O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom José Manuel Imbamba, reconheceu, sábado, no município de Caungula, província da Lunda-Norte, que ao longo dos 22 anos de paz e reconciliação nacional, o país conseguiu alavancar muita coisa, mediante à criação de boas infra-estruturas, tendo apontado a ausência da construção da mentalidade humana como o “elo mais fraco“ nesta importante caminhada para a construção integral da vida dos angolanos.
O arcebispo católico sublinhou que o desenvolvimento deve ser fruto de uma justiça social equitativa, que promova, essencialmente, o bem-estar e o progresso, visando o cresimento com incentivo ao mérito
«... Para Angola, andar rapidamente e em força, é o objectivo que vai pôr à prova a nossa capacidade de decisão», assim ordenou o ditador português António de Oliveira Salazar, um mês depois do povo angolano responder a uma mensagem codificada «A filha do senhor Nogueira casa no dia 15 de Março de 1961», como uma ordem decretada por Holden Roberto, líder da União dos Povos de Angola (UPA), em Leopoldville, iniciando na referida data a insurreição armada com vista à conquista da independência de Angola. A declaração de Salazar, datada do dia 13 de Abril de 1961, tinha a finalidade de mobilizar a máquina militar colonial portuguesa para reconquistar povoações ocupadas pelos independentistas angolanos. Assim estava declarada a guerra para a independência de Angola.
Alguns dias depois, partiam de Lisboa, com pompa e despedidas eufóricas de populares, barcos carregados de militares, cuja missão era manter a ordem nas regiões sublevadas do Norte de Angola, dando a entender que Portugal tinha intenção de permanecer na sua colónia. A companhia de paraquedistas que desembarca em Luanda, do grupo Joaquim Santiago, é enviada para a Damba, reputada, segundo o regime colonial, pela ordem e confiança entre colonos e nativos, mas desde o dia 17 de Abril, os nacionalistas da UPA com incessantes ataques ao Concellho Administrativo, transformaram a região numa zona de desconfiança, desespero e violência.
A barbaridade instalou-se em ambos os lados. Os paraquedistas chegam ao Bungo, vingam-se de uma dezena de portugueses incluindo seus colaboradores mortos numa emboscada da UPA, depois de uma paródia de justiça, condenam e assassinam 50 angolanos. Dias mais tarde, o comandante da companhia, Mota da Costa, é morto junto de uma ponte, depois de um breve ataque dos guerrilheiros angolanos. Naquele momento, Bungo, como Mucaba, era Posto Administrativo do Concelho da Damba. Outros barcos descarregam em Luanda militares experimentados com armas automáticas modernas, dois batalhões são enviados para o norte de Angola, chegando até ao Negage.
Do Negage, os dois Batalhões dividem-se. O Batalhão de Caçadores 92 vai em direcção a Sanza Pombo para reconquistar Kimbele, enquanto que o 88 vai apaziguar o eixo Bungo-Makela do Zombo. Os "caçadores " do Batalhão 88 chegam à Damba no dia 31 de Maio. No dia seguinte, sofrem o primeiro ataque! Ficaram surpreendidos porque, apesar da sua presença «possante», com carros blindados e canhões, os revoltosos não se deixaram intimidar, como dirá o Sr Alberto Trindade, que foi militar do dito batalhão: "... os nossos homens que, a partir de Luanda se mostravam confiantes, julgando que vinham brincar com os pretos e viram maravilhas..." e perceberam que a guerra era uma realidade, e ao mesmo tempo admiravam a audácia, a coragem e a determinação dos combatentes dambenses da UPA. Como não tiveram tempo de se instalar, os soldados portugueses improvisaram um rectângulo, que lhes permitiu defender-se e repelir o ataque. Alberto Trindade adianta com precisão que no total, o batalhão dispunha de 900 militares e estimou que os atacantes podiam ser 1.500. Otelo Saraiva de Carvalho, na altura jovem alferes do mesmo batalhão, lamentou que as armas que possuíam eram inapropriadas visto que os seus inimigos já estavam organizados e treinados porque ousam atacar militares profissionais coloniais.
