Opinião

Consequências das sanções contra a Rússia para a economia mundial

A economia mundial continua a sofrer perdas notáveis devido à quebra dos laços comerciais e económicos com a Rússia por parte dos EUA e dos seus satélites e à coerção de outros países nesse sentido. Estão a aumentar os riscos de divisão da economia mundial em blocos quase-autónomos.

16/09/2023  Última atualização 06H10
A fragmentação conduz ao crescimento de restrições no comércio e dificulta os movimentos transfronteiriços de capital, tecnologia e mão-de-obra. O resultado é a volatilidade dos preços dos produtos básicos, aumento da inflação, diminuição dos rendimentos e enfraquecimento dos esforços colectivos para concretizar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

O FMI e o Banco Mundial registaram a estagnação das economias da maioria dos países do G7. Prevê-se que as taxas de crescimento nos países desenvolvidos continuem a abrandar. Em 2023, este indicador não excederá 1,5%, em 2024 – 1,4% (em 2022 – 2,7%). Em comparação, o crescimento do PIB dos países em desenvolvimento em 2023 será de 4%, em 2024 – 4,1% (em 2022 – 4%).

No contexto da política de sanções do Ocidente coletivo, a situação mais deprimente é observada na "locomotiva económica" da EU, a Alemanha, que já está em recessão: este ano, prevê-se que o PIB recua 0,3%. A tendência para a desindustrialização (especialmente nas esferas de alta tecnologia e produção energeticamente intensiva) da economia alemã está a aumentar.A indústria química foi a mais afetada: a sua produção diminuiu 12,4% no ano passado. Aempresa química BASF planeia investir cerca de 10 mil milhões de dólares num moderno complexo industrial na China. As sanções anti-russas agravaram os problemas internos da Alemanha: atraso tecnológico, envelhecimento da população, preços elevados da energia. O aumento acentuado dos custos da energia custou à Alemanha 100 mil milhões de euros em 2022.

Desde o início da Operação Militar Especial as grandes empresas europeias perderam pelo menos 100 mil milhões de euros. Quem mais sofreram foram as companhias do sector do petróleo e do gás, as instituições financeiras, os bancos e as empresas industriaisdo Reino Unido, Alemanha e França.

Em consequência do encerramento para as companhias americanas do espaço aéreo da Rússiapara o sobrevoo, o número de voos entre os EUA e a China diminuiu para 24 voos por semana, contra 340 por semana em 2019. De acordo com as estimativas do Ministério dos Transportes da Rússia, as perdas das companhias aéreas dos EUA e da Europa nas condições de restrições à utilização do espaço aéreo do nosso país ascendem a 37,5 milhões de dólares por semana.

O bloqueio de parte das reservas de divisas da Rússia levou muitos países a reavaliarem as suas estratégias de poupança. As mudanças afectaram principalmente o mercado do ouro e das obrigações do Tesouro dos EUA.

A procura de ouro por parte dos bancos centrais aumentou significativamente. Em 2022, os reguladores compraram um recorde de 1136 toneladas do metal precioso no mercado global (para comparação, em 2021 – 450 toneladas). Ao mesmo tempo, o volume total de títulos dos EUA nas mãos dos governos estrangeiros diminui, e sua participação no volume total da dívida dos EUA em 2022 caiu para menos de 30%, o que indica um declínio gradual no interesse pelos títulos dos EUA. A percentagem de moedas alternativas ao dólar e ao euro nas transacções internacionais está a aumentar. A percentagem do dólar americano nas reservas internacionais desceu para menos de 60% (72% em 2002) e a do euro para 19% (28% em 2008).

O bloqueio dos bancos russos pela SWIFT estimulou o desenvolvimento de instrumentos nacionais de funcionalidade semelhante (SFMS na Índia, CIPS na China, SEPAM no Irão, etc.). A relutância do Ocidente em abdicar do seu monopólio no sistema de gestão financeira global leva a uma procura crescente dos países da "maioria mundial” no sentido de reformar a arquitetura financeira existente. Estão a ser avançadas ideias de criação de plataformas financeiras alternativas.

A política de sanções do Ocidente e as medidas tomadas pela Rússia para contrariar as restrições e adaptar-se aos novos desafios deram um impulso significativo à reformatação de todo o sistema de relações económicas globais. Este processo está apenas no início, mas é óbvio que a profunda reestruturação das realidades globais estabelecidas nas esferas comercial, monetária, financeira e de logística, nos mercados de seguros e de transportes, nos sectores energético e agroindustrial, no domínio das inovações e das altas tecnologias está a tornar-se irreversível, apesar das dificuldades naturais que ainda subsistem e dos obstáculos artificiais criados pelo Ocidente.

            Vladimir Tararov * Embaixador da Federação da Rússia na República de Angola

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