Governo já não esperam nada, materialmente, como não podem esperar. Mas, nos murmúrios deixam subentendido que ao menos fossem lembrados como gente que já teve serventia, com espaços privilegiados na media da época. Também deram manchetes e colocaram pedras nos alicerces do sólido edifício do nosso desporto.

A questão está do lado da gente que gere o desporto, que não tem sabido aproveitar os momentos certos. É tão simples quanto isso. Por exemplo, em 2020 assinalámos 40 anos sobre o primeiro título Africano júnior de Basquetebol, a chamada "mãe de todas as conquistas". Uma homenagem àquela gesta não ficaria mal. Nelson Sardinha, Jean Jacques da Conceição, Artur Barros, Víctor Almeida e demais ainda estão aí.

Em 1984, os Palancas Negras perderam, à tangente, diante da Argélia, o apuramento ao Mundial de 1986, no México. Faz o próximo ano 40 anos. Uma cerimónia de evocação do momento, com a entrega de diplomas de mérito aos integrantes daquela ousada equipa, não desfalca os cofres. Ndunguidi, Jesus, Saavedra, Ivo, Quim Sebas, Lufemba e outros sentir-se-iam, naturalmente, honrados. E assim valorizamos o passado e a História.

É lógico que o jogador actual, aquele de quem se espera para a solução em campo, assume o privilégio. Mas não se deve apagar o passado de forma deliberada. A História não se escreve sem factos e os factos não acontecem por só, sem protagonistas.

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