Cultura

Crítica literária brasileira realça contributo das mulheres na Cultura

A crítica literária brasileira Carmen Tindó Secco reconheceu, na quinta-feira, que as mulheres contribuíram significativamente nas diversas artes praticadas no país, destacando nomes de angolanas que se notabilizaram na literatura, no cinema, nas artes plásticas, música e teatro.

13/04/2024  Última atualização 10H10
Maria Eugénia Neto é uma referência da literatura infantil © Fotografia por: Armando costa | edições novembro

"Figuras como Lourdes Van-Dúnem e Belita Palma, por exemplo. As mulheres são transmissoras da cultura, tendo contribuído muito no resgate do rico reservatório cultural de lendas, mitos, fábulas, muitas delas responsáveis pelo equilíbrio familiar”, sustentou.

Carmen Tindó Secco foi a prelectora da terceira conferência do ciclo do mês de Abril da série Conversas da Academia à Quinta-Feira, que teve como tema "Mulheres de Angola na literatura e noutras artes”, na presença de académicos de Angola, Bélgica, Brasil e Portugal.

Carmen Tindó Secco destacou a obra do poeta e ensaísta angolano Jorge Macedo, que abordou sobre as várias faces da mulher angolana, as esposas, mães, guerrilheiras. No panorama da literatura angolana, quanto à aparição pública e promoção a especialista frisou que infelizmente não se compreende os silêncios em relação à contribuição das mulheres até antes do final do século XIX, realçando que apenas após a Independência é que os textos femininos começam a ganhar uma certa visibilidade.

"Nas décadas de 1950 e 1960, a poesia trabalha a mulher patriota, a mulher angolana libertadora, a mulher vista como companheira de luta. Antes silenciadas, as mulheres passam assim a ter protagonismo na poesia angolana libertadora. Os valores que dignificam as mulheres são a justiça, a igualdade e a fraternidade”, sustentou.

Dentre as autoras mencionadas, citou Maria Eugénia Neto e Deolinda Rodrigues, Paula Tavares, Ana de Santana, Amélia da Lomba, Cremilda Lima e Kanguimbo Ananaz.

Na sua intervenção, sob moderação da linguista Maria Helena Miguel, a conferencista apontou duas antologias que considerou muito importantes para a compreensão da poesia angolana feminina das últimas décadas, nomeadamente "Todos os Sonhos – Antologia da Moderna Poesia Angolana”, organizada por Adriano Botelho de Vasconcelos, e "O Amor tem Asas de Ouro – Antologia da Poesia Feminina Angolana”, organizada por Filomena Gioveth e Seomara Santos, ambas publicadas em 2005, sob chancela da União dos Escritores Angolanos. Ao mencionar o legado das rainhas Njinga Mbandi e Lueji, enquanto símbolos de poder e resistência, fez menção a temas da poesia angolana, nos quais a mulher é vista como extensão da mãe natureza e a representar a mãe África, em cujo texto reflecte um tom romântico na representação da fauna, flora e paisagens locais, fazendo recurso a metáforas que exaltam as terras africanas. Para além disso, deu conta que "a mulher guarda os sabores dos frutos que representam Angola, tal como o maboque”.

No que às artes plásticas diz respeito, a professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Carmen Tindó Secco, mencionou as artistas Marcela Costa e Maria Belmira. A primeira foi aluna de Viteix e pertence à geração de Jorge Gumbe e Tirso Amaral. Já a segunda denota na sua pintura a preocupação com os mitos e memórias e menciona a relação da mulher com a natureza.

Quanto ao cinema, o destaque foi para Sarah Moldoror, poetisa e cineasta, realizadora dos filmes "Sambizanga”, "Monangambê” e "Racismo na Vida Quotidiana”. Seguiram-se Maria João Ganga, autora de "Na Cidade Vazia”, Pocas Pascoal, realizadora de "Por aqui tudo bem”, e Kamy Lara, que realizou "Mulheres de Armas” e "Para lá dos Meus Passos”.

A finalizar, Carmen Secco destacou na dança a professora e bailarina Ana Clara Guerra Marques, impulsionadora do projecto da Companhia de Dança Contemporânea de Angola, que se dedica ao ensino institucional desta modalidade artística em Angola, autora dos livros "Alquimia da Dança” e "Para uma História da Dança de Angola”.

Dedicação às literaturas africanas

Carmen Tindó Secco faz parte do crescente e heterogéneo leque de académicos que por este mundo se têm interessado pelo estudo e ensino das literaturas africanas em língua portuguesa. Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco é Professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), profunda conhecedora das Literaturas Africanas em Português, bem como da brasileira. A professora concedeu recentemente uma entrevista ao Jornal de Angola, publicada em Março, na qual a estudiosa brasileira fala da sua paixão pelas letras africanas em português, das relações de intertextualidade com a literatura brasileira e traça um panorama das literaturas de Angola, Moçambique e Cabo Verde.

A relação directa com as literaturas africanas de língua portuguesa começa em 1986, durante uma viagem a Cuba. Em Havana, havia encontrado e comprado alguns livros de autores angolanos, obras publicadas pelo Governo cubano. Porém, quando, em 1993, foi publicado o edital para o concurso para as Literaturas Africanas na Universidade Federal do Rio de Janeiro, resolveu concorrer à única vaga, tendo em vista haver percebido que, a par das muitas diferenças existentes entre a Literatura Brasileira e as Literaturas Africanas em Língua Portuguesa, poderia estabelecer importantes interlocuções com autores africanos de Angola, Moçambique, Cabo Verde e Brasil, entre os quais Luandino Vieira e Guimarães Rosa, Manuel Bandeira e Jorge Barbosa da Geração Pasárgada, de Cabo Verde, Eduardo White, de Moçambique, e Carlos Drummond Andrade, entre outros.

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