Cultura

Coleccionador guarda primeiro selo da Angola independente

Estácio Camassete | Huambo

Jornalista

O filatelista ou coleccionador de selos, no Huambo, Pedro Hospital mostrou-se preocupado com o desaparecimento dos selos na direcção dos Correios de Angola na província, o que ameaça a extinção da sua actividade nos próximos tempos.

25/01/2023  Última atualização 12H03
Uma das estampilhas da vasta colecção de Pedro Hospital que regista diferentes momentos da história de Angola © Fotografia por: DR

Pedro Hospital disse na abordagem, ao Jornal de Angola, na cidade capital do Planalto Central, que as futuras gerações irão desconhecer a importância de um selo.

O nosso interlocutor, que exerce a actividade de filatelista desde o princípio da década de 1970, receia que com a entrada em vigor do código de barra, em substituição dos selos nos serviços dos Correios, estes entrem nos próximos tempos em desuso total. "Digo isto uma vez que são contados os homens que se dedicam à colecção e conservação destas estampilhas de diferentes épocas e pontos do mundo”, salientou.

A filatelia, acrescentou, é uma actividade praticada por pessoas que se dedicam a coleccionar selos, postais e outros materiais relacionados, que apesar de ser praticada como um passatempo, exigia dos seus seguidores um certo conhecimento.

Sendo um dos únicos filatelistas que ainda é conhecido no Huambo, Pedro Hospital frisou que colecciona selos de diferentes épocas e países. Admite o fazer ainda para conservar o passado na memória dos jovens de hoje, que desconhecem na totalidade o que é um selo e qual era a função que desempenhava.

Informou que a paixão começou na época colonial, quando passou férias em casa da sua madrinha de nacionalidade portuguesa, que fazia troca de selos diversos, a qual explicou a importância dos mesmos e ensinou a organizar. "Em 1975, quando Angola se torna independente, tive a preocupação de conseguir o primeiro selo do país depois do julgo colonial, fez parte das primeiras 50 estampilhas” a entrar na minha colecção, pouco tempo depois recebi muitos, porque já tinha muitas correspondências nos Correios de Angola”.

Segundo o filatelista, o primeiro selo de Angola foi posto a circular a 11 de Novembro de 1975, com uma tiragem de 5 milhões de exemplares, taxados no valor de 1,50 kwanzas.

Além de coleccionar selos, Pedro Hospital disse ter guardado centenas de jornais de Angola, principalmente as primeiras edições, tiradas depois da Independência, influenciado na altura, pela página de troca de correspondências, que saia no diário, que o facilitava fazer a troca de selos, postais e livros. Hoje possui perto de 2 mil selos, de mais de cinquenta países e de épocas diferentes, onde os nacionais são em maior quantidade e depois de Portugal, Cuba, Rússia, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Hungria e Checoslováquia. Porém, admitiu ter perdido durante o conflito armado quase metade da quantidade que hoje dispõe e que vão ser difícil recuperar.

"Guardo estes selos para conservar a memória colectiva de vários povos do mundo, uma vez que a juventude tem de saber como era o antigo sistema de correspondência entre as pessoas de distintos pontos do planeta”, acrescentou.

O filatelista deu a conhecer que o selo serve para provar o pagamento de uma taxa por serviços de postais, bem como significa que o cidadão tem o envio do correio pago com sucesso. "O mesmo, regra geral, é colocado habitualmente no canto superior direito, na parte de frente do envelope, servia como uma assinatura da autoridade que emite um determinado documento”, disse, justificando, por outro lado, que nos próximos dias, os selos que lhe restam vai mandar ampliar e colocá-los em quadros A3 ou A4 apropriados para a conservação de selos, em vez de ficar em papel vegetal em envelopes pequenos.

Exposição de filatelia

Pedro Hospital prometeu fazer a primeira exposição de filatelia no Huambo, para alavancar a actividade que dominou a área de comunicação entre muitas individualidades em diferentes pontos do mundo. Ele admite procurar, assim, buscar patrocínios para a concretização da exposição inédita, para apresentar no mínimo 50 quadros A3 ou A4.