O antropólogo português Dr. José Carlos de Oliveira, que cresceu na região da Damba-Zombo, questionou se os guerrilheiros da Damba tinham consciência do poderio militar dos «caçadores» lusitanos. Ajudados pelo nevoeiro, os guerrilheiros da UPA, treinados por António Onde, antigo soldado da companhia indígena, resistem às cargas da contra-ofensiva por muito tempo, os portugueses realizam, pela primeira vez, que estavam em guerra e não numa simples operação de policiamento, inaugurando assim, pela primeira vez, a confrontação armada directa entre exército colonial e guerrilheiros independentistas angolanos.
Com o prolongamento do tiroteio, o comando do batalhão decide perseguir os guerrilheiros sob bandeira da UPA no interior das matas de onde surgiam. Penetram na Granja do Concelho de Administração até à aldeia do Kinzenze, de lá, alongando o rio Luvú por quase 6 km, descobrem finalmente a base provisória da UPA entre as aldeias Kimpelenda e Diumba, onde os guerrilheiros eram treinados e depois recebiam armas, entre outras, pela primeira vez, algumas automáticas vindas de Luvaka, provavelmente introduzidas a partir de Leopoldville, algumas «Mausers» foram recuperadas dos portugueses noutras localidades. No dia 2 de Junho aparece a aviação a intensificar bombardeamentos nos bairros periféricos da regedoria de Mabubu, a sul da vila e Sala Mbongi até Diumba, no lado ocidental da vila, criando pânico entre os habitantes, na sua maioria começa a procurar refúgio no Congo-Belga. No dia 3 de Junho de 1961, o batalhão 88 entra na aldeia Diumba, encontrando a base já abandonada pelos guerrilheiros que recuaram para Serra da Kanda onde continuaram a guerrilha até 1974. Dois meses depois, o território da Damba foi despovoado a 70%, o regime colonial recuperou a minoria dos habitantes refugiada nas matas, agrupando-os nas aldeias formadas para o efeito.
Quando o ministro do Ultramar do regime colonial, Sr Adriano Moreira, visitou a Damba, um grupo de elementos que faziam parte da sua comitiva, desconfiando que algumas aldeias ainda alojavam guerrilheiros da UPA, queimam aldeias situadas na outra margem da pista de aviação, apesar do protesto de alguns colonos. As aldeias Zongo, Manga, Mbanza Mabubu Vombo e Kinkosi desapareceram nas chamas, algumas com habitantes no seu interior, entre crianças e velhos que não conseguiram fugir aos bombardeamentos da aviação colonial.
Na Damba não houve massacre
Como já indicamos antes, a guerra colonial começou no dia 15 de Março de 1961. Na Damba, a guerra psicológica levada pela UPA para destruir o moral dos portugueses que consistia em assassinar colonos e seus colaboradores, não chegou a se realizar, por razões que estão ainda em estudo até ao dia de hoje. Durante um mês, os dambenses viviam num clima de suspeição do lado colonial como também dos independentistas, personalidades importantes eram aliciadas para defender uma causa ou outra, no caso da recusa, eram assassinados.
Os antigos soldados da «baixa», como eram chamados os desmobilizados, que pertenceram a companhia indígena, muitos dos quais combateram na Índia, eram solicitados por ambas as partes, no lado português assassinaram muitos, entre os quais Manuel Makundamene, abatido em plena vila da Damba, cujo corpo ficou exposto durante todo dia, para servir de exemplo, outro foi o Sr. Pedro Magalhães, sequestrado durante a noite para aparecer morto na prisão do Concelho de Administração. Do lado da UPA foi mais espectacular. Todo o homem que tinha relações de amizade ou comerciais com os portugueses, era raptado e assassinado mais tarde. Os que tinham a pele clara «mwana mundele» e assimilados «mundele-ndombe» não eram poupados. O conhecido músico popular, com nome Mfilu, é assassinado porque tinha o hábito de tocar música para os brancos na Vila.
O povo em geral foi vítima de um fogo cruzado, antes e sobretudo depois dos ataques da UPA. De ambos os lados a paranóia atingiu proporções impossíveis de imaginar. No lado colonial decidiu-se aniquilar a elite local, mesmo não sendo conectada com a UPA, não toleravam os neutros, todos aqueles que por uma razão ou outra, teriam estado nos Congos, os crentes e catequistas das igrejas baptistas, sobas, eram executados publicamente.
