Reportagem

Cabinda completa 67 anos de existência com acções viradas ao progresso social

Bernardo Capita

A então Vila Amélia, hoje Cidade de Cabinda, que a 28 de Maio do longínquo ano de 1956, por Portaria exarada pela antiga Administração Colonial Portuguesa, ascendeu à categoria de cidade e, do ponto de vista do seu crescimento social, de lá para cá evoluiu substancialmente, quer ao nível das infra-estruturas, como dos serviços e em termos demográficos.

28/05/2023  Última atualização 06H29
© Fotografia por: António Soares| Edições Novembro

A cidade de Cabinda, também conhecida por "Tchiowa”, que hoje festeja o seu sexagésimo sétimo aniversário, possui, actualmente, infra-estruturas nos mais variados domínios, que, sem sombra de dúvidas, vieram mudar completamente a sua imagem e conferir aos seus habitantes melhor qualidade de vida e esperança em dias ainda melhores.

Cabinda tem vias rodoviárias devidamente estruturadas, rede escolar e sanitária dotada de infra-estruturas modernas, construídas de raiz, incluindo portuárias e aeroportuárias, universidades públicas e privadas, um conjunto de fogos habitacionais surgido no âmbito do programa do Executivo de fomento habitacional e a maior indústria petrolífera do país, que constitui a sua maior "relíquia”.

Falar da cidade de Cabinda pressupõe abordar sobre o crescimento social da urbe, descrever as suas gentes, o modo de ser, de estar e, acima de tudo, debruçar-se sobre as questões que ainda continuam, teimosamente, a inquietar a vida dos munícipes, nomeadamente o fornecimento de energia eléctrica e água potável, que, não obstante a ocorrência de pequenas irregularidades de ordem técnica, que de quando em vez constrangem o ritmo normal de abastecimento dos dois produtos aos habitantes, continuam por melhorar quantitativa e qualitativamente.

Entre as preocupações sociais relevantes figuram, com alguma particularidade, a delinquência e a imigração ilegal, estas últimas acções maioritariamente praticadas por cidadãos estrangeiros ilegais da RDC e que, na procura por meios de sobrevivência, "se refugiaram” na cidade de Cabinda e bairros periféricos, promovendo todo o tipo de actos nem sempre lícitos, completamente desligados da maneira de ser e de estar dos angolanos.

A delinquência, imigração ilegal, tráfico de combustível, exercício ilegal de moto-táxi, comércio precário nas bermas de estradas são, entre outras irregularidades, as que se afiguram como acções com natureza criminal, quer quando envolvem transgressão administrativa, como criminalidade na sua extensão.

 
Proliferação de seitas religiosas

A proliferação de seitas religiosas, na cidade de Cabinda, é um outro fenómeno social que preocupa os citadinos, devido às consequências negativas que essa realidade tem estado a provocar no seio de muitas famílias.

A maior parte dessas seitas religiosas é originária da República Democrática do Congo (RDC) e constam na lista igrejas encerradas pelas autoridades angolanas, mas que, teimosamente, os seus líderes, maioritariamente congoleses da RDC, insistem em abri-las  e a  exercerem actividade religiosa com documentação em nome de outras igrejas.

Segundo o responsável, pelos bairros, ouvem-se gritos de socorro da população, que clama por vários problemas causados pelas  confissões religiosas não reconhecidas pelo Estado, desde acusações de feitiçaria contra menores, poluição sonora resultante das "gritarias dos crentes em momentos de adoração, realização de orações na calada de noite, perturbando o sossego da vizinhança, entre outras irregularidades.

O administrador Guilherme Pereira admitiu que é, igualmente, necessário impor ordem, combatendo sobretudo aquelas "seitas com princípios de fomentar a divisão familiar, o terrorismo, auxílio à imigração ilegal, entre outras práticas nefastas”.

"Temos de combater essas práticas que  são capazes de provocar insegurança à província”, alertou o administrador, lembrando, por outro lado, que a atenção das autoridades vai recair sobretudo nessas igrejas ilegais.

 
Cabinda em festa

A presente edição das festas da Cidade de Cabinda vai circunscrever-se à realização de uma série de actividades com vista a resgatar a "mística” das festividades do passado, que se foi perdendo pouco a pouco, quer por conta da Covid-19, quer devido à crise financeira que assolou o mundo, em geral, e o país em particular, informou o administrador Guilherme Pereira.

