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“China não vai aceitar acusações infundadas”

A China advertiu, ontem, os Estados Unidos de que não vai aceitar “difamações e acusações infundadas” e apelou para que a Administração do Presidente Joe Biden evite “criar novos obstáculos”, como forma de reparar as relações bilaterais.

08/03/2021  Última atualização 12H34
Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi avisa Biden a evitar novos obstáculos nas relações © Fotografia por: DR
"Não aceitaremos acusações infundadas, nem que nos difamem, nem que se violem os nossos interesses.
Os Estados Unidos interferiram em muitos países em nome da democracia, muitas vezes causando conflitos”, afirmou, ontem, o ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, em conferência de imprensa, à margem da reunião anual da Assembleia Nacional do Povo (ANP, Legislativo).
Segundo a agência de notícias espanhola EFE, o governante chinês acrescentou que Pequim espera que Washington tome a iniciativa e elimine as "restrições irracionais que impôs” ao seu país, referindo-se às tarifas aos produtos chineses, aplicadas durante a Administração do anterior Presidente, Donald Trump.

Wang defendeu uma coexistência pacífica entre as duas potências, mas reiterou que os dois países têm de se comprometer a "não se intrometerem nos assuntos internos um do outro”, em resposta a uma pergunta sobre possíveis críticas de Washington, por causa da reforma eleitoral em Hong Kong, que prepara a actual nomeação da ANP.
O ministro das Relações Exteriores chinês assumiu que tal reforma é "absolutamente necessária para garantir a estabilidade em Hong Kong”, enquanto sobre a situação dos direitos humanos da minoria Uigur, na região ocidental chinesa de Xinjiang, também objecto de críticas por parte de Washington, assegurou que "as acusações de genocídio não têm sentido e são baseadas em rumores espalhados maliciosamente”.

Outro ponto de atrito entre as duas potências é Taiwan, que se governa de forma autónoma desde 1949, mas cuja soberania é reivindicada por Pequim: "Para a China é uma linha vermelha e não haverá concessões”, vincou Wang.
"China e Estados Unidos têm de evitar a confrontação. Somos as duas maiores economias do mundo e os nossos interesses convergem. A China está pronta para colocar as relações no caminho certo. Acreditamos que é possível uma concorrência saudável”, sublinhou o governante.
Por outro lado, indicou, que a prioridade da sua carteira em 2021 será "colaborar com o resto do Mundo para acabar com a pandemia” e defendeu que o país asiático não faz diplomacia com as suas vacinas para a pandemia da Covid-19.

Disputas com Pequim
deixam Biden amarrado

De acordo com as previsões do diplomata e autor de Singapura, Kishore Mahbubani, a crescente hostilidade da classe política norte-americana face à China vai "atar as mãos” do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na relação com Pequim.
 "Acho que é bastante claro que Joe Biden vai ter uma tarefa sinuosa”, previu à Lusa,  autor do livro "A China já Ganhou?”
"Há um consenso anti-China muito forte em Washington”, apontou. "Os republicanos vão destruí-lo caso ele seja brando com a China, mas, por outro lado, penso que ele vai ter uma química muito boa com o Presidente chinês, Xi Jinping”, acrescentou.

O investigador do Instituto de Pesquisa sobre a Ásia, na Universidade Nacional de Singapura, Mahbubani foi durante mais de 30 anos diplomata, tendo assumido a presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas entre 2001 e 2002.
A relação entre a China e os Estados Unidos deteriorou-se rapidamente nos últimos dois anos, com várias disputas simultâneas, incluindo uma prolongada guerra comercial e tecnológica. Em Pequim e em Washington, referências a uma nova Guerra Fria tornaram-se comuns.
Mahbubani considerou que a política de confrontação adoptada pelo anterior Governo norte-americano de Donald Trump não conseguiu conter a ascensão do país asiático.

"O resultado, após quatro anos, é uma China mais forte e uma América mais fraca”, resumiu. E, embora tenha parado com ataques retóricos e anúncios quase diários de novas sanções contra a China, a Administração de Joe Biden ainda não anulou nenhuma das medidas do Executivo anterior. Mahbubani advertiu, porém, que os Estados Unidos estão a cometer "graves erros estratégicos” e a "subestimar” a China, ao avaliar o país de uma "perspectiva ideológica”.
"Isto não é uma disputa entre uma democracia dinâmica nos Estados Unidos e um sistema comunista rígido na China”, apontou. "Na verdade, os Estados Unidos tornaram-se uma plutocracia e a China uma meritocracia”, descreveu.
O autor lembrou que o Partido Comunista Chinês "recruta para os seus quadros as melhores mentes da China”, enquanto as doações privadas desvirtuaram o sistema político norte-americano.

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