Semana passada, estive atento a um debate televisivo sobre o processo autárquico versus nova Divisão Político-Administrativa, com as duas principais forças políticas representadas, num painel em que também estiveram representadas outras sensibilidades, nomeadamente da sociedade civil. Um exercício interessante, que veio uma vez mais provar que é possível, na comunicação social angolana, reunir intelectuais de diferentes credos políticos para debater questões de interesse do nosso país.
O Presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, é muito conhecido globalmente por vários feitos e circunstâncias, nem sempre consensuais, sobretudo em termos ideológicos. Todavia, Lula da Silva tem o condão de ser o rosto de um dos mais revolucionários programas de transformação estrutural e social, em diapasão com os principais Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, para 2030, aqueles relacionados ao combate à fome e à pobreza.
Não tenho casa em Angola, mas tenho um terreno vasto nas margens da montanha Lumbanganda; o meu sonho foi sempre construir no Katchilengue onde nasci. Três anos atrás apresentaram-me a um pedreiro que me disseram ser um craque na construção.
Soube recentemente que o senhor já não estava no Huambo; ele estava num país africano a construir casas para turistas num resort. Lembro-me que na altura o senhor me disse que tinha trabalhado por vários anos em Portugal, onde aprendeu o ofício. No Huambo, ele estava a ensinar aos colegas várias técnicas de construção.
Pensei no senhor há dias quando li uma notícia a falar num aumento de jovens a irem trabalhar em Portugal. Existe uma nova noção da emigração: trata-se agora de circulação de cérebros e não de derramagem de cérebros; os jovens angolanos em Portugal e noutros países vão regressar com muitos conhecimentos, que, naturalmente, vão beneficiar o país onde nasceram. Sair do país onde nascemos não significa falta de patriotismo. Na diáspora, muitos angolanos mantêm os laços com a terra natal; em muitos casos, chegam até a enviar milhares de dólares para os familiares. Na Nigéria, as remessas da diáspora até resultaram num dos maiores bancos do continente.
Em 1986, ainda estudante em Londres, tinha um amigo zimbabweano que tinha uma namorada queniana na cidade costeira de Brighton. Naquele tempo, Brighton estava cheio de pequenos hotéis; membros da classe média britânica, que não tinham meios para irem passar férias em Portugal ou Espanha, iam para este local. A namorada queniana do meu amigo trabalhava num desses hotéis enquanto estudava hotelaria e turismo. Lembrou-me dela como uma jovem muito séria e estudiosa. Ela gostava de conversar comigo em francês, dizendo que ser poliglota era uma mais-valia no mundo da hotelaria e turismo.
Dando um salto três décadas depois, em Nairobi, Quénia, estive numa pequena pensão quando ouvi a voz de uma senhora que me fez lembrar a amiga queniana. Sim, a senhora que fazia limpeza e cozinhava em restaurantes na Inglaterra era proprietária de três pensões em Nairobi! Ela chamou o esposo e as filhas para virem conhecer quem a viu a limpar quartos. A minha amiga disse que ela estava no Reino Unido aquele tempo todo com um plano bem definido do que seria o seu futuro. Ela tinha um caderno onde escrevia diariamente algo sobre o que tinha aprendido. Disse-me que quando trabalhou num grande hotel ela notou que esse hotel era essencialmente uma unidade de pequenos negócios — o bar, o restaurante, as pequenas lojas.
Ao regressar ao Quénia, a minha amiga trabalhou num resort. Depois ela comprou um pequeno autocarro e obteve a licença de uma operadora de turismo. Depois ela começou com um pequeno restaurante que lhe deu fundos para comprar casas que transformou em pensões.Tudo o que ela aprendeu no Reino Unido foi aplicado no Quénia. Há quem esteve no Reino Unido naquele tempo, esteve numa grande faculdade a viver bem, mas que obteve apenas um diploma e não o conhecimento para poder, eventualmente, prosperar!
No Youtube, circulou recentemente um clipe de um zimbabweano que, depois de vários anos no Reino Unido, decidiu regressar ao seu país para começar a criar galinhas. No clipe ele diz que esteve na Inglaterra apenas para acumular capital. Claro que nem tudo foi fácil para ele; em todo o caso, o tempo em que ele esteve na Europa ensinou-lhe muita coisa — incluindo ser altamente disciplinado e organizado.
Tive uma longa conversa com o pedreiro do Huambo, agora num país africano, que me enviou fotos dos quartos que está a construir. Ele revelou-me que vai fazer uma réplica perto da Matala, na Huíla, onde herdou um vasto terreno do pai. Viajar cria um desassossego que resulta em muita criatividade. Os angolanos que estão a ir para Portugal certamente irão beneficiar o nosso país no seu regresso.
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