Sociedade

Covid-19: O actual grande desafio para as famílias!

No Dia Internacional da Família, que se assinala hoje, é colocado a esse núcleo da sociedade o desafio da aposta continuada na criatividade e na inovação, com vista a enfrentar melhor os dias difíceis que se vivem por causa da situação económica menos boa que o país atravessa, agravada, desde o ano passado, pela pandemia do novo coronavírus

15/05/2021  Última atualização 07H00
Santa Ernesto pede às famílias para usarem cada vez mais a criatividade em tempos difíceis © Fotografia por: Cedida
Dois menores saltam para dentro de um contentor que se encontra junto ao principal jardim do quarteirão U, na Cidade do Kilamba. No meio do lixo, os pequenos, com idades compreendidas entre os dez e 13 anos, lutam para achar o melhor que podem. Ali, ambos ficam por uns minutos, tendo cada um saído com artigos antigos. O primeiro consegue restos de louça sanitária e o segundo arruma partes de uma ventoinha. 

Fora do contentor, os rapazes arrumam as coisas debaixo de uma árvore pequena, onde está sentada uma mulher a amamentar uma criança. Enquanto isso, os dois meninos voltam ao depósito de resíduos sólidos e continuam a colectar garrafas plásticas. E a missão dos pequenos prossegue, apesar do cheiro nauseabundo que toma conta do lugar. Mesmo nas proximidades dos contentores, o bafo é forte, que nem o uso da máscara facial retira o incómodo ao repórter. Essa inquietação do jornalista não é sentida pelos dois rapazes, que, nas calmas, não param o trabalho. 

Os miúdos, tal como a mulher com a criança ao colo, até, têm disponíveis as máscaras faciais. Mas, nenhum deles as usa correctamente. Um dos meninos tem o utensílio de produção artesanal pendurado ao braço esquerdo e o outro entre o queixo. A mulher, tem-no atirado a um saco que se encontra no chão. E o bebé, que brinca com o peito da mãe, está sem qualquer protecção do género. O repórter tenta um diálogo com a senhora, mas esta dispensa tal possibilidade. Diz que sofre com os filhos há anos e nunca recebeu ajuda. "Não é o jornal que vai resolver os meus problemas”, diz, enquanto chama pelos dois filhos crescidos e se vão embora. 

Como ela e seus filhos, há muitas famílias que dependem da recolha, reaproveitamento e venda do lixo. As autoridades não dispõem do número dessas pessoas que buscam em contentores o sustento, mas a situação é preocupante, como refere a directora nacional das políticas familiares, igualdade e equidade do género do Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher. No terceiro andar do edifício do referido ministério, à Avenida Hoji ya Henda, a directora Santa Ernesto condena a ideia de que as pessoas fiquem reféns do lixo nos contentores para o sustento das famílias. Porém, defende que "todos devem fazer alguma coisa por si e pelos seus dependentes, desde que sejam boas práticas”. 

Sobre os que dependem grandemente da recolha do lixo para o sustento, a directora nacional salienta que o Programa de Desenvolvimento Local e de Combate à Pobreza, coordenado pelo sector a que pertence e executado pelos municípios, contempla vários projectos para pôr cobro a esse problema, entre os quais, a inclusão produtiva das famílias. No quadro desse programa, pessoas como a mulher da abertura do texto, podem ser beneficiárias, bastando que as mesmas se organizem em cooperativas ou associações a fim de se direccionar as intervenções. "Por exemplo, direccionar um microcrédito a uma pessoa, às vezes, é um risco. Porém, quando se juntam há a garantia da solidariedade em que o crédito é individual, mas a responsabilidade é colectiva”, explica para avançar que "a ideia é que as intervenções sejam dadas em grupo”. 
Reaproveitamento do lixo 

Mas, as iniciativas não morrem por aí. Santa Ernesto assegura que existem outros sectores parceiros, como o Ministério do Planeamento, que têm programas para minimizar a situação de pobreza dessas famílias. No caso desse último departamento ministerial, existe um projecto sobre o reaproveitamento dos resíduos sólidos e como esse lixo pode constituir riqueza. 

Embora a mulher que se negou a contar um pouco da vida como catadora de lixo soubesse o valor que tem algum tipo de lixo, a directora de políticas familiares, igualdade e equidade do género disse que muita gente desconhece essa realidade. "Muita coisa que acaba nos contentores pode ser reaproveitada, como as garrafas, ferros, vidros, etc.”, afirma. Santa Ernesto é, também, mãe. Diz que, como  qualquer outra mulher, se sente triste quando vê crianças a deambularem pelas ruas à procura de resíduos ou a retiarar alimentos dos contentores. 