Portanto, num passado recente não era assim, razão pela qual no dia 15 de Março de 1961, os colonos da Damba não foram molestados enquanto o povo do noroeste angolano se revoltou, em actos de rebeldia contra as autoridades coloniais. Lojas incendiadas, algumas populações de origem europeia foram assassinadas de forma brutal e violenta, as imagens chocaram e abalaram os portugueses. Nambuangongo, Quitexe, Aldeia Viçosa, Luvaka, Buela, Madimba, Vista Alegre, Quimbunde, São Salvador, Kuimba, Lukunga, Mukaba ,etc, os colonos portugueses que habitavam nestas localidades e seus colaboradores foram sacrificados no altar da independência de Angola. Cenas de horror incríveis por parte dos europeus e de euforia por parte de africanos que desejavam Kimpuanza a todo custo, dominaram os primeiros dias da revolta popular provocada pela UPA.
No meio desta ebulição no Congo angolano, Damba que faz parte do território sublevado, não se revoltou nos primeiros dias, enquanto que os territórios vizinhos estavam a arder. A vila tornou-se mesmo um oásis da paz para muitos colonos da região perseguidos pelos nacionalistas da UPA, onde encontraram refúgio. Portanto os dambenses, antes de 1945, mantinham relações conflituosas com os portugueses. Historiadores ligados a esta região não compreendem porque os populares desta localidade não cumpriram a ordem de Holden Roberto.
Em 1909, o soberano da Damba, o soba Namputu, revoltou-se contra a presença dos portugueses, depois de humilhar em público um oficial superior do exército de ocupação, o Major Galhardo, combateu os portugueses durante dois anos, antes de ser capturado e levado para Luanda, onde foi julgado e condenado pelo próprio Norton de Matos, o bem nomeado "Calígula em Angola", antigo governador de Angola.
O Soba Nsakala Mafueni Mputu «Namputu» foi assassinado no interior da Fortaleza de São Miguel e o seu corpo foi atirado ao mar. Os seus sucessores, os sobas Nzawu a Mbakala, Mbianda Ngunga e Nkama Ntambu, continuaram a revolta contra as autoridades de ocupação, situação que se manteve até à chegada à vila de um administrador com sentimentos mais humanos que os seus antecessores, Morais Martins, em 1945. Este inaugura o período da coexistência pacífica com os nativos, mantendo relações excelentes com o soba da Damba, o sábio Nakunzi. Isso limitou a acção não-violenta dos revoltantes contra os colonos civis nos primeiros dias depois do 15 de Março de 1961.
O mesmo Morais Martins dirá mais tarde comentando a não reacção dos dambenses nos primeiros dias da revolta, deveu-se "às actuações das autoridades administrativas que nesta circunscrição protegem o direito dos indígenas, mantendo relações com os sobas e restantes administrados". Carlos Álves, nos seus escritos, admira os nativos da Damba por não ter participado nos actos de terrorismo e de barbaridade e eleva-os a um estatuto que os distingue dos outros povos, pois "Os naturais da Damba têm história. Entre os grupos étnicos que habitam o antigo reino do Congo, eles distinguiram-se sempre dos demais, pela macieza dos seus costumes...eles seguiam já regras certas de vida morigerada, nos moldes da civilização remota".
Para Dr José Carlos de Oliveira Que cita fontes da U.P.A, que Holden Roberto evitou atacar o eixo Maquela-Damba-Camabatela "por razões estratégicas". Certos historiadores Bakongo avançam a ideia que, Holden Roberto, evitou dar ordens para o ataque à vila da Damba, o facto esta região ser o bastião de outro movimento rival, o Partido Democrático Angolano, PDA, em que estava em negociações para uma possível fusão, o que originou mais tarde, a FNLA. Porque os seus dirigentes como Simão Kumpesa, Domingos Vatokele, André Massaki, Sanda Martins, Mbala, Emmanuel Kunzika, etc, eram nativos da região Makela-Damba.
Mesmo não se sentindo ameaçada por parte de nacionalistas angolanos, a Administração do Concelho da Damba, tomou medidas de prevenção, evacuando por meio aéreo crianças, mulheres e velhos, deixando homens válidos, dispostos a defender a vila em caso de ataque. Salientamos que Damba tinha um guarnição militar de ocupação (o termo é do ex- Governador do Distrito do Congo, o Tenente da Marinha José Cardoso em 1912). Os portugueses que habitavam a vila, na sua maioria, já tinham feito serviço militar activo e obrigatório, auxiliados por certos angolanos fiéis ao sistema colonial, incluindo soldados e um cabo da famosa companhia Indígena, que tinha experiência militar na Goa/Índia. Portanto, os que ficaram defendendo a vila não eram civis indefesos, mas sim, soldados bastantes experimentados com armas de fogo. Os activistas da UPA tinham conhecimento da situação. E portanto, vão ousar atacar a vila da Damba com armas rudimentares.
