Embarcámos, a meio de uma dessas manhãs, particularmente quentes (como acontece ultimamente em Luanda), a partir da estação de autocarros da Macon – passe a publicidade – na zona dos Ramiros, um aglomerado populacional que regista um crescimento exponencial, com a previsão de chegada à cidade ferroportuária do Lobito pouco depois das dezassete horas.
Já não se lembra, com exactidão, o dia em que, aos 12 aninhos, começou a fumar cigarros, liamba e crack, numa altura que usava, igualmente, álcool. Sabe apenas que a primeira e tantas vezes que usou drogas foi por influência de amigas com idade mais avançada.
Para quem chega à “grande cidade”, nos dias de hoje, é visível o movimento normal, com o trânsito congestionado nas avenidas, como há muito não se via. Um “mar de gente” nas ruas e a azáfama nos mercados, shopping e bares.
A nova imagem de Pequim nada tem a ver com o terrível cenário enfrentado pelos habitantes há sensivelmente quatro anos, aquando do surgimento da pandemia. Na altura, o Governo chinês viu-se obrigado a adoptar medidas de segurança, visando prevenir o surgimento de mais casos, tendo a população sido submetida a restrições de mobilidade e estilo de vida. Aliás, situação idêntica que viria a observar-se um pouco por todo o mundo.
Hoje, ultrapassada a pandemia, pelas ruas de Pequim poucos ou quase ninguém quer lembrar os dias difíceis impostos pelo coronavírus.
Hao-Yu Yan é natural de Changai, mas reside na capital do país desde 2015. Revelou ter sido duro ver os noticiários e confrontar-se, diariamente, com balanços de mortes.
"Foram tempos difíceis, muito difíceis mesmo”, confessou a jovem chinesa, de 26 anos, assistente de marketing, para em seguida assegurar ter aprendido a valorizar muito mais a vida.
"Tivemos muitas mortes, mas felizmente hoje estamos melhor. Já não se fala tanto da pandemia e as pessoas querem viver as suas vidas e poder andar e passear pelo país e mundo afora”, disse.
AQiang Mei quase lhe caiem as lágrimas quando confrontado com o passado. Considerou a pandemia um autêntico terror, que ceifou vidas e desfez muitos sonhos. "Ficávamos fechados em casa. Não podíamos sair. Foi terrível. Muito triste mesmo pensar nisso”, revelou o engenheiro informático, visivelmente emocionado com a nova realidade do país.
"Chegamos a uma altura em que pensávamos que nunca mais iria acabar. Não estávamos habituados a ficar fechados em casa. O estilo de vida do cidadão chinês é de busca incessante pelo trabalho e por constante materialização de sonhos. Naquela condição, não podíamos fazer nada”, contou à reportagem do Jornal de Angola, num passo apressado, a caminho do seu local de trabalho.
O uso da máscara facial, em Pequim, deixou de ser obrigatório. Mas, ainda assim, pelos corredores da gigantesca cidade há quem não tenha perdido o hábito do uso frequente. São poucas as pessoas que são vistas sem a máscara.
No acesso a bares, restaurantes, hotéis, agências bancárias ou outros serviços, alguns não se importam em usá-la e, também, ninguém repara nisso, apesar de durante anos andar connosco como se de um utensílio indispensável à nossa indumentária se tratasse. São os sinais do regresso do país à vida normal.
A verdade é que a China está de volta. O país espelha estar disposto a recuperar como nunca o tempo perdido. Aliás, o Governo liderado por Xi Jinping deixou claro, num relatório tornado público aos jornalistas estrangeiros envolvidos no programa de cobertura de eventos sobre a política interna e externa da China, estar focado na recuperação da estabilidade económica.
Diante de um ambiente internacional actual tempestuoso e das árduas e pesadas tarefas internas de reforma, frisou, há dias, o primeiro ministro, Li Keqiang, "estabilizar a economia e alcançar um desenvolvimento seguro” são as metas do novo Governo.
Cidade agitada
A vida por cá começa muito cedo. Nos bares ou cafés de Pequim a água é servida morna. Por esta altura, dizem os chineses, ajuda a reduzir o frio e o clima gélido que se faz sentir.
As ciclovias enchem-se de bicicletas, num constante vai e vem, de cima a baixo, pela esquerda e direita. A dinâmica da vida da cidade é um cenário de permanente agitação de pessoas e viaturas. Veículos e transeuntes cruzam-se nas avenidas, num passo acelerado que traduz, na plenitude, um país cheio de "vida”.
Apesar do inglês ensinado nas instituições de ensino, nas ruas de Pequim é difícil cruzar o caminho de algum cidadão nacional que domine a língua de Shakespeare. Fiéis ao seu mandarim, os chineses encurtam o diálogo, com quem lhes tenta roubar um dedo de conversa, com um simples abanar da cabeça para os lados, em gesto de negação.
No percorrer da cidade, impossível não admirar os gigantescos "arranha-céus”. São edifícios enormes, com centenas de andares. O maior deles é a Torre CITIC, localizada no centro da cidade. O último andar proporciona uma vista panorâmica de Pequim. É um regalo, não aconselhável a quem tem medo de alturas.
A arquitectura moderna da cidade deixou para trás a tradicional construção a que estavam habituados os chineses. Uma foto tirada na cidade, seja em qualquer ponto dela, se mostrada a um estrangeiro, aposta-se que seja confundida com um postal qualquer de uma cidade europeia. As antigas construções asiáticas deram lugar a modernos e luxuosos edifícios. Carros, só topo de gama.
