Cultura

Costumes de Benguela no Festival Comunitário do Rio de Janeiro

Manuel Albano

Jornalista

A possibilidade de voltar a mostrar a herança cultural de Benguela, por meio do teatro, tem gerado muitas expectativas aos membros do grupo de teatro Damba Maria, representante angolano no VII Encontro Internacional de Teatro Comunitário, que se realiza de 20 a 24 de Abril, na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil.

14/01/2023  Última atualização 08H20
Integrantes do grupo de teatro da província de Benguela esperam dignificar as artes cénicas angolanas no festival do Brasil © Fotografia por: DR
Depois do grande brilharete no ano passado, no Festival Internacional Teatro de Inverno (FITI), que decorreu de 27 de Maio até 12 de Junho, nas cidades de Maputo e Beira, emMoçambique, o grupo volta a entrar em cena nos palcos internacionais com as peças de teatro "A morte não é minha”, que retrata o pesadelo de um homem, que pensa ter sido o culpado pela a morte da mulher, pesadelo que o tormenta dia e noite, levando o viúvo ao desespero.

Na segunda peça a ser apresentada no festival, o grupo propõe o espectáculo "Heroínas sem Nomes”. O grupo  pretende apresentar uma peça que aborda vários aspectos do quotidiano e as tradições do Sul do país, com adaptações, para ilustrar aspectos culturais de Benguela.

A história do espectáculo assenta na luta pela sobrevivência de três guerreiras, que ajudaram na conquista da Independência Nacional. Intitulada "Heroínas Sem Nome”, é um dos destaques da "festa do teatro comunitário” no Rio de Janeiro.

 As três mulheres angolanas que participaram em todos os processos de luta até o alcance da paz efectiva, em 2002, juntam-se para contarem as vivências de uma Angola reconciliada entre irmãos. 

Festival aposta na diversidade do teatro comunitário

O VII Encontro Internacional de Teatro Comunitário do Rio de Janeiro está em construção com apoios públicos e privados, disse, a organização, em comunicado enviado, ontem, ao Jornal de Angola, pelo coordenador - geral do festival Reinaldo Santana, onde se pretende abordar a diversidade do teatro comunitário, pois seus processos de criações artísticas se dão de várias formas.

Além de reflectir sobre a sustentabilidade dos povos e cidades, ressaltou, a "festa do teatro” vai contar com os participantes das Marcha Afro-ameríndia Americana, Rede Carioca de Cultura Viva, Brasileira de Teatro Comunitário e Redes Latino- Americana de Teatro em Comunidade.

Reinaldo Santana referiu que o encontro se organiza em diversos espaços da cidade do Rio de Janeiro e no formato on-line (streeming), criando um espaço artístico híbrido experimental. No festival, sustentou, vão ser realizados os encontros "O Congresso das Redes de Teatro Comunitário, "Marcha Latinoamericana Afroameríndia”, Montagem Coletiva do Espetáculo João Cândido”, "Grade Artística (presencial e online)” e o seminário sobre "O Teatro Comunitário Brasileiro, Latino-Americano e Africano(presencial e online)”.

A ideia do encontro, segundo o coordenador do festival "é buscar o desenvolvimento dos coletivos e artistas na valorização das propostas nas comunidades, orientando

vivências do fazer comprometidas com a autodescoberta e de sua própria expressão.”

Dificuldades continuam

O director do grupo Damba Maria, Adérito Tchiuca, disse, ontem, ao Jornal de Angola, que um dos principais constrangimentos tem sido a falta de apoios financeiros para a compra dos bilhetes de passagem para participar nos festivais. Entretanto, assegurou que estão a ser feitos os contactos com instituições parceiras no sentido de voltarem a apoiar o grupo, à semelhança da participação do grupo no festival de Moçambique no ano passado. "Acreditamos que até à véspera do festival poderemos conseguir solucionar esses entraves porque acreditamos na sensibilidade dos empresários locais e do Governo da Província que muito tem apoiado as artes”, perspectivou.

Devido aos custos da viagem, referiu, a caravana vai ser limitada. A projecção das artes cénicas em Benguela, frisou, tem dado resultado, em especial com o projecto "Noites de Teatro aos Domingos”, que acontece semanalmente naquela cidade, numa iniciativa do grupo Damba Maria.

O projecto, adiantou, é extensivo a todos os grupos de teatro do país. A ideia, disse, é a massificação e dinamização do teatro e dar oportunidade aos grupos de serem mais auto-sustentáveis.

A iniciativa, explicou, teve o arranque ano passado, mas tem estado, actualmente, a ser realizada em fases, devido à questão de espaços para a exibição, uma vez que o Cinema Monumental está encerrado para obras de reabilitação.

Grupo quer dignificar o nome do teatro angolano

O actor Rufino Alfredo disse, ontem, ao Jornal de Angola, que a participação do grupo, pela primeira vez, no festival é importante por ajudar na divulgação dos hábitos e costumes dos povos angolanos, em geral, e de Benguela, em particular.

A troca de experiência no domínio cultural, destacou, vai permitir criar "pontes culturais” e o fortalecimento das relações entre os povos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

A actriz Arminda Mateia Pinto defende um maior investimento nas artes cénicas nacionais, para melhorar a qualidade do produto cultural angolano a ser exportado além-fronteiras. Porém, destaca que o país tem apresentado um teatro com qualidade que precisa de ser melhor explorado e de apoios com acontece nas outras disciplinas artísticas, em especial na música. "O teatro nos últimos tempos tem sido a porta bandeira do país na participação dos principais festivais internacionais e não tem merecido o mesmo carinho que recebem outras disciplinas artísticas”, enfatizou

A actriz destacou o facto das artes cénicas estarem a evoluir bastante e que o trabalho produzido pelo grupos e companhias nacionais, muitas das vezes superaram o de grupos internacionais. "Temos um teatro com alguma qualidade, que precisa apenas de apoios para a sua dinamização em todos os sentidos”, destacou.

Feliz por ser uma das escolhidas para representar o Damba Maria no festival no Rio de Janeiro este ano, Arminda Mateia Pinto promete trabalhar mais para dignificar o teatro angolano e deixar uma marca nos palcos daquele país, como prova da evolução das artes cénicas nacionais. "Temos qualidade e o país tem estado a dar um bom exemplo de superação. Queremos mostrar ao mundo o que de melhor sabemos fazer nas artes cénicas e garantimos uma boa participação no festival”.

Para a actriz Maria Bongue, outra das integrantes do grupo, o mais importante é poder representar com dignidade e mestria a cultura angolana, com espectáculos de qualidade que simbolizam a matriz cultural nacional e honrar o trabalho desenvolvido pelos profissionais das artes cénicas nacionais. "Vamos levar o que de melhor existe e dar o nosso melhor por ser uma responsabilidade poder representar a Nação em mais um festival de carácter internacional”.

Por sua vez, a actriz Anabela Cuvingua disse que o grupo pretende apresentar duas peças que abordam vários aspectos do quotidiano, as tradições do Sul do país da própria história de lutas e conquistas. "Vamos fazer algumas adaptações, para ilustrar aspectos culturais de Benguela, mas acima de tudo queremos mostrar a cultura de Angola”, referiu.

 

 

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