De acordo com o administrador Guilherme Pereira, a presente edição das festas da Cidade de Cabinda  vai contemplar actividades que mais se identificam com  a população, com destaque para o futebol, paraquedismo, motocrosse, jogos tradicionais, amigos da picada, voo de parapente à cidade e campanhas de limpeza.

Estão igualmente previstas, segundo anunciou, a realização de uma fogueira de confraternização com a participação de todos os munícipes, feira de promoção de produtos locais, maratonas dançantes, sessões músico-culturais com exibição de músicos da praça local, nacional e de cariz internacional, entre outras acções não menos importantes.

"Cabinda foi sempre uma terra de festa. E é nosso desejo resgatar a mística, aquela veia festiva da população do município de Cabinda e da província no geral, que se foi perdendo”, disse Guilherme Pereira, para quem o actual momento em que se realizam as festas da Cidade de Cabinda é completamente diferente e, para tal, convida todos os filhos desta parcela do território nacional e não só, que por qualquer motivo se tenham ausentado deste território, a juntarem-se às festas.

O momento actual, continuou, é diferente e estamos a trabalhar precisamente para mostrar que a realidade de Cabinda do passado não tem nada a ver com a de hoje, destacando entre outras valências as oportunidades de emprego, negócios e outros projectos estruturantes construídos na Cidade de Cabinda no pós-Independência pelo Executivo angolano, que a tornam "num sítio bom para se viver”.

Segundo o administrador do município mais populoso da província, com cerca de 87 por cento da população global da região, o objectivo das festas, desta edição, é fazer com que "todos aqueles que nelas vierem participar, de outras latitudes, acabem por ficar”.

"Estamos a criar todas as condições para que as pessoas simplesmente venham à festa e acabem por ficar”, disse, tendo acrescentado que as festas desta edição são um autentico convite de regresso às origens.

O administrador Guilherme Pereira apelou aos municípes no sentido de participarem activamente nas tarefas de limpeza e embelezamento da cidade, para que a urbe continue limpa, tal como está hoje, fruto de muito trabalho e empenho das autoridades locais.

Anunciou que a Administração do Município vai, nos próximos dias, recrutar jovens para trabalharem em empresas legalmente constituídas no ramo de recolha de resíduos sólidos, para assegurarem também o processo de saneamento básico por via de motorizadas de três rodas.

O administrador Guilherme Pereira anunciou igualmente o início de trabalhos de reabilitação de valas de drenagem de águas pluviais a céu aberto, que já se encontram em estado avançado de degradação.


A visão da municipalidade

O administrador municipal de Cabinda, Guilherme Pereira, falou à reportagem do Jornal de Angola sobre os principais desafios da sede provincial e arredores, tendo apontado como principal "cavalo de batalha” o combate à  imigração ilegal. Para o responsável, este  desafio passa pela conjugação de esforços das autoridades do município sede (Cabinda) e das populações, no sentido da busca dos melhores resultados.

Por ocasião das festas da Cidade de Cabinda, Guilherme Pereira disse que está familiarizado com todas essas infracções administrativas e outros actos de delinquência que ocorrem no município sede  de Cabinda e que continuam a perturbar a vida dos citadinos, admitindo que está na forja "uma estratégia multidisciplinar, ou seja, com a envolvência dos órgãos de Defesa, Segurança e Ordem Interna”, para se combater todos esses males.

O homem forte da Administração do Município de Cabinda garantiu que as autoridades locais serão implacáveis na tomada de medidas para disciplinar e organizar a vida na Cidade de Cabinda e bairros periféricos.

"Nós vamos ser rigorosos  e quem não cumprir com aquilo que são as directrizes das autoridades, fundamentadas na Lei, ser-lhe-ão aplicadas duras medidas”, alertou o administrador Guilherme Pereira, numa clara advertência a todos aqueles que andam envolvidos em acções que visam perturbar a ordem e tranquilidade públicas.

As medidas, alertou, vão começar a nível dos bairros, incidindo sobre as actividades de moto-táxi, exercidas em grande medida por cidadãos estrangeiros com a cumplicidade dos nacionais, que entregam motorizadas, a seu bel-prazer e de forma irresponsável, a esses indivíduos, fazendo todo o tipo de desordem na via pública e, como se não bastasse, transportando entre dois a três passageiros num só velocípede.

"Não podemos permitir que os nossos hábitos e costumes sejam desvirtuados por  pessoas de outras latitudes, que não pretendem respeitar as leis, valores e tradições em que se assentam a nossa vida, no dia-a-dia”, defendeu o responsável.