A exposição filatélica tem técnicas próprias, usa-se um álbum próprio e habilidades de como se fixa os selos em papel vegetal. Neste espaço expositivo vai ser possível conquistar mais patrocinadores no domínio dos selos e postais, uma forma de enriquecer o stock com selos diferentes, bem como criar um grupo de filatelistas do Huambo para permitir a troca de selos de diferentes épocas e reerguer a actividade.

Além de fornecedores privados, Pedro Hospital adquiria os selos nos Correios de Angola, na Secção de Filatelia, que revelam e carregam uma história de diferentes momentos de um país.

Fez saber, igualmente, que o uso do selo, contribui para o conhecimento e conservação do dia-a-dia de um povo, preserva a memória colectiva de um país e por isso ser necessário que a nova geração tenha em atenção aos pormenores que valorizam a vida de uma nação. Para tal, manifestou o interesse de se conservar toda as manifestações culturais da sua pátria e ajudar a manter este património nacional.

 

Correios de Angola

O chefe da Estação dos Correios de Angola no Huambo, Auxílio Nicolau, fez saber que a sua área era o espaço onde antigamente os filatelistas acorriam para aquisição dos selos para as suas colecções. "Hoje os selos já não têm adesão, porque a sua utilização está limitada devido às novas tecnologias que despontaram nos últimos tempos. Os selos foram substituídos pelo código de barras, que é colocado na carta ou encomenda, para ser enviada ou recebida”, disse o interlocutor do Jornal de Angola.

Auxílio Nicolau esclareceu, por outro lado, que o selo foi substituído pelo código de barras, por ser mais seguro e eficiente, uma vez que já carrega o número da carta ou objecto que se envia ou se recebe. O selo, disse, já não se utiliza há mais de 12 anos.

"Com o uso das novas tecnologias, a colecção dos filatelistas entrou em crise, uma vez que têm poucas possibilidades de conseguir os selos, apesar de muitos continuarem a consultar a existência deste material, até estudantes de várias instituições de ensino, procuram por selos, por orientação dos docentes”, disse.

O nosso interlocutor referiu, também, que o selo tinha a função de codificar a encomenda ou carta, para se enviar e ajudava a identificar a origem e destino de uma encomenda, e havia selos diferentes e cada em época havia outro tipo. "Já estamos há muito tempo sem receber nenhum selo e os poucos que existiam já foram requisitados pelos filatelistas”, replicou Auxílio Nicolau.

Por outro lado, chamou a atenção da nova geração no sentido de rebuscar e saber sobre o passado dos selos, porque dinamizavam por muito tempo o transporte de cartas e encomendas diversas, com destinos em diferentes pontos, uma vez este instrumento conserva a memória de um povo.

 

  Actividade desconhecida por estudantes e sociedade

A actividade do filatelista apesar de ser antiga, ajudou a movimentar antigamente muitas correspondências e encomendas, hoje está num total anonimato por parte da nova geração de estudantes e de toda a sociedade.

A equipa do Jornal de Angola fez questão de conversar com alguns estudantes e munícipes, que revelaram não conhecer o significado de filatelia. É o caso do jovem Artur Madureira, estudante do segundo ano de Direito, num dos Institutos Superiores da província, que disse nunca ter ouviu falar da palavra filatelia e nem conheceu uma estampilha nacional e estrangeira, por fazer parte de um material antiquado.

Depois da equipa de reportagem mostrar um exemplar de selo, Artur Madureira disse já ter visto este pedaço de papel com várias imagens e por vezes colado num envelope.

No entanto, prometeu passar a frequentar a direcção dos Correios de Angola, para que lhe seja esclarecido detalhadamente todos os pressupostos ligados a esta actividade.

Outro estudante, identificado por Marcos Kassinda afirmou que conheceu os selos, porque o seu progenitor já lhe mostrara alguns e só não sabe até hoje, para que serve esta ferramenta. Porém, diz lembrar-se que eram colocado nos requerimentos redigidos a mão, num papel de 25 linhas e que posteriormente eram autenticado, no espaço onde fica assinatura do requerente, como argumentou.

Por seu turno, o cidadão Antunes Gaspar, que também desconhece a existência e nem a importância dos selos, garantiu que vai investigar mais sobre a utilidade da filatelia.

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