Opinião

Causas do insucesso das reformas educativas na RDC, Zâmbia e Angola (**)

São múltiplos cenários que se podem observar do livro “Fundamentos Filosóficos do Insucesso das Reformas Educativas na África Bantu: O caso da RDC, da Zâmbia e de Angola”, de Carlos Gime, que careceram do autor fundamentos numa perspectiva filosófica, visto que a educação bantu, mesmo no período pós-colonial esta(va) ao serviço de seus colonizadores, o que, de certo modo, influenciou grandemente no (in)sucesso da educação na RDC, na Zâmbia e em Angola.

05/02/2023  Última atualização 05H00

A compreensão de Gime para o (in)sucesso podia ser vista em duas perspectivas, a saber: pensamento cafricado e a crise ético-política. Esses povos africanos tornaram-se estrangeiros na sua própria pátria, uma vez que os colonizadores revestidos de uma "missão de ajudar o ex-colonizado, mas que, na verdade, a oficiosa consistia e ainda consiste em fazer tudo por tudo para manter o status quo do antigo pacto colonial já que o sucesso escolar implicaria consequências nefastas para a metrópole” (GIME, 2022, p. 117).

Nas entrelinhas, compreende-se o levantar de uma crítica aos Estados sobre a cota financeira disponibilizada para a educação nos orçamentos gerais dos Estados (OGEs) condicionando a qualidade da educação, visto que as conferências que decorreram em Jomtien (1990) e em Dakar (2000) haviam fixado 20% para o alcance das metas definidas pela Educação para Todos (EPT).

Por outro lado, a crítica do autor também recai às ideologias educativas que, de certa forma, motivam a crise lógico-ética do pensamento e a decadência das políticas educativas adoptadas como modelo que acaba por influenciar a concepção e a execução individual (professor) e colectiva (Ministério da Educação) que intervém na definição dos objectivos da educação.

Outra questão, não menos importante, prende-se com a não conciliação da escolarização com o processo de industrialização, provocando o sub-aproveitamento dos quadros formados e o consequente subdesenvolvimento. Os défices de políticas públicas motivaram uma onda de emigração devido a falta de emprego. A política da expansão escolar também fracassou devido ao descontrolo da densidade populacional e ao surgimento de novos bairros sem projectos directórios das administrações municipais.

O livro é interessante, absolutamente fora de qualquer vulgaridade. Uma busca minuciosa dos aspectos educativos dos países em questão, onde o autor costura em seu escrito os contextos coloniais e sua implicação nos insucessos educativos. Apoiado numa linguagem de fácil trânsito que o torna ainda mais convidativo, e, nesse convite à leitura, observam-se os avanços e recuos na sua escrita, isto é, em dado momento do livro verifica-se o retomar de aspectos já elencados, o que, no meu entender, se torna uma estratégia de construção textual importante na medida em que facilita, precisa ainda mais o leitor.

E falo sobre "Fundamentos Filosóficas do Insucesso das Reformas Educativas em África Bantu: o caso da RDC, da Zâmbia e de Angola”, desapaixonado por mergulhar nessas discussões, o que evita, de certo modo, o risco de tecer elogios sem necessidade. Pois o livro foi muito bem conseguido, numa visão decolonial, na medida em que o torna um livro outro. Ainda que tenha alguns aspectos discutidos por outros autores, muitas ideias contidas no mesmo mostram a sua originalidade.

Aprendi que a resolução dos problemas dos insucessos nas reformas educativas passa pelo repensar a filosofia da educação para políticas educativas reais e contextuais. É um grito e um grito à liberdade das políticas educativas coloniais ainda vigentes e enraizadas na concepção lógico-ético do pensamento da África bantu.

Ezequiel Bernardo- Chefe de Secção de Investigação Científica e Pós-Graduação do Instituto Superior de Ciências da Educação de Cabinda

                                       ** Conclusão

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