Uma chamada de atenção foi dada, também pelo administrador Guilherme Pereira, às autoridades tradicionais, especialmente os coordenadores de bairros, no sentido destes prestarem maior atenção à imigração ilegal, denunciando todos os cidadãos nessa condição que se acomodam nas suas áreas de jurisdição, bem como os nacionais que, eventualmente, auxiliam a referida ilegalidade.

"Estamos a trabalhar com as Comissões de Bairro. Temos que voltar àquela fase antiga em que os coordenadores de bairros conheciam, efectivamente, toda a pessoa que morasse numa determinada rua”, disse Guilherme Pereira, para quem esse princípio iria facilitar a denúncia de eventuais cidadãos que estejam a residir de forma ilegal no país.

A imigração ilegal atingiu, em Cabinda, níveis insustentáveis e o administrador Guilherme Pereira assegura que,  xenofobia à parte, "Cabinda e o país de forma geral são acolhedores, um povo bastante pacífico, mas vivemos com regras. Àqueles que quiserem se juntar a nós deverão fazê-lo com regras e não virem cá impor as suas próprias regras”, disse.


A voz dos munícipes

Celina Mbuilo, moradora do bairro 1º de Maio, na zona de Luvassa Sul, disse que, apesar de algumas falhas que ainda se registam no fornecimento de energia eléctrica, na distribuição de água potável e no saneamento básico, é notável o desenvolvimento da Cidade de Cabinda, do ponto de vista da construção de infra-estruturas económicas e sociais como escolas, hospitais, vias de acesso, projectos habitacionais e outros que conferem outra imagem e dignidade aos cidadãos.

A também estudante universitária, de 25 anos, apontou entre outros projectos que estão a provocar um impacto directo na vida dos habitantes da urbe e no seu crescimento económico, sendo alguns já concluídos e outros em fase de obras, mormente o Terminal Marítimo de Passageiros recentemente inaugurado pelo Presidente da República, João Lourenço, o Porto de Águas Profundas do Caio, a Refinaria, o Novo Aeroporto Internacional de Cabinda (NAIC), estes dois últimos em projecção que, segundo a estudante, quando concluídos, vão, certamente, proporcionar mais empregos para os jovens.

Celina Mbuilo pediu maior empenho do Governo da província na implementação de acções que visam melhorar as vias de acesso ao interior dos bairros periféricos da cidade, na distribuição de energia eléctrica e água potável, saneamento básico e iluminação pública.

"O centro da cidade está muito bem em termos de saneamento básico, iluminação pública, circulação rodoviária, mas é necessário que esses serviços sejam extensivos aos bairros periféricos, onde ainda se registam problemas nas vias de acesso, falta de iluminação pública e défice de saneamento básico”, exteriorizou a munícipe Celina Mbuilo.


Bartolomeu Gime
nasceu há 40 anos na Cidade de Cabinda. Atento a todos os fenómenos à volta da cidade onde está enterrado o seu cordão umbilical, Bartolomeu Gime reconhece que a urbe conheceu nos últimos tempos um crescimento substancial no que diz respeito à construção de infra-estruturas sociais, económicas, bem como na vertente demográfica, saneamento básico, abastecimento de energia eléctrica e água potável.

Bartolomeu Gime disse que está ciente de que muita coisa ainda há por fazer, para tornar a vida dos habitantes do município mais populoso da província mais cómoda, mas ainda assim dá o voto de confiança ao Governo por tudo aquilo que tem estado a fazer em prol das populações.


A estudante do curso de Medicina no Instituto Superior de Saúde Inês Cumba, com a idade entre os 20 e 25 anos, disse que é notável o crescimento da cidade de Cabinda, indicando particularmente os projectos que o Executivo desenvolveu nos sectores de energia e águas, que culminaram, por um lado, no reforço dos níveis de produção de energia eléctrica na Central Térmica de Malembo, que passou de 95 megawatts para 170 megawatts, com a montagem de mais três turbinas de 25 megawatts cada e, por outro lado, a construção da grande Estação de Tratamento de Água na localidade de Sassa-Zau, empreendimentos que, na visão da nossa entrevistada, vieram melhorar significativamente a produção e o fornecimento dos dois produtos à população.

"Hoje, é possível notar-se melhorias nos domínios de fornecimento de energia eléctrica, água potável e no saneamento básico da nossa cidade e nos bairros periféricos, e isso já é muito bom, porque nos dá uma certa crença de que os níveis de crescimento social tendem a evoluir progressivamente”, disse a jovem estudante do curso de Medicina.   

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