Demora-se a adaptar à culinária local. As sopas são uma preferência para os chineses. Para toda a refeição, um prato de sopa. Na ementa, cujo tempero não falta gindungo, incluem ingredientes conhecidos dos angolanos. Desde a carne, ao peixe e legumes.
Quando cai a noite, os cidadãos recolhem-se cedo aos seus aconchegos, enquanto uns poucos boémios refugiam-se em bares, onde o ambiente quente é convidativo a uma bebida.
Expectativa em alta
Os chineses, atentos às incidências da política interna do país, mostram-se optimistas quanto ao futuro. É o caso de Liang Yuchen, funcionário de restaurante. Aplaudiu o discurso do Governo, sobre os desafios de coesão e orientação às pessoas de todas as etnias do país, tendo em vista a saída das adversidades.
"Qualquer país que deseja ver bem os seus concidadãos adopta medidas que visam controlar a economia e proporcionar melhores condições de vida para o povo. É isso que queremos”, referiu o agente da restauração, para quem Xi Jinping tem dado sinais claros de grande liderança.
A encarar com enorme expectativa os próximos tempos, Wuhan Li está ciente de que a China, ao vencer a pandemia, tem criadas todas as condições para continuar a trilhar o caminho do desenvolvimento. O estudante de medicina afirmou estar confiante na grandeza e capacidade do povo chinês.
"A China é um país enorme, com um bilião de habitantes. Somos muitos para fazer o país seguir caminho rumo ao desenvolvimento”, sustentou o estudante, antes de dar sequência ao seu percurso, por cima de uma bicicleta pública, a nova "febre” que alterou o estilo de vida de 700 milhões de chineses e cujas incidências o Jornal de Angola vai abordar na próxima reportagem.
Chineses valorizam à medicina local
Paralelamente aos esforços do Governo, que implementou medidas imediatas, tendo em vista a prevenção e propagação do vírus, os cidadãos de Pequim atribuem grande mérito do sucesso do país no combate ao novo coronavírus à qualidade da medicina.
"Não podemos deixar de destacar o trabalho árduo e aturado dos médicos, que tiveram de deixar diariamente as suas famílias para cuidar dos doentes, contribuindo para salvar vidas”, afirmou Juhan Chan, sublinhando ter sido sofrível, mas necessário, impor medidas muito restritas, que permitiram proteger os mais vulneráveis e os não vacinados.
As reduzidas taxas de imunização entre os idosos, disse, foram as principais razões que motivaram o Governo a prolongar a política de "Covid Zero”, com limites à liberdade de deslocamento ou mobilidade das pessoas, "para conter surtos de coronavírus”.
Apesar da visível normalidade, os testes de PCR mantêm-se obrigatórios para quem visita o país. A medida, segundo o relatório do Governo, visa não perder de vista a tendência epidémica.
Contou Chuang Zuh, ao Jornal de Angola, que as autoridades de Pequim chegaram a impor, na altura, confinamentos sucessivos, testes em larga escala e quarentenas, inclusive, para pessoas não infectadas, "um conjunto de acções que permitiu controlar o vírus”.
Novos tempos
Para o primeiro-ministro chinês cessante, os tempos actuais são de boas perspectivas, sobretudo no que à pandemia diz respeito. Li Keqiang sublinhou, há dias, na Assembleia Nacional, que a prevenção e controlo da Covid-19 "entrou numa fase de acções regulares aplicadas com as medidas de gerenciamento da categoria B de doenças infecciosas”.
Acrescentou haver trabalhos mais científicos de prevenção e controlo portuários, com precisão e eficiência, tendo apontado como prioridade do Governo para o próximo mandato "o cumprimento satisfatório da garantia de saúde e prevenção de doenças graves”, bem como "acções de prevenção e controlo epidemiológico” e de assistência e tratamento médico dirigidas a idosos, crianças e grupos com doenças de base.
JORNALISTA SHI XIAO MIAO
"A política ‘Covid 0’ funcionou”
A jornalista chinesa, Isabela Shi Xiaomiao, considera que a política "COVID 0”, implementada pelo Governo de Xi Jinping, à época da pandemia, funcionou e permitiu que hoje o país pudesse regressar à normalidade.
Em declarações ao Jornal de Angola, a profissional do Grupo Media da China fez questão de esclarecer que o país viveu "tempos especiais” durante a prevalência do vírus, mas que soube ultrapassar com bons resultados.
"A gente passou os anos de 2020 e 2021 muito tranquilos e não tivemos dificuldades em viajar por todo o país. A política Covid 0, da época, funcionou”, adiantou-se a frisar a jornalista de 33 anos, formada no Brasil, para em seguida sublinhar que o Governo teve sempre o controlo da pandemia.
"Naquela época, em 2020, todo o mundo estava parado, voos internacionais parados, mas a China estava tranquila. Apenas nas grandes cidades, como Pequim, a gente usava máscara. Nas outras cidades a gente não usava máscara. Na zona rural estivemos mais de 700 dias sem registar casos de Covid. A China alcançou bons resultados”, acrescentou.
A jornalista confessou ter ficado infectada com o vírus em finais de 2022, tendo enaltecido a grande prontidão dos médicos e enfermeiros na cura dos doentes.
"Já ninguém mais fala sobre a Covid-19 na China, mas ainda existe risco, por isso, o Governo continua a recomendar à gente a tomar todo o cuidado, porque é um vírus que reduz a imunidade”, enfatizou.
Referiu, ainda, que em finais de 2022 "muitos pegaram o vírus”, mas "em menos de dois meses” todo o país voltou à normalidade.
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