O que a responsável defende é que as famílias devem cultivar, a partir de casa, o hábito de seleccionar ou a separar o lixo para que, em contentores diferentes, possam ser reaproveitados. "Não é bom que continuemos a ver pessoas nos contentores  em busca de alimentos, daí a luta do Governo em dar  alguma dignidade a essas famílias”, realça a directora nacional.Porém, Santa Ernesto lamenta o facto de existir famílias bastante relaxadas quando o assunto é trabalho. "Ficam todas paradas à espera de ajuda. E isso não é bom”. 

A directora do Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher elogiou, entretanto, as famílias em que seus membros vendem nos mercados, catam objectos para canalizar às empresas de reciclagem de lixo ou montam pequenas barracas para assegurar o sustento. Por isso, embora considere que o país esteja a viver uma fase difícil, por causa da situação económica menos boa, agravada com a pandemia do novo coronavírus, Santa Ernesto é pela criatividade e inovação no seio das famílias.
Aposta na agricultura familiar 

O Governo tem feito esforços para aliviar os efeitos da pobreza. Nas áreas rurais, está a executar o "Kwenda”, um programa de fortalecimento da protecção social de base, que vai beneficiar, até 2022, cerca de 1.608.000 famílias. Esse programa, coordenado pela ministra de Estado para o Sector Social, Carolina Cerqueira, contempla as vertentes de inclusão produtiva, da cidadania e de transferências monetárias, em que os cidadãos recebem  a cada trimestre 25.500 kwanzas. A par disso, Santa Ernesto menciona o programa "Valor Criança”, que consiste em atribuir quantias monetárias a mães com filhos menores, com vista a permitir que essas famílias possam ter uma base para criar, entre outros, pequenos negócios e, futuramente, continuarem a sustentar tais iniciativas. 

Um dos grandes programas do Executivo é a diversificação da economia, com a agricultura a ser uma das apostas para a materialização desse desiderato. "É um caminho que nos ajudará a retirar da pobreza muitas famílias. Por isso, somos pela realização de cooperativas”, salienta. Da parte do Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher está a realizar um ciclo de capacitação para a formalização de cooperativas, iniciado em Setembro do ano passado, que já deu origem a 30 cooperativas, que envolvem 180 pessoas. Santa Ernesto revela que essas 30 cooperativas, a maioria delas na área da agricultura, artes e ofícios, recauchutagem, elecrticidade e pastelaria, estão já com processos avançados no Guiché Único de Empresas, o que pode motivar o surgimento de outros grupos de empreendedores. "Nós defendemos e apostamos muito na agricultura familiar”, refere a directora nacional para as políticas familiares, igualdade e equidade do género. 
Maior controlo das TICs 

A pandemia da Covid-19 é dos maiores desafios que o país atravessa, principalmente nos últimos tempos em que os números têm crescido. Mas, além disso, Santa Ernesto considera as novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) como outro dos grandes problemas. Na conversa que mantém com o Jornal de Angola, no âmbito do Dia Internacional da Família, que se assinala hoje, sob o lema "Família Emponderada em Tempo da Covid-19, Maior Harmonia e Coesão Social”, a directora nacional defende um maior controlo no uso das TICs, tendo em conta a grande influência negativa que estes meios representam na desestruturação das famílias. 

Em função disso, as autoridades defendem a necessidade de se promover a convivência e o diálogo inter-familiar, bem como o resgate dos valores morais para diminuir o índice de violência doméstica e aumentar o espírito de paz na sociedade. A secretária de Estado para Família e Promoção da Mulher, Elsa Bárber, reconhece  o momento difícil e com muitas medidas restritivas em relação às acções de convivência, mas,  alerta que essa situação não significa  que se deve perder o resgate de valores morais, daí a necessidade da promoção das boas relações entre os idosos e a juventude. 

Outra situação levantada, mas pela governadora provincial de Luanda, Joana Lina, é da falta de comunicação no seio familiar, que considera um fenómeno preocupante por estar a desestabilizar de forma preocupante a sociedade. "É importante que se reforce o diálogo no seio familiar para fortalecer os laços que unem cada membro da sociedade”. Joana Lina refere que a família é a primeira instituição de qualquer sociedade, por ser nela onde se dão os primeiros passos para a socialização e se buscam os exemplos de valores e referências à personalidade e ao comportamento mental dos cidadãos, desde tenra idade. 
Augusto Cuteta e Carla Bumba







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