Opinião

Consegui ocupar a mente

César Esteves

Jornalista

A mente estava desocupada há já umas boas horas, o que não se aconselha. A Bíblia diz que ela neste estado vira o lugar preferido de satanás. Assim sendo, não podia dar esse gosto ao diabo. Minha mente não pode ser a sua oficina, falei para os meus botões. Para inverter o quadro, decidi sacar da minha biblioteca caseira um livro.

19/11/2023  Última atualização 09H19

A leitura é uma das formas de ocupar, saudavelmente, a mente. Não passei das cinco páginas. A mente estava encravada. Assimilava nada. Encontrei outra solução. Liguei o computador. Abri a página do Word. Toda branca, ela olhava firme para mim, aguardando pelas primeiras letras ou ideias. Não sei o que escrever.

Cometi o erro de ir ter com ela sem antes ter o que escrever. Os grandes escribas desaconselham a falha. Uns chegam mesmo a compará-la ao acto sexual, que, para acontecer com perfeição, também necessita que os envolvidos estejam emocionalmente bem.

Sem inspiração para esgalhar alguma coisa, muito menos para ler, não restava outra saída que não fosse assistir qualquer coisa na TV. Também não havia nada de interessante. No BLAST, canal de televisão por satélite angolano e moçambicano temático de cinema de acção, fundado a 31 de Outubro de 2014, pela Dreamia - Serviços de Televisão S.A., estava a passar um filme bem antigo, daqueles que não apetecia ver. Estou paiado, voltei a falar com os meus botões. Insisti na leitura. Já houve vezes em que passei pela mesma situação e ela ajudou. Diferente do primeiro livro, um conto, escolhi um didáctico, intitulado "500 erros mais comuns da Língua Portuguesa”, que me foi oferecido no serviço.

A máxima diz que o saber não ocupa lugar e, para a profissão que exerço (Jornalismo), cultivar-se todos os dias é um dos segredos para vingar nela. A autora do livro, Sandra Duarte Tavares, mestre em Linguística Portuguesa, informa que o livro tem como objectivo central alertar o leitor para as incorrecções linguísticas mais comuns no registo oral e escrito, bem como fornecer esclarecimentos sobre como fazer um uso mais correcto da nossa Língua Portuguesa.

Quem tem a Língua Portuguesa como ferramenta principal de trabalho sabe da importância de se dominar o idioma para a construção de peças jornalísticas mais coesas e coerentes. A leitura começou bem. Não havia nenhum entrave. Parece que a minha mente gostou do livro.

Nas primeiras páginas estão correcções já muito conhecidas pelos falantes, tais como diferença entre "aderência” e "adesão”, "aonde” e "onde”, "ciclo vicioso” e "círculo vicioso” e "demais” e "de mais”, apenas para citar estes.

O mesmo cenário não acontece na página seguinte, onde a autora aborda casos mais curiosos relacionados com o funcionamento da língua, na sua maioria desconhecidos por muita gente. Não se diz "crise humanitária”, chama atenção a autora. O certo, prossegue, é "crise humana ou da humanidade”.

A autora esclarece que o adjectivo humanitário tem um valor semântico positivo, pelo que não deve associar-se a nomes que veiculem um valor negativo. Assim, explica Sandra Duarte Tavares, para modificar nomes como tragédia ou crise, recomenda-se o uso do adjectivo humano ou da expressão humanidade.

Exemplo: Esse país vive uma crise da humanidade sem precedentes. A autora faz outras correcções, também curiosas, mas, para não cansar o amigo leitor e até mesmo para permitir que grave bem essa dica de hoje, ficarei por aqui, prometendo, trazer, nos próximos dias, as outras dicas relacionadas ao tema de hoje. Consegui ocupar a minha mente.

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