Opinião

Charles Bukowski: o poeta maldito

Osvaldo Gonçalves

Jornalista

No túmulo de Charles Bukowski, na cidade de San Pedro, Califórnia (EUA), após o nome do sepultado, está escrito, em letras relativamente menores, mas também maiúsulas, “DON’T TRY” (“Não Tente”, em português).

18/05/2021  Última atualização 06H30
Por último, os anos do nascimento (1920) e falecimento (1994). Entre as duas datas, o esboço de um pugilista em posição de combate.

O conjunto dá uma ténue ideia de quem foi Charles Bukowski, chamado o "poeta maldito”, considerado por muitos, anti-social e obsceno, com uma vida de muitos empregos precários, regada a bebedeiras e cheia de mulheres, que, ao longo da vida, publicou 45 livros de poesia e prosa, muitos dos quais traduzidos em português, tanto no Brasil como em Portugal.

Poeta, contista e romancista, Bukowski foi um homem que viveu para as letras, escrevia de forma alucinada desde que o pai lhe ofereceu uma máquina de escrever, quando começou a cursar Jornalismo na Los Angeles City College. Os seus escritos são uma mistura de corridas de cavalo, prostitutas e música clássica, tendo a cidade de Los Angeles como fonte principal.

Como prova da grande intensidade que imprimiu à própria vida, cita-se, por exemplo, o seu primeiro casamento. Foi com a editora da revista "Harlequim”, Barbara Frye, que estava convencida de que ele era um génio. Tendo afirmado que nenhum homem se casaria com ela, ouviu de Bukowski uma resposta simples: "Eu caso-me”. Casaram-se, mas logo se separaram.

Sobre ele, diz-se que foram os seus escritos e contos que levaram o pai a expulsá-lo de casa, tendo a partir daí, e após abandonar a faculdade de jornalismo, morado em pensões e se virado para o alcoolismo. Para se manter, viveu em várias cidades e teve muitos empregos temporários, como faxineiro, atendente em bombas de abastecimento de combustíveis e motorista de camião.

O denominador comum dos muitos textos escritos sobre Bokowski é que ele viveu a vida de forma muito intensa, com duas coisas que ajudaram a torná-la suportável: o álcool e os livros.
Dentre as influências que teve, são referidos Ernest Hemingway, pelas frases curta e jeito simples de escrever, e Fiódor Dostoievski, pelo pessimismo. Diz-mesmo que foi com o grande escritor russo que terá aprendido a frase "Quem não quer matar o pai?”.

São ainda citados Henry Miller, sobretudo a obra "O Trópico de Cancer”, e John Fante, escritor que teve a admiração de Bokowski expressa em vários contos deste.
Entre outras coisas, diz-se que a escrita de Charles Bukowski desconhece o tradicionalismo, sendo fiel à realidade, sem enfeites.
Conta-se também uma série de episódios que ajudaram a tornar a sua obra uma amálgama de sabores e odores, que a fazem única de cada vez que a lemos.

Em sua defesa, talvez, refere-se que Bukowski fez de todo inferno e podridão que foi a sua vida o paraíso, ao vivenciar e permanecer com naturalidade na sarjeta, como poucos o conseguiram, embora se considere terem aparecido alguns "herdeiros” seus na literatura.
Mais se diz que a obra deste grande monstro da literatura mundial, algo desconhecido entre nós talvez pelo estilo e linguagem forte, que nos foi introduzido há já alguns anos pelo jornalista e poeta Manuel Dionísio, conta um pouco da sua vida boémia.

Nascido em Andernach, na Alemanha, foi baptizado com o nome de Heinrich Karl Bukowski. Era filho de Heinrich Bokowski e Katharina Fett, que se conheceram durante a Primeira Guerra Mundial e que se mudaram para os EUA quando o escritor tinha apenas três anos de idade.

Conta-se que Charles Bukowski sofria frequentes abusos físicos e psicológicos do pai, extremamente autoritário e frustrado. A mãe era uma mulher submissa.
Charles Bukowski morreu em 1994, com 73 anos, vítima de pneumonia, decorrente de um tratamento de leucemia. A sua morte aconteceu pouco depois de finalizar o romance "Pulp”.

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