Opinião

Caixa autómata de encaixes

Pedro Kamorroto

Divertir, divertir-se, retrair, retrair-se.

19/03/2023  Última atualização 07H15

À frente está uma data de unhasafiadas em riste. Física e moralmente preparadas para as ondas, para as calemas que derem e vierem. Para as coceiras endémicas que andam aí à paisana. Corpos alérgicos não precisam pedi-las. Nem mesmo diabo abandonaria o conforto  da sua capa para tecê-las. 

Mas ainda assim vale uma prece básica para desactivar a partir da raiz a raiva das unhas afiadas.

Os dias são de rigorosos e  exaustivos controles. Um palmo de terra mais uma pá servente para quem colocar doses industriais de lixívia para desbotar o branco do algodão.

A retórica do branco do algodão é de bradar o primeiro dos infernos e o último dos céus.

É o único património que recebe os galões todos. Protecção, conservação, preservação é somente com ele –dizem os experts dessa fantástica matéria. Sem o branco do algodão tudo escurece, cavalos ficam malucos, desviam-se dos estábulos. Lamentavelmente, perdem força física e anímica para a carroça carregadora de luz.

As luzes cegaram a membrana ocular dos séculos. Velas não temem arder combustão até ao fim.

A escuridão é guia imortal. Glaucoma dos de um-olho-só ainda sentem vibração e profundidade do buraco que se lhes atravessa os passos.

Todo o  resto não tem vara digital para alcançar o buraco que já é, ou o que se segue na linha de sucessão natural.

Na grande sinagoga, no grande palanque, emerge da toga uma voz de princesinha esbelta, pede como se não quisesse ao homem-da-mafumeira-frondosa para não adiar a produção massiva de vinho de palma e de licores à Beirão(?). Mas Homem-da-mafumeira-frondosa conhece as sebentas que ABCDErizaram a grande literatura, a grande ficção desnarrativa. Não quer ser (Eu)génio, mestre do candeeiro mais incandescente, sob pena de serabsorvido pela esponja da escória. É que a história também tem o seu viés de escória.

Daí que contenta-se em ser aquele que dilui dores e con e centra para si todos os odores.

Tem um canal bem nasalado para o efeito. Apuradíssimo, diga-se em nome de todas as portagens.

De tanto diluir e diluir-se, alcança os passos de resolução de uma equação diferencial do mais do mesmo. A (re)solução pode não existir ou não servir para o muito exibitório.

Da grande sinagoga, sente que está anos-vela dos meros terrestres, levita, tornou-se uma figura arbórea, adora ser cimo de qualquer coisa.

Bemencimado da vida ignora a oferta do chão. Esfola a raiz de toda sua intenção paradisíaca. Abre avenidas frondosas para não acordo de intenção. Rúbricas?–só já com aves sem cruzes. Entre e outros tantos, a gravidade é justa consigo mesma, alcança todos na proporção que merecem.

O chão está aí como se fosse imutável, como se fosse a cerce de qualquer discussão metafísica. Alcançar corpos celestes daria assento a gargalhadas gigantes, mas sorrir é estética (a)moral para quem é visitado por cáries e (outros) amargos de boca.

Sorrir exige muito decoro e alguma palavra de circunstância de comissões que não só disciplinam como também "eticam”. Mas Homem-da-mafumeira-frondosa nas vestes de dilui dor anda à procura da tinta homogénea para "basquiat” o futuro.

Se conseguir será um feito ineditíssimo, abrupto, capaz de arrombar o lusalite celestial.

Será merecedor de todos os comentários e encómios dos peritos de elevado mérito, dos bo(m)bós que fazem a grande cortesia. A cortesia é uma mercadoria de grande valia marxista. Ai de quem não a deter para si, estará de certeza à margem, se-auto-excluirá, não terá como fazer parte da caixa autómata de encaixes. A época que se vive é de ditadura da cortesia, é de grande cortesia expulsar catarros de extremidades.

O resto marginal, os que estão  do outro lado invisível do espelho para os bons reflexos da grande cortesia, têm ainda duas gotas milagrosas e reconfortantes de esperança, embora à  condição:

– Paciência tibetana e um mocho expedito, disponível a todo instante.

Só assim poderão invocar a maior qualidade de Tomé, não só digna de citação como de exaltação também: ver para crer. Aguardar sentado para crer. O grande navio cortês e optimista poderá não abraçar nunca o cais. A grande certeza traiçoeira é glaucomada para o calcanhar de Aquiles.

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