Os ataques da Damba iniciaram no dia 17 de Abril de 1961
Foi nas aldeias perto do cruzamento das estradas de Lukunga e de Madimba, 25 km a oeste da vila, que começou a formar o primeiro núcleo com a intenção de atacar Damba, com um activista da UPA vindo da Madimba, no Bembe, natural da Serra de Kanda, com o nome Ilola, segundo afirmou o psicólogo Carlinhos Zassala, um dos jovens da UPA que participou no ataque. O grupo estava armado com algumas caçadeiras tradicionais (os famosos kanhangulo) mas com insignificante quantidades de munições para um ataque que pretendiam fazer, decidem marchar até a vila da Damba. De uma dúzia de nacionalistas inicial, o grupo tornou-se uma multidão de centenas de indivíduos quando acampados na aldeia de Sala Mbongi sob comando de um antigo soldado da companhia indígena, António Onde, secundado por seu primo Pontes Vinda Nkabata, a espera de ordens do ataque nesta madrugada cheia de nevoeiro. Resultado de mobilização efectuada nas aldeias de passagem, jovens com a idade compreendida entre 13 anos e 16 anos na sua maioria, constituíam o essencial do grupo. Jovens sem experiência, a maioria nunca ouviram a detonação de uma arma de fogo, armados de catanas, pilões, pedras, vão tentar desalojar o administrador da Damba, como já referimos, protegido por militares profissionais e colaboradores africanos.
Nesta manhã de 17 de Abril, os nacionalistas da Damba atacam a residência do administrador, não porque lá havia maior concentração dos colonos refugiados, mas no subsolo do edifício havia um sinistro compartimento que servia de prisão, onde suponha-se haver prisioneiros. E o comandante do ataque, tinha dado ordens, segundo o velho Nsoki que participou na batalha, de penetrar no interior do edifício em todo custo para libertar os prisioneiros. Nas primeiras horas do ataque, os revoltosos dominaram a situação, obrigando os colonos a ficar na defensiva. Chegando há poucos metros do edifício, Ponte Vinda Nkabata arranca a bandeira do mastro, símbolo do império lusitano, num gesto de desprezo, vai pisar a bandeira e depois faz com ela uma rodilha, lançando-a no ar, insultando os portugueses, gritando em kikongo:- Dibakamene! Dibakamene! (O que se traduz como: "temos a bandeira ou conseguimos a indepedência"). Entoam canções revolucionárias, num instante ficam distraídos e desconcentrados. Ponte Vinda Nkabata será alvejado a uma distância de 400 m por Joaquim Aleixo acompanhado de Carlos Alberto, ambos naturais dos Dembos, num gesto corajoso, vão recuperar a bandeira com sangue que o ministro Adriano Moreira vai transformar num símbolo da resistência do colonialismo em Angola. Aleixo Joaquim, Carlos Alberto e bandeira com sangue do guerrilheiro independentista Ponte Vinda Nkabata vão merecer honras de serem recebidos pelo próprio ditador português, Salazar, em Lisboa, segundo contou-nos, Sebastião Muanza, antigo administrador e 1° secretário do MPLA da Damba nos anos 2000, como participante na revolta no lado dos independentista. No primeiro ataque, os revoltosos vão deixar mais de 70 mortos no terreno.
Outros ataques dos guerrilheiros da Damba contra a administração colonial vão seguir nos dias 19 de Abril, 02 de Maio e de 20 de Maio. Todos foram repelidos pelos colonos desesperados mas bem motivados. Estava em causa a ocupação de dois edifícios : o de Administrador, o único que tinha primeiro andar onde estavam refugiados os colonos e da igreja católica onde encontrava-se, na sua maioria, crentes, acusados pela UPA de colaboradores portugueses. De todas as revoltas, a de 20 de Maio de 1961, foi a mais espectacular.
A Revolta de 20 de Maio contra a Igreja Católica
Como faleceu o padre João Pedro?
