Política

Cesário Zalata: “M23 não pode ser excluído nem ignorado”

Faustino Henrique

Jornalista

O professor de Relações Internacionais Cesário Zalata afirmou que, uma vez que o Movimento 23 de Março é o principal protagonista das acções bélicas no Leste da República Democrática do Congo, não pode ser excluído e nem ignorado da agenda diplomática para a construção da paz na RDC.

14/08/2024  Última atualização 08H36
Movimento 23 de Março é o principal protagonista das acções bélicas no Leste da RDC © Fotografia por: DR
"Excluir o M23 não ajuda em nada para a durabilidade e o respeito que se pretende para o cessar-fogo e os outros passos subsequentes para o alcance da tão desejada paz na Região Leste da RDC, com destaque para a província do Kivu-Norte”, disse.

O académico recorda que o primeiro cessar-fogo, alcançado em 2022, não foi cumprido e nem respeitado pelo M23, por ter sido excluí- do do processo. "Por isso, é fundamental aprender com as sábias lições da História”, apelou.

Sobre a posição assumida por Kigali, diante do posicionamento do M23, que se demarcou do acordo de cessar-fogo, Cesário Zalata frisou que "o Rwanda dificilmente vai aparecer em hasta pública para condenar ou pronunciar-se noutros termos sobre o posicionamento deste grupo rebelde, porque tudo indica que é patrocinador oficioso dos rebeldes, por causa dos seus interesses geoeconómicos”.

"Recusar negociar é perpetuar o conflito”

Quanto à recusa do Presidente Félix Tshisekedi em negociar com o M23, Cesário Zalata considera que isso "não faz nenhum sentido”. "Negar negociar com o M23 significa perpetuar o conflito e o sofrimento do povo da Região Leste da RDC. Neste momento, o M23 não sente a obrigação de cumprir com o acordo de cessar-fogo de 4 de Agosto, pelo facto de não ter sido incluído na negociação e na mediação”, disse o académico e analista de Política Internacional.

Zalata indicou que "a diplomacia da paz exige paciência, inclusão, cedências e concessões”. Por isso, frisou, o Presidente Félix Tshisekedi precisa de "flexibilizar” a sua posição enquanto Chefe de Estado, para dialogar com as lideranças do M23 de forma aberta, olho nos olhos.

Quando questionado sobre as causas que inviabilizam o fim da guerra na RDC, Cesário Zalata explicou que, na Ciência das Relações Internacionais, ensina-se que o sistema internacional é anárquico, logo existe um clima permanente de guerras e conflitualidades, onde o poder se torna o principal instrumento de sobrevivência dos Estados.

Com base nisso, prosseguiu, existe o conceito de "soberania", que foi teorizado pelo filósofo francês Jean Bodin, na sua obra "Os seis livros da República” (1576), onde refere que a soberania é o poder do Estado que não conhece superioridade na ordem externa nem igualdade na ordem interna.

Para Cesário Zalata, o que está a acontecer na República Democrática do Congo é a existência de grupos rebeldes que desafiam o poder do Estado. "Os grupos rebeldes já perceberam que a RDC é um Estado frágil, fracassado e falhado em termos de defesa e segurança, e sobretudo em termos de poder militar”, lamentou.   

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