“Rosa Baila”, “Chikitita”, “Perdão”, dentre outros sucessos que marcam o percurso artístico de Eduardo Paím, serão apresentados amanhã, a partir das 19h30, no concerto comemorativo aos 60 anos natalícios do cantor e produtor.
Os escritores Agostinho Neto e António Jacinto são, hoje, às 10h, homenageados como “Poetas da Liberdade”, no Festival de Música e Poesia, que acontece no auditório do Centro Cultural de Vila Nova de Foz Côa, em Lisboa, Portugal.
As suas músicas de intervenção e contestação social e política calavam fundo no seio dos jovens urbanizados de Angola, que se identificavam com as letras cantadas pelo rapper. Em 2014, quando Azagaia anunciou que padecia de um tumor cerebral, dezenas de jovens em Luanda saíram à rua em sinal de solidariedade para com o cantor.
O músico esteve em Luanda em 2018, quando participou no concerto "Proibido ver isto”, em que o rapper MCK juntou amigos seus no cine Atlântico, com destaque para Azagaia e o português Valete. MCK fez várias viagens musicais com Azagaia, nomeadamente, nos temas "Matumbos com dinheiro” e "Países do medo”, neste último também com a participação de Valete.
"Edson, tu és luz, tu és esperança, tu és luta e inspiração... Qualquer texto sobre ti, reduz a grandiosidade dos teus feitos, e limita o alcance da tua arte. Irmão da vida, companheiro de trincheira, obrigado pelo nada e o tudo que passamos juntos, tu és Eterno, tua alma será lembrada e tua luta continuada, até já, Mano Azagaia!!! Te encontro na fronteira”, escreveu MCK na sua página do Facebook.
"Estou extremamente chocada. Sem dúvida que a música e a cultura moçambicanas estão de luto. O mundo perdeu um ‘rapper’ único”, disse a ministra da Cultura moçambicana, Eldevina Materula, citada pela Lusa, em reacção à notícia da morte do cantor.
No ano passado, fascinado pelas letras das canções de Azagaia, o renomado sociólogo e académico português Boaventura de Sousa Santos afirmou publicamente que o rapper "possui lugar de fala para mostrar o que a sociologia é incapaz de dizer”.
Carreira
iniciada aos
13 anos
Filho de uma comerciante moçambicana e de um professor cabo-verdiano, Edson da Luz nasceu na localidade de Naamacha, na província de Maputo. Aos 10 anos de idade foi viver na capital moçambicana, onde concluiu o ensino médio e frequentou o ensino superior.
Iniciou a carreira musical aos 13 anos integrando o grupo Dinastia Bantu, onde chegaria a lançar o álbum "Siavuma”. Em Novembro de 2007, Azagaia lançou o álbum "Babalaze”, com as participações de Terry e Valete, que atingiria recorde de vendas no país. O disco continha músicas bastante críticas ao Governo moçambicano, facto que impediu que algumas faixas, com destaque para "As mentiras da verdade” e "A marcha”, fossem tocadas em canais públicos.
Intimado pela Procuradoria
Depois da revolta popular de 5 de Fevereiro de 2008, em Maputo, Azagaia apresentou o tema "Povo no poder”, que lhe valeu uma intimação, pela Procuradoria-Geral da República, por suspeita de "atentar contra a segurança do Estado”. Mas, não chegou a ser constituído arguido e o cantor deu continuidade ao seu trabalho, sem alterar o teor das suas letras.
Em 2009, lançou o videoclipe "Combatentes da fortuna”, que apesar de ter sido censurado foi dado como o videoclipe mais visto da história do rap moçambicano. Em 2013, o cantor foi preso com o seu produtor, por ter sido encontrado com um cigarro de "soruma” (liamba). Em Junho de 2014, durante uma entrevista televisiva o cantor confessou que tinha sido detido novamente por posse de cannabis, justificando o consumo com uma recomendação médica, uma vez que sofria de epilepsia. Na sequência, preparou em directo e acendeu um cigarro que disse tratar-se de liamba. Poucos dias depois, escreveu no Facebook que por temer pela sua vida, abandonaria a carreira musical e passaria a viver na sua terra natal. Ainda no mesmo ano, Azagaia anunciou que estava com um tumor cerebral e iniciou uma campanha de arrecadação de fundos pela Internet, com vista a ser operado na Índia.
"Help Azagaia”
A campanha "Help Azagaia” teve como contribuintes cidadãos comuns de várias partes do mundo, incluindo Angola, e foi bem sucedida. Ela resultou em pouco mais de 790 mil meticais (cerca de 19 mil euros de então), em duas semanas. Em Outubro do mesmo ano, o músico viajou para Nova Delhi, Índia, onde foi operado, um tratamento que durou duas semanas. Após a recuperação, "Mano Azagaia”, como também era conhecido, voltou aos estúdios.
A 30 de Março de 2016, dois dias antes do show que marcou o seu regresso aos palcos, disponibilizou uma música, com o título "Renascer”, onde agradece aos seus admiradores e a todos que o ajudaram a reerguer-se. Em 2018, participou no show "Proibido ver isto”, de MCK e amigos, no cine Atlântico, em Luanda.
Para além de rapper, Azagaia era redactor publicitário e actor, tendo participado em três curtas-metragens: "Mahala”, "Traídos pela Traição” e "Venenos do Amor”.Seja o primeiro a comentar esta notícia!
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