Amílcar Cabral foi incontestavelmente uma das maiores figuras de África de todos os tempos. Não só por tudo que fez em sectores nevrálgicos na Guiné-Bissau, mas também, pelo sentido de autonomia que sempre procurou preservar em relação ao poder político, fosse ele qual fosse, antes ou depois do início da Luta Armada. Guineense (filho de cabo-verdianos, mas de avó materna natural da Guiné-Bissau).
A construção de uma sociedade cada vez melhor depende do envolvimento de todos. Por isso, a entrega dos membros da sociedade civil organizada ao lado do Estado na busca de soluções para problemas respeitantes às populações é necessária.
Se estivesse em vida, Jonas Malheiro Savimbi teria feito 90 anos de idade na última semana.
Nos últimos anos, a UNITA, o principal activo agregado como é natural, tem procurado construir um perfil menos violento do seu líder histórico, promovendo um conjunto de facetas positivas de Jonas Savimbi.
Apesar de morto, a UNITA continua a precisar muito da imagem de Jonas Savimbi, que continua a ser activo e elemento agregador das bases do partido.
Para isso, o maior partido da oposição vende a narrativa de um Savimbi que anteviu a má governação do MPLA e de um nacionalista a quem se deve a democracia do país, ainda que muitas vezes a mesma UNITA afirme quando convém que vivemos em ditadura.
Perante essa acção de "branqueamento” da imagem de Jonas Savimbi, ninguém reage. Nem mesmo o MPLA, absorto nos problemas da governação, nem figuras da sociedade que, insatisfeitos com a governação, temem que realçar o efeitos da guerra de Savimbi possa parecer uma desculpabilização dos erros da governação cometidos pelo MPLA.
Com documentários, livros, divulgação de extractos de discursos e entrevistas e muita acção política, a UNITA alega a necessidade de desmistificar muitas inverdades e para desencadear essa grande campanha que passa, por um lado, por colocar Jonas Savimbi ao lado de Agostinho Neto e Holden Roberto, o que é historicamente legítimo, mas também por realçar a contribuição positiva para o fim do monopartidarismo.
E assim, num ápice a guerra pós-eleitoral feita pela UNITA sob liderança de Jonas Savimbi deixou de ter qualquer peso na avaliação da governação nos 30 anos de democracia. A máquina propagandística da UNITA e o excessivo da justificação com a guerra pelo MPLA criaram uma situação de saturação e, hoje, mais ninguém quer ouvir falar das consequências da guerra pós-eleitoral, como se elas tivessem desaparecido com uma varinha mágica.
Jonas Savimbi recusou-se a aceitar os resultados eleitorais e decretou o renascer da guerra civil para tomar o poder pela força. Os confrontos entre o Governo e a UNITA só cessariam após a morte de Jonas Savimbi. Entre 1992 e 2002, a guerra teve uma intensidade muito superior do que no período do monopartidarismo. Mais de 500 mil pessoas morreram e mais de um milhão foram deslocadas internamente. Dois terços do país chegou a estar sob ocupação da UNITA, ao que se seguiu uma grande destruição de infra-estruturas de Angola, desactivação de toda a Administração Pública e produção económica.
Aos jovens e às futuras gerações vende-se a ideia de um Savimbi "quase santo” que foi morto em combate, omitindo-se deliberadamente todo o percurso errático do líder da UNITA, marcado por alianças com o colonialismo português, com o regime boer da Africa do Sul e pelo retorno à guerra depois das eleições de 1992.
No que toca à imagem de Jonas Savimbi, o desafio será sempre o de ver reconhecido o trabalho ideológico e político feito com a criação da UNITA e da sua transformação no que é hoje e, ao mesmo tempo a aceitação dos inúmeros erros cometidos por Savimbi, entre os quais, o mais grave, a destruição do país na tentativa de alcançar o poder. A paz só foi possível com a sua morte e esta é uma realidade indesmentível e não o caracteriza como um defensor da democracia. Num percurso de tantos anos há obviamente facetas e etapas que agora se procuram omitir ou até dar uma nova versão como são os casos dos seus discursos inflamados contra os adversários, a sua apologia ao tribalismo e o modo sanguinário como se livrou de opositores internos.
A UNITA precisa de vender essa imagem vencedora e ganhadora de Jonas Savimbi para continuar a ter a sua figura como o centro unificador do partido e aquele cuja vida dá sentido e propósito de milhares de angolanos que acreditaram na conquista ao poder pela armas. Depois de anos a fio a acreditar que a rebelião armada lhes levaria ao poder em Luanda, o maior partido da oposição precisa de manter as suas bases unidas ao ideal de JMS, sem assumir a derrota militar sofrida, nem admitir o erro histórico da opção. Pelo contrário, transformaram ambas num sacrifício pela democracia em Angola.
O facto de, no momento mais frágil do MPLA, a UNITA não ter conseguido nas últimas eleições capitalizar o voto da insatisfação com a governação, a ponto de não ter ganho as eleições, e o facto da abstenção ter atingido o maior número pode ser um indicador de que o impacto do passado de guerra e da imagem de JMS sobre as gerações mais velhas.
Permitir que a UNITA faça à vontade, sem oposição nem contraditório, todo o branqueamento da imagem de Savimbi junto dos jovens e das gerações do futuro é algo que, sem dúvidas, o MPLA vai pagar caro.
À medida que o tempo nos vai distanciando do fim da guerra, menos impacto terá qualquer justificação com essas consequências. Mesmo assim, um dia alguém vai se fartar desse branqueamento e vai revelar aos jovens os discursos inflamados com apelo à morte de outros angolanos ou as decisões militares que já depois das eleições multipartidárias empurraram milhares de jovens para uma nova guerra, de novas mortes, mutilações e destruição de bens e infra-estruturas que hoje estão a ser reerguidas.
Ante os "gritos dos maus” por quê se calam as instituições do Estado, os "bons” e os prejudicados por Jonas Malheiro Savimbi e que se mantêm na UNITA?
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