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Capital económica da Nigéria enfrenta nova vaga mais mortal

A capital económica da Nigéria, Lagos, enfrenta uma segunda vaga de Covid-19, “mais contagiosa” e “mais mortal” que a anterior, com grande parte dos habitantes a ignorarem as recomendações das autoridades de saúde e os hospitais sobrecarregados.

09/01/2021  Última atualização 12H25
© Fotografia por: DR
De dia, nas praias apinhadas da cidade mais populosa de África, milhares de pessoas reúnem-se para a época festiva, sem máscaras ou respeito por medidas de barreira.À noite, nas discotecas, que não estão autorizadas a abrir, os êxitos 'afrobeat' continuam a fazer os jovens dançar, pouco preocupados com o toque de recolher obrigatório em vigor e sabendo que uma simples gorjeta, nos bloqueios de estrada da polícia, pode facilmente contornar a regra.

Aos fins-de-semana, os casamentos reúnem centenas de convidados, apesar de limitados a 50 pessoas pelas autoridades de saúde, e realizam-se à vista de todos, por vezes sob a protecção de polícias pagos para a ocasião, relata a agência de notícias francesa AFP.Por outro lado, mesmo com a melhor das intenções das pessoas, seria impossível respeitar as medidas de distanciamento social nos transportes e bairros superlotados da cidade, em expansão, e já com 20 milhões de habitantes, onde a grande maioria vive dia a dia a tentar assegurar a sobrevivência.

Em Lagos, após meses de restrições e de contenção extremamente rigorosos, implementados nos primeiros meses de pandemia e que mergulharam o país na recessão, muitas pessoas vivem agora como se o coronavírus não existisse.Alguns, porque não acreditam nisso. Outros, porque o vírus assusta-os pouco face à pobreza extrema que já enfrentam."Se me sentir mal, vou apenas fazer um teste à malária, não ao Covid-19, isso não nos mata”, diz Ali, taxista de 27 anos. No entanto, o número de novos casos de infecção está a progredir rapidamente.

"Entrámos em força na segunda vaga da pandemia. Ontem, Lagos registou um número assustadoramente elevado de infecções num dia”, disse o governador de Lagos, Babajide Sanwo-Olu, na terça-feira."Esta segunda vaga é acompanhada por sintomas mais graves e um número mais elevado de casos positivos foi detetado”, afirmou.Desde o início da pandemia, a cidade registou 33.329 casos, incluindo 250 mortes por coronavírus. A Nigéria, o país mais populoso de África, teve um total de 94.369 casos, incluindo 1.324 mortes, registados.

Embora o número de infecções comunicadas continue baixo, estes dados são subestimados: o número de testes é muito inferior ao da Europa, ou mesmo da África do Sul, que tem mais de um milhão de casos positivos. Além disso, na Nigéria, menos de 10% das mortes pela doença são normalmente comunicadas às autoridades.No entanto, os profissionais de saúde estão a fazer soar o alarme. No Paelon Memorial Hospital, no distrito comercial da Ilha de Victoria, "já não é uma segunda vaga, mas um tsunami”, diz a directora, Ngozi Onyia.

"Os meus telefones estão sempre a tocar, há muitos pacientes positivos a entrar, tenho de tomar decisões difíceis. Quem aceitar no nosso centro hospitalar? Quem colocar num dos nossos quatro ventiladores? Estas são decisões éticas, que não tomava há 38 anos”, lamentou.O mesmo se aplica no hospital público. "O ressurgimento da Covid-19 está a devastar as nossas terras e a fazer muitas vítimas”, adverte o director do Hospital Universitário de Lagos (Luth), Professor Chris Bode."Ao contrário da primeira vaga, esta é muito mais contagiosa e mortal”, acrescentou, apelando às autoridades para que respeitem as medidas tomadas.

O responsável atribui a aceleração dos contágios a uma nova variante do coronavírus, descoberta em meados de Dezembro. O professor Christian Happi, que está por detrás da sequenciação desta variante, apela, no entanto, à prudência. Os resultados do seu estudo serão conhecidos no final do mês e é impossível, de momento, dizer se esta variante é mais transmissível e perigosa.Ao mesmo tempo, as autoridades estão a alertar para a possibilidade de novo confinamento."Não queremos declarar um novo confinamento. Devem usar as vossas máscaras e evitar lugares apinhados”, apelou o governador de Lagos.

Por agora, "a melhor cura são as mensagens de prevenção”, segundo Yap Boum, o representante para África do Epicentre, o braço de investigação da organização Médicos Sem Fronteiras.Quanto às vacinas, o Governo anunciou que espera receber 100.000 doses até ao final do mês e ser capaz de vacinar 40% da população em 2021. Mas os desafios do transporte, armazenamento e vacinação de uma população de 200 milhões de pessoas são imensos.

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