Com base no velho provérbio de “quem casa, quer casa”, o anúncio de que, até ao ano 2027, o Executivo vai disponibilizar para a população, em todo o país, um milhão de lotes de terrenos, destinados à autoconstrução dirigida, funciona como uma boa nova para todos os cidadãos desprovidos de tão essencial equipamento social.
No tempo antigo, antes da escrita, a palavra tinha um valor especial. “No princípio era o verbo”. Com a palavra se fazia oratura, poesia, cantigas para responder ao rufar dos tambores e às mensagens dos xingufos. Com a escrita, a palavra deu origem a guerras, mas foi com a palavra escrita que se pararam as guerras.
São múltiplos cenários que se podem observar do livro “Fundamentos Filosóficos do Insucesso das Reformas Educativas na África Bantu: O caso da RDC, da Zâmbia e de Angola”, de Carlos Gime, que careceram do autor fundamentos numa perspectiva filosófica, visto que a educação bantu, mesmo no período pós-colonial esta(va) ao serviço de seus colonizadores, o que, de certo modo, influenciou grandemente no (in)sucesso da educação na RDC, na Zâmbia e em Angola.
A compreensão de Gime para o (in)sucesso podia ser vista em duas perspectivas, a saber: pensamento cafricado e a crise ético-política. Esses povos africanos tornaram-se estrangeiros na sua própria pátria, uma vez que os colonizadores revestidos de uma "missão de ajudar o ex-colonizado, mas que, na verdade, a oficiosa consistia e ainda consiste em fazer tudo por tudo para manter o status quo do antigo pacto colonial já que o sucesso escolar implicaria consequências nefastas para a metrópole” (GIME, 2022, p. 117).
Nas entrelinhas, compreende-se o levantar de uma crítica aos Estados sobre a cota financeira disponibilizada para a educação nos orçamentos gerais dos Estados (OGEs) condicionando a qualidade da educação, visto que as conferências que decorreram em Jomtien (1990) e em Dakar (2000) haviam fixado 20% para o alcance das metas definidas pela Educação para Todos (EPT).
Por outro lado, a crítica do autor também recai às ideologias educativas que, de certa forma, motivam a crise lógico-ética do pensamento e a decadência das políticas educativas adoptadas como modelo que acaba por influenciar a concepção e a execução individual (professor) e colectiva (Ministério da Educação) que intervém na definição dos objectivos da educação.
Outra questão, não menos importante, prende-se com a não conciliação da escolarização com o processo de industrialização, provocando o sub-aproveitamento dos quadros formados e o consequente subdesenvolvimento. Os défices de políticas públicas motivaram uma onda de emigração devido a falta de emprego. A política da expansão escolar também fracassou devido ao descontrolo da densidade populacional e ao surgimento de novos bairros sem projectos directórios das administrações municipais.
O livro é interessante, absolutamente fora de qualquer vulgaridade. Uma busca minuciosa dos aspectos educativos dos países em questão, onde o autor costura em seu escrito os contextos coloniais e sua implicação nos insucessos educativos. Apoiado numa linguagem de fácil trânsito que o torna ainda mais convidativo, e, nesse convite à leitura, observam-se os avanços e recuos na sua escrita, isto é, em dado momento do livro verifica-se o retomar de aspectos já elencados, o que, no meu entender, se torna uma estratégia de construção textual importante na medida em que facilita, precisa ainda mais o leitor.
E falo sobre "Fundamentos Filosóficas do Insucesso das Reformas Educativas em África Bantu: o caso da RDC, da Zâmbia e de Angola”, desapaixonado por mergulhar nessas discussões, o que evita, de certo modo, o risco de tecer elogios sem necessidade. Pois o livro foi muito bem conseguido, numa visão decolonial, na medida em que o torna um livro outro. Ainda que tenha alguns aspectos discutidos por outros autores, muitas ideias contidas no mesmo mostram a sua originalidade.
Aprendi
que a resolução dos problemas dos insucessos nas reformas educativas passa pelo
repensar a filosofia da educação para políticas educativas reais e contextuais.
É um grito e um grito à liberdade das políticas educativas coloniais ainda
vigentes e enraizadas na concepção lógico-ético do pensamento da África bantu.
Ezequiel Bernardo- Chefe de Secção de Investigação Científica e Pós-Graduação do Instituto Superior de Ciências da Educação de Cabinda
** Conclusão
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LoginEstes tempos novos, feitos de segundos, que constroem minutos, antecessores das horas que, umas sobre as outras, originam sucessivamente dias, meses, anos, voam velozes como jamais, numa correria sufocante de sentimentos promotores de injustiças reflectidas em egoísmos.
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