De todas batalhas que UPA levou a cabo na Damba (foram 5), o ataque de 20 de Maio de 1961, foi o mais violento. Este ataque não só contou com os guerrilheiros da UPA vindos de Nkusu e Lukunga, à semelhança dos precedentes, mas também de jovens recrutados no local, depois do fracasso dos três ataques ( 17 de Abril, 19 de Abril e 02 de Maio de 1961).
Com efeito, ao contrário dos ataques anteriores, o ataque de 20 de Maio foi feito a partir do lado sul da Vila da Damba e aconteceu no princípio da noite. Os atacantes separaram-se em dois grupos, a maioria vinda do lado do bairro Kinzenze, que deveria fazer ataque surpresa, enquanto que o primeiro grupo, faria diversão na via principal, de quem vem do Nsoso.
Depois do ritual de baptismo feito pelos Nganga a Nkisi, que os tornariam invulneráveis das balas dos colonos(o famoso grito UPA-Maza), no Rio Lamba, os manifestantes independentistas, reuniram-se no Konzo, antes do Kinsakala. Dali partiram, no fim da tarde quando o nevoeiro já estava denso, chegam no lugar onde localiza-se hoje, a missão católica, dividiram-se em dois grupos.
O primeiro grupo, segundo o velho Nsoki que participou na batalha, que deveria fazer diversão, foi acolhido por um fogo cerrado dos colonos, que foram reforçados por um destacamento militar vindo de Makela, a nível do antigo edifício dos CTT.
Minutos depois, o segundo grupo entra na vila, a partir do oeste, com um grande alarido, junta-se ao primeiro a nível do Club de Beneficência da Vila da Damba, e faz frente com militares da administração colonial, barricados atrás dos edifícios do Concelho da Administração colonial, dos CTT até aos eucaliptos, estando a Igreja da vila no meio. Os guerrilheiros avançam, com o preço de muitos mortos, até ao espaço situado a frente da igreja, onde a batalha intensifica-se. Com efeito, na impossibilidade de penetrar nos edifícios administrativos, visto o cordão defensivo montado pelos colonos, a intenção dos manifestantes concentrou-se na igreja, onde supostamente, estavam escondidos traidores angolanos. Para a UPA, quem trabalhava para o colono, a maioria, crentes da igreja católica, era traidor.
Um crente mundamba, refugiado na igreja, pedindo o anonimato, na altura tinha 9 anos, afirmou ter visto o padre João Pedro, de nacionalidade italiana, posicionada na torre com arma de fogo, a disparar contra manifestantes, momento depois, o mesmo sacerdote vai vestir o seu burel, dirigindo-se aos manifestantes para negociar a cessação das hostilidades, ali foi alvejado mortalmente. Miguel Kiame, hoje quadro reformado do MED, entre os que estavam refugiados na igreja, confirmou, que o padre foi imprudente.
Para concluir, excepto a confrontação armada do dia 1 de Junho de 1961, o maior ataque da nativos da Damba contra administração colonial, foi feito pelos jovens vindo de Missão Ndemba, Mbanza Damba, passando pelo Kazumbi até Luzuanda, juntaram-se aos jovens das aldeias de Mabubu.
Este ataque teve apoio da aristocracia local, homens como Domingos Zola, cunhado do Soba Kiala Kia Ntalu, Makotelo Makila, sobrinho do Nzengele a Mazina, genro do Soba Namputu, estavam à frente dos revoltosos independentistas. Recordamos no primeiro ataque, como já referimos foi dirigido pelos familiares directos do soba Nkabata, sobrinho do Soba Nakunzi, soberano da Damba durante 4 décadas, de 1914 e 1954. A implicação do próprio Soba Kiala Kia Zinga, no momento, a maior referência da autoridade tradicional da Damba, também foi determinante. Com este apoio aos manifestantes armados, com a instigação da UPA, Damba tinha rejeitado o colonialismo.
Uma semana depois do fim da insurreição, o Sr. Adriano Moreira visita Damba para felicitar os milícias coloniais que defenderam a vila de 17 de Abril até 20 de Maio antes da chegada do 88° batalhão dos caçadores português. Trazendo um conjunto de medidas legislativas para tentar inverter o rumo dos acontecimentos. E foi em vão. A independência será proclamadas 14 anos depois.
Sebastião Kupessa «Muana Damba»
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