Política

Chefe de Estado quer investimentos na produção de medicamentos para atender a mais de 33 milhões de consumidores

Edna Dala | Roma

Jornalista

O Presidente da República, João Lourenço, manifestou, quinta-feira, no Fórum de Negócios Itália-Angola, interesse em atrair investimento privado italiano para a produção de medicamentos, vacinas e material gastável de consumo hospitalar corrente, com capacidade de resposta para mais de 33 milhões de consumidores.

26/05/2023  Última atualização 09H14
Presidente João Lourenço reafirmou que o país está aberto ao investimento estrangeiro no sector não-petrolífero © Fotografia por: Contriras Pipa | Edições Novembro | Roma
Ao discursar na abertura do Fórum de Negócios em Roma, João Lourenço disse que a medida serve para inverter o quadro de dependência da indústria farmacéutica e abrir, também, a possibilidade de Angola exportar para mais de cem milhões de consumidores dos países limítrofes.

  Ao dirigir-se aos empresários italianos, o Chefe de Estado lembrou que, nos últimos anos, o Executivo tem vindo a fazer um forte investimento na construção e reabilitação de infra-estruturas hospitalares em todo o país.  "Tem sido construído um grande número de hospitais de todos os níveis e bem equipados, de acordo com a categoria de cada um. Aumentámos consideravelmente o número de camas hospitalares, de equipamentos de diagnóstico, de blocos operatórios, de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), de unidades e cadeias de hemodiálise”, realçou.

João Lourenço reconheceu  que Angola é um grande consumidor e importador de fármacos, sendo o Estado, através do Ministério da Saúde, o maior comprador.  Os domínios que acabei de referir, sublinhou João Lourenço, são apenas uma ilustração das várias áreas em que poderão assentar as relações de cooperação económica e empresarial entre Angola e a Itália.

 Reiterou que o país está aberto ao investimento italiano em praticamente todos os domínios, sobretudo nas áreas ligadas ao sector não-petrolífero. "Acreditamos que podemos criar, em parceria com o Governo italiano, um clima de oportunidades dirigidas às pequenas e médias empresas italianas, por meio da criação de mecanismos de crédito à exportação e à internacionalização da actuação no mercado de Angola”.

 João Lourenço pediu aos empresários italianos a olharem para Angola como uma grande oportunidade de negócios, e que, nos últimos anos, o Governo de Angola tem efectuado importantes reformas estruturantes para tornar o país mais atractivo ao investimento privado local e estrangeiro.

Garantiu que o Executivo vai manter o empenho na criação de um ambiente favorável ao crescimento de oportunidades para os investidores e empresários que actuam em Angola em diversos sectores, com destaque para aqueles que ajudam a diversificar a  economia, a diminuir a grande dependência do petróleo e a criar maior número de postos de trabalho para os angolanos.  O Presidente da República salientou que uma das pretensões do Governo é tornar o sector privado o  motor para o crescimento económico do país.

"Por esta razão, iniciámos em 2019 um vasto programa de privatizações de activos da esfera patrimonial do Estado. Já foram privatizados 92 activos, e vamos estender este programa até ao ano de 2026, com a privatização de mais 73 activos”, disse.

"Trata-se de activos e empresas que são muito rentáveis quando nas mãos do sector privado, e uma fonte segura para os investidores italianos terem uma oportunidade de investir em Angola, em parceria ou não com investidores angolanos”.

Fórum é um passo firme para ampliar a cooperação

 Sobre o Fórum, o Presidente da República disse desejar que o mesmo produza os resultados esperados e que o diálogo entre os empresários e os membros do Governo constitua em mais um passo firme para tornar ampla e diversificada a cooperação económica e as trocas comerciais entre Angola e Itália. João Lourenço considerou o momento uma excelente oportunidade para os empresários dos dois países aprofundarem o diálogo e trocarem pontos de vista sobre as diversas oportunidades de investimentos num contexto internacional dominado por incertezas, sobretudo pelas consequências nefastas da invasão da Ucrânia pela Rússia.

 Apesar da crise económica, disse João Lourenço, agravada antes pela pandemia da Covid-19 e, actualmente, pelo conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia, "as economias dos nossos dois países têm-se mostrado resilientes, evidenciando uma trajectória de recuperação do crescimento económico”.

Tal como na Itália, referiu, as perspectivas de crescimento económico de Angola para este ano são positivas, na ordem de 3,3 por cento, depois de ter enfrentado anos difíceis de recessão económica. Neste contexto de recuperação económica, prosseguiu, "vamos aproveitar a oportunidade que temos de dialogar com os empresários de ambos os países, abordando com franqueza as formas de impulsionarmos com sentido prático todas as iniciativas que visam aumentar a participação dos empresários italianos e angolanos no crescimento económico e na prosperidade de ambos os países”.

João Lourenço destacou a Itália como uma das maiores economias do mundo e um dos principais parceiros económicos de Angola, com uma forte presença no sector do petróleo e gás, através da  petrolífera ENI.  Neste capítulo, o Chefe de Estado, que concluiu ontem a visita oficial à Itália,  afirmou que a ENI está a diversificar as actividades através de projectos de energias renováveis, em particular na segmentação dos biocombustíveis de base agrícola, em parceria com a Sonangol e com a Agência Nacional de Petróleo e Gás.

Sendo a Itália um importante produtor de alimentos, e tendo em conta o interesse de Angola em aumentar a  capacidade de produção interna, através da materialização dos planos de produção de grãos, pecuária e pescas, o Chefe de Estado considera fundamental que se incentive as parcerias entre empresas angolanas e italianas para a produção agrícola e processamento de alimentos, explorando as oportunidades do mercado angolano.

 A medida, indicou o Presidente da República, vai beneficiar Angola na diversificação da  base de exportações, valorizando o conhecimento, a experiência e a ampla aceitação e prestígio que a indústria e empresas italianas têm nos mercados internacionais.

Acolhimento de acções no sector turístico

 Entre as potenciais áreas abertas a investimentos e que devem ser exploradas no quadro da cooperação bilateral, o Presidente João lourenço destacou o sector do turismo. "Existem importantes redes internacionais de turismo de origem italiana que operam em África, e que gostaríamos de ver explorar as potencialidades turísticas do nosso país, construindo infra-estruturas hoteleiras nas cidades, na nossa vasta orla marítima ou ainda nos parques do Iona, no Namibe, ou do Luengue-Luiana, dentro do grande projecto turístico transfronteiriço do Okavango Zambeze, mais conhecido por KAZA, que abrange o Cuando Cubango, Bié e Moxico”.

 João Lourenço lembrou que as indústrias têxteis de vestuário e calçado italianos são reconhecidos internacionalmente pela elevada qualidade, tendo acrescentado, nesta ordem de ideias, o renascimento da indústria têxtil e o interesse na de curtumes em Angola, que podem ser apoiadas e incentivadas através de parcerias estratégicas italianas.

 Reiterou, ainda, que Angola conta com o investimento privado italiano para desenvolver a crescente indústria de rochas ornamentais, como os granitos e mármores e, por sinal,  de boa qualidade e reconhecidos internacionalmente.

 "Angola está coberta de uma vasta faixa de florestas tropicais onde encontramos espécies nobres de muito alta qualidade. Pretendemos valorizar esta riqueza, fomentando a indústria de transformação da madeira e seus sub-produtos, acrescentando-lhes valor para diversificar a economia, aumentar a oferta de emprego e a gama de produtos de exportação”.

Em jeito de convite, o Chefe de Estado disse que os empresários italianos deste ramo de negócios são bem-vindos para investir na indústria madeireira, que tem um grande potencial de crescimento.

 No seu discurso, o Chefe de Estado dedicou uma palavra de reconhecimento ao Presidente da República da Itália, Sergio Mattarella, por ter realizado, em 2019, a primeira visita de um Chefe de Estado italiano a Angola, desde a Independência Nacional, um passo que, no seu entender, ajudou a elevar o nível de relações diplomáticas, trocas comerciais e de cooperação económica entre os países.

Para o Chefe de Estado, esse é o facho que tem permitido que os dois governos se mantenham unidos na busca do bem-estar e da paz entre os povos e